Postagens

Mostrando postagens de março, 2023

"UMA ONDA SEM FIM"

Imagem
Uma senhora, acompanhada da neta, fazia compras no supermercado. Ia pondo no carrinho apenas o essencial, o que constava na curta lista. Sem que a avó percebesse, a menina pegou um lindo bolo confeitado para inclui-lo nas compras. Quando chegaram ao caixa, a senhora então reparou no bolo. - Minha filha, não temos dinheiro suficiente para levar esse bolo. Por favor, coloque-o de volta na prateleira. Outro dia, quando tivermos condições, eu compro um bolo.  - Foi o que a senhora disse na última vez - lembrou a neta, franzindo a testa.  A contragosto, devolveu o bolo, a avó pagou as compras e se dirigiram à saída. Nesse meio tempo, um rapaz, que presenciara a cena, foi à prateleira, pegou aquele bolo, pagou por ele e correu. Alcançou a senhora e entregou o bolo à garota. - Desculpe - disse a avó - mas não podemos aceitar. O senhor não tem obrigação nenhuma de fazer isto. - Na verdade, tenho - explicou o moço, sorrindo - No dia em que completei sete anos de idade, estava com mi

O MUNDO AO REDOR

Imagem
Muito tempo atrás, num pequeno vilarejo, havia um lugar conhecido como "a casa dos mil espelhos". Dizia-se que era uma casa mágica e, por vezes, alguns curiosos lá entravam para se certificar dessa "magia".  Um desses curiosos foi um senhor muito simpático e risonho que, ao penetrar na tal casa, viu a si mesmo em incontáveis duplicatas, em qualquer direção que se virasse. Deparou-se, surpreso, com inumeráveis rostos gentis sorrindo para ele. Não tinha como ele vislumbrar outra coisa, já que ele também sorria o tempo inteiro. Ao voltar para casa, pensava, encantado: "Que lugar maravilhoso! Desejo voltar muitas vezes!" Um outro curioso, um sujeito amargo e ranzinza, entrou na afamada casa logo após o nosso amigo feliz. Pouco sociável, ele raramente sorria, reclamava de tudo e falava mal de todos. Era a chatice em pessoa. No interior da casa, tomou um susto: mil olhares hostis o fitavam, quase desafiando-o. Devolveu-lhes a afronta com um semblante

CONQUISTANDO DOIS AMORES

Imagem
Lucinha era uma menina linda, mas vivia triste e apática. Mal respondia quando lhe dirigiam palavra. Ao observar outras crianças a conversar e brincar com seus pais, mais retraída ficava. Por vezes, encontravam a coitadinha chorando descontroladamente. Vivia a se lamentar, alegando que todos tinham pai, somente ela não. Por mais que a mãe tentasse lhe explicar que seu pai deixara o lar antes do nascimento dela, Lucinha não conseguia entender. Ela queria ter um pai para amar. Alguém que a abraçasse quando estivesse com medo. Um pai que ela pudesse correr ao encontro quando voltasse da escola. Vivia o tempo quase inteiro melancólica pensando nisso e, à noite, sonhava com o pai imaginário. Certo dia, viu a mãe chegar do trabalho acompanhada de um colega, que viera buscar um livro emprestado. Ao vê-lo, Lucinha correu e o abraçou com tanto ímpeto que o deixou agradavelmente surpreso. - Mamãe, você trouxe o meu pai! Você trouxe o meu pai!  A mãe, desconcertada, não sabia o que di

DESPEDIDA DE UM VERDADEIRO AMOR

Imagem
Estavam casados há dezenove anos e tinham um filho. Numa manhã de primavera, o marido pediu o divórcio. Confessou já ter outra mulher com quem combinava melhor e desejava viver. Ao ver a esposa chocada, contava com um escândalo; mas em vez disso ela simplesmente lhe pediu para aguardar trinta dias, antes que se separassem de vez. E completou: - Como condição para você me deixar definitivamente, peço que, durante estes trinta dias, a cada manhã, você me carregue nos braços, do quarto para a sala de jantar. "Bom, o que são trinta dias para quem estará livre depois?", pensou ele.  - Está bem. De acordo - respondeu. Assim, no dia seguinte, ele a carregou para a sala de jantar e saiu para o trabalho. Quando retornou à noite, ela estava sentada à mesa, escrevendo. O mesmo se sucedeu nos dias seguintes. No vigésimo-primeiro dia, enquanto a carregava, ela recostou a cabeça no ombro dele. O delicado gesto o fez recordar dos primeiros dias de casado. Por um momento foi envo

INOCÊNCIA INCOLOR

Imagem
Sophia Benner, aos dois anos de idade, já alimentava um sonho: o de ser médica. Como recompensa por abandonar as fraldas, sua mãe a levou ao shopping, a fim de que a pequena escolhesse um presente. Durante uns vinte minutos a loirinha esquadrinhou com seus olhos azuis por entre as prateleiras das bonecas, porque era uma boneca o que ela queria. Ao encontrar a "sua" boneca, não pensou duas vezes e dela se apoderou - uma boneca negra de jaleco branco.  Muito contente, Sophia seguiu para o caixa com a mãe, onde foram surpreendidas com a interpelação da funcionária: - Me desculpem, mas estão indo a uma festa de aniversário? - Não - respondeu simplesmente a menininha. - Então certamente você escolheu esta boneca para uma amiga, não foi? Óbvio que a garotinha não entendeu o porquê da indagação; então sua mãe explicou que era um presente para a própria filha. A moça do caixa ficou perplexa. Virou-se para Sophia e perguntou: - Minha querida, você tem certeza de que quer e

"NINGUÉM DEVERIA RECEBER ESTA CONDECORAÇÃO"

Imagem
Numa bela manhã de outono, a tenente-coronel do exército dos EUA Marilyn Wills estava em uma sala de conferências, preparando-se para uma palestra, quando algo inesperado e terrível aconteceu. Um enorme estrondo deitou abaixo a parede por trás dela. Marilyn olhou para cima e viu uma bola de fogo, no momento em que o impacto da explosão a lançou para o outro lado da sala. Em toda parte, fumaça e pessoas gritando. Seus joelhos estavam ensanguentados, mas ela conseguiu engatinhar até à porta mais próxima. Com a manga do suéter na boca a fim de poder respirar, saiu rastejando em meio ao fumaceiro. De repente alguém agarrou a parte de trás de sua calça. Era uma funcionária de seu escritório. Marilyn ofereceu a outra manga do suéter para ela e a ajudou a sair dali, ambas se arrastando. A certa altura, a outra mulher disse que não podia ir mais adiante; suas meias de náilon estavam derretendo em suas pernas. - Ah, sim, você pode! - respondeu a tenente - Suba nas minhas costas! E a

PERDEDOR E VENCEDOR

Imagem
Eram dois andarilhos. O nome de um deles era Perdedor e o do outro, Vencedor. Ambos seguiam por uma trilha. Em dado momento, Vencedor esbarrou acidentalmente no colega. - Me desculpe, amigo; descuido meu. Não vai se repetir. Mais adiante, Perdedor tropeçou numa pedra e berrou: - Maldita pedra! Por tua causa tropecei! Chegaram a uma fazenda e conseguiram trabalho. Vencedor dá um duro danado, procurando fazer o seu melhor. Já Perdedor inventa sempre uma desculpa pra não fazer isto ou aquilo e, quando faz, é reclamando.  Ao deparar-se com algum contratempo, Vencedor para, reflete um pouco e consegue um jeito de resolver. Perdedor dá voltas sem fim, esquenta a cabeça e não sai do lugar. Vencedor às vezes até comete um erro de vez em quando, mas tenta outra vez e não entrega os pontos. Ao dar uma burrada, Perdedor diz: "deixa pra lá; ninguém está vendo mesmo...", e desiste fácil. Enquanto Vencedor está focado no que faz, Perdedor se distrai o tempo todo; por isso se acidenta, arru

NÃO É MOLE

Imagem
Houve um tempo em que o Céu estava tão próximo da Terra que bastava esticar o braço para tocá-lo. Os humanos faziam isso constantemente e colhiam bocados do Céu a fim de comê-lo, porque era muito saboroso. Onde quer que o indivíduo estivesse, podia simplesmente desejar que o Céu fosse doce, salgado ou temperado e assim acontecia; pegava pedaços do Céu à vontade e satisfazia a todos os seus desejos, simplesmente estendendo a mão para o alto. Mas essa regalia não durou muito tempo. As pessoas começaram a pegar porções tão grandes que não davam conta de comê-las; pedaços do Céu ficavam espalhados por toda parte, terminando por azedar e estragar, dando ao solo um aspecto feio e fedorento. Então o Céu se cansou de ser assim ultrajado e resolveu subir bem alto, onde está até hoje, longe do alcance dos humanos. Foi a partir daí que eles tiveram de arar a terra, sobre a qual antes desperdiçavam o alimento celeste. Agora precisavam aproveitar o solo ao máximo, para dele obter o alim

ROUPA SUJA NÃO SE LAVA NA RUA

Imagem
Uma mulher estava na cozinha, preparando comida no fogão a lenha. Ao atiçar a fogueira, deixou cair um pouco de cinza sobre o cachorro que estava bem ao lado. O animal gritou, dizendo: - Por favor, senhora, mais cuidado! A mulher ficou boquiaberta - "Um cão falante! Até parecia mentira!" Assustada, resolveu bater-lhe com a colher de pau. Mas o pau protestou: - Não faça isso! O cachorro não me fez mal. Não quero machucá-lo! A senhora já não sabia o que fazer e resolveu contar tudo aquilo às vizinhas. Mas, quando estava prestes a passar pela porta, esta, com um vozeirão zangado, a advertiu: - Não saia; reflita sobre o que aconteceu. Os segredos da nossa casa não devem ser espalhados por aí. A mulher atentou para o conselho da porta. Reconheceu que tudo havia começado com seu descuido com o cachorro. Então mudou de ideia. Chamou o cachorro, pediu-lhe desculpas e repartiu o almoço com ele. Parece que, para certas pessoas, é preferível fofocar e fazer intrigas que proc

AS LISTRAS PRETAS

Imagem
Um jovem e virtuoso príncipe chamado Rama teve sua esposa, Sita, sequestrada pelo perverso Ravana. Auxiliado por ursos e macacos, Rama se empenhou em construir uma ponte até à ilha de Lanka, onde sua amada era mantida prisioneira. Os ursos carregavam pesados troncos e os macacos traziam pedras. Não sobrava muito trabalho para os esquilos. Pequeninos, sem grandes habilidades, eles apenas conseguiam pôr alguns grãos de areia na ponte que ia tomando forma. Faziam assim: molhavam-se no rio e em seguida rolavam na margem. Com grãos de areia grudados no pelo, eles corriam até à ponte e sacudiam a areia sobre a construção. Os outros bichos desatavam a rir com a cena, menosprezando o esforço dos esquilos, fazendo com que estes se sentissem humilhados. Um dos macacos resolveu contar a Rama sobre os esquilos. Esperava que ele também fizesse chacota deles.  Quando Rama chegou ao local, observou como os esquilos se esforçavam em seu pequeno trabalho, enquanto todos à sua volta haviam p

UMA LIÇÃO PARA HILDA

Imagem
Uma menina rica e metida chamada Hilda diariamente destratava uma mocinha que vendia doces de porta em porta. Logo que a via, falava: - Que vergonha ficar andando com essa bandejinha de doces, hein? Vai-te daqui! - berrava. A pobre adolescente se punha pálida e trêmula, sem nada responder. Entrementes, a dona da casa, mãe de Hilda, ao ouvir aquilo, saía ao encontro da jovem humilhada e dizia com bondade: - Que doces tão lindos! Quem os fez?  A mocinha, reanimada, respondia contente: - Foi a mamãe! A generosa senhora então comprava-lhe alguns doces. Em seguida, ao chegar em casa, procurava corrigir a filha: - Hilda, cuidado. Não brinque com o destino. Nunca expulse o necessitado que nos procura. Quem sabe o que sucederá amanhã? Aqueles que socorremos poderão se tornar nossos benfeitores. Hilda apenas resmungava. À noite, ao jantar, o pai fazia coro às advertências da esposa: - Nunca zombe de ninguém, minha filha. Mesmo o trabalho mais humilde é sempre respeitável e digno. Ce

NA BASE DO GRITO

Imagem
Dizem que no Pacífico Sul, mais especificamente nas Ilhas Salomão, os nativos descobriram um jeito inusitado de derrubar árvores. Se algum tronco é grosso demais para ser abatido a machadadas, eles o derrubam no grito. Isso mesmo que você leu: no grito. Os lenhadores se reúnem ao redor da árvore durante 33 dias seguidos, três vezes ao dia, pela manhã, ao meio-dia e ao entardecer. Gritam toda sorte de xingamentos e agressões verbais. Ao final do período, a árvore seca, morre e cai por terra - sozinha. Segundo os nativos, o "ritual" nunca falha e a explicação é que, ao gritar, eles matam o espírito da árvore. Essa estranha técnica nos leva a pensar em como utilizamos nossa língua. Sim, pois tudo o que proferimos tem poder - para o bem ou para o mal. Será que temos noção dos distúrbios provocados em outra pessoa com nossas palavras ferinas?  Se os nativos das Ilhas Salomão descobriram que as árvores são sensíveis aos gritos, que dizer dos seres humanos? Com gritos e

ENGANANDO A SI MESMO

Imagem
Todos os dias, um jovem viúvo precisava sair a trabalho, deixando seu filho pequeno sozinho em casa. Uma tarde, quando ele ainda estava fora, um bando de arruaceiros ateou fogo à aldeia, destruindo muitas casas; mas quando ouviram os gritos de socorro do filho do viúvo, resolveram salvá-lo e raptá-lo, a fim de que não os delatasse. Ao voltar para casa, o homem se deparou com o cenário de destruição e entrou em pânico. Encontrando o corpo carbonizado de uma criança, julgou ser o seu filho e deixou-se prostar, chorando copiosamente. Depois mandou cremar o corpo e depositar as cinzas numa bela e pequena urna, que passou a carregar consigo a todo lugar. Alguns meses depois, não se sabe como, o garoto conseguiu escapar dos sequestradores e encontrou o caminho de casa. Chegou tarde da noite e bateu à porta. O pai, que ainda vivia deprimido com a perda do filho, perguntou: - Quem é? - Sou eu, pai! Abra a porta! Em seu perturbado estado de alma, convencido de que o filho estava mor

A GRANDE CHANCE DE ROQUE

Imagem
"Muitos anos atrás, quando tudo estava iniciando em minha vida, eu andava de porta em porta nos estabelecimentos procurando emprego. Como ninguém queria me contratar, então pensei: vou falar com o Roque.  Chegando à lanchonete dele, havia uma placa: PRECISA-SE DE ATENDENTE. Meus olhos brilharam de felicidade, pois naquele momento pensei ter encontrado minha chance. Tinha certeza de que o Roque conseguiria uma vaga pra mim. Chamei ele em um canto e falei:  - Amigo, preciso dessa vaga de atendente. Você sabe da minha situação. Vou me empenhar ao máximo, pode ter certeza. Roque olhou pra mim e respondeu: - Amigo, não me leve a mal, mas eu preciso de uma moça bonita e cheirosa pra atrair freguesia. Com lágrimas rolando pelo rosto, falei: - Tudo bem, meu amigo, sem problemas. Sucesso pra você. Decidi então me desfazer da minha bicicleta e com o dinheiro comprei balas, canetas e doces pra vender na praia. As coisas foram dando certo. Comprei uma banca, fiz faculdade, trabalh

TRANQUILIDADE É TUDO

Imagem
Certa vez, um camundongo da cidade grande foi visitar um primo que vivia no interior. Este era um pouco antipático e arrogante, mas tinha muita estima pelo primo e, assim, o recebeu muito bem, oferecendo-lhe o que tinha de melhor: feijão, toucinho, pão e queijo. Ao ver a comida, o primo da capital torceu o focinho: - Sinceramente, primo, não entendo como você consegue se acostumar com alimentos tão pobres, mesmo levando em conta que é difícil conseguir coisa que preste neste fim de mundo. Por isso te convido a vir comigo para a cidade. Você vai ver que lá é muito melhor. O caipira pensou um pouco e concordou em ir com o primo. Quando chegaram à cidade, já era noite. - Tenho certeza que vai gostar de tomar um refresco, depois de tão longa caminhada - disse o anfitrião, conduzindo-o à sala de jantar do casarão, onde encontraram os restos de um farto banquete - bolos, doces, geleias e muita carne. Mal começaram a comer quando ouviram rosnados e latidos. - Que barulho é esse? -

PERSISTÊNCIA

Imagem
Em ambos os lados de um rio, existiam duas tribos. A menor plantava e pescava com muito afinco, de maneira que passou a ter mais abundância e prosperidade que a tribo maior. Esta, com inveja, começou a hostilizar sua vizinha, declarando-lhe guerra. Indiferentes a esse conflito, dois jovens se enamoraram; o rapaz pertencia à tribo menor e a jovem, à maior. Cuidadosos, encontravam-se às escondidas, mas um dia foram descobertos por guerreiros da tribo dela. Eles pegaram o mancebo e o espancaram a ponto de deixá-lo quase morto. Depois levaram a jovem de volta à aldeia. O Conselho dos anciãos foi convocado para o julgamento da pobre moça. Acusaram-na de traição, pois, como as tribos estavam em guerra, eles acreditavam que ela passava segredos da tribo para a outra, por meio do rapaz. Quiseram sentenciá-la à morte, mas depois tiveram pena por ela ser ainda muito jovem. Chamaram então o xamã, que a transformou numa linda flor. Quanto ao rapaz, foi socorrido por seus guerreiros e s

O "ÚNICO NETO"

Imagem
Uma senhora setentona chegou ao consultório sozinha. Ainda estava em pleno vigor, apesar de já ter a aparência naturalmente isenta do frescor da juventude; em seu lugar, apresentava um olhar apagado e quase sem brilho. O médico não deixou de notar a melancolia de sua paciente e quis saber o que a deixava assim. -  Até parece que a senhora perdeu o prazer pela vida - comentou. Ela então confidenciou: "Bom, doutor, eu sou viúva já há alguns anos e moro só. Tive cinco filhos. Todos passaram pela universidade e exercem profissões com carreiras exitosas. Quatro deles casaram e tiveram filhos. A mais nova, porém, deu prioridade aos seus sonhos acadêmicos e hoje mora num pequeno apartamento e tem um cão por companheiro - que, aliás, é tratado por ela como uma criança. Toda noite, ansioso, ele fica à porta, esperando a dona chegar. Abraçam-se, brincam e fazem juntos as refeições.  A princípio eu estranhava essa relação; mas com o tempo mudei de ideia, e explico por quê.  Como

SALVO BEM A TEMPO

Imagem
Certo homem, popularmente chamado de "pastor", realizava atos benevolentes de grandes proporções. Era conhecido por seu coração bondoso e sua cordialidade. Onde quer que estivesse, abraçava e beijava estranhos, perguntava seus nomes, procurava ser o mais simpático possível.  Sempre dizia: "Como é bom conhecer você! Quero saber tudo a seu respeito. Dê-me seu número; ligarei pra você em breve." Anotava os números em tiras de papel, guardanapos descartáveis ou cartões de visita e enfiava tudo nos bolsos da calça e do paletó. Quando as pessoas viam aquele enorme volume de papéis nos bolsos do pastor, ficavam se perguntando se ele realmente daria conta de tantas ligações.  Alguns achavam que, ao chegar em casa, ele jogaria toda a papelada no lixo. Mas os telefonemas aconteciam - por vezes, alguns minutos depois, horas mais tarde ou, em alguns casos, levava meses. Uma vez, durante um concerto, um estranho passou seu número ao pastor, foi para casa e esperou.

HORA DE CONFESSAR

Imagem
Reza a lenda que, numa aldeia indígena norte-americana, havia um estranho ritual cumprido pelos adultos. Um por um, saíam sorrateiramente da aldeia e seguiam por uma trilha até chegarem a um riacho, no meio da floresta. Sobre o riacho havia um tronco caído, já gasto pelos muitos pés que sobre ele tinham passado. Olhando em volta, após se certificar que ninguém estava por perto, o sujeito caminhava sobre o tronco. Agachando-se, olhava para o riacho e via o seu reflexo na água. Depois, sussurrando, começava a conversar com o riacho, contando-lhe os segredos mais profundos de seu íntimo. Isso o deixava aliviado e com um bem-estar que o preenchia por completo. Após essa "confissão", retornava à aldeia. Apesar de todos os adultos fazerem isso regularmente, ninguém comentava sobre o assunto. Ainda assim, todo mundo parecia saber que todo mundo fazia a mesma coisa. Um dia, duas crianças da aldeia encontraram a trilha na mata. Curiosas, percorreram-na e chegaram ao riacho

DEPOIMENTO DE UM EX-CRÍTICO

Imagem
"Quando jovem, eu era muito crítico. Me achava melhor que os demais. Quase sempre, ao conversar com meu pai, me punha a reclamar de alguém. Frequentemente me queixava de algum colega que havia me machucado com palavras grosseiras ou mentiras, ou que traíra minha confiança. Papai me aconselhava a ser mais brando e menos reclamão. Uma vez, quando comecei a ladainha das lamúrias, ele me perguntou se eu conhecia bem a pessoa que me ferira o orgulho. - Ah... é só um colega chato... nos vemos somente na escola.  - Por que você não procura saber um pouco mais a respeito desse colega de quem tanto reclama? - sugeriu ele. Então, um dia, fui à casa da minha professora para tirar uma dúvida sobre a última aula e a encontrei no portão, de saída. - Venha comigo - convidou-me - Vamos visitar uma senhora enferma. Como tinha muito tempo livre, concordei em acompanhá-la. Quando chegamos à casa, permaneci na sala enquanto a professora foi ao quarto da doente para entregar-lhe as bolachi

HONESTO A QUALQUER CUSTO

Imagem
Imagine que deixou seu carro estacionado numa rua qualquer e quando você volta encontra o seguinte bilhete no para-brisa: "Desculpe. Eu bati no seu carro. Desequilibrei da bicicleta. Aqui está o número do meu pai. Por favor, ligue." Isso aconteceu quando um menino de sete anos esbarrou com o guidão de sua bicicleta num veículo parado. Ao chegar em casa, o garoto foi logo falar com o pai. Estava bastante incomodado com o incidente. - Quanto custará o conserto, pai? Estou disposto a pagar com minha mesada. Após o acontecido ganhar notoriedade nas redes sociais, Benício (era esse o nome do menino) contou a repórteres que o entrevistaram: - Fiquei anos juntando um pouquinho de dinheiro e daí seria tudo aplicado em uma coisinha só. Fiquei preocupado, mas o bem sempre vai e volta. Quem fez questão de divulgar a ação do guri foi justamente o dono do veículo, que disse nem ter percebido o pequeno arranhão. - Apenas notei o simpático bilhete no para-brisa. Achei um gesto d

FAÇA HOJE

Imagem
Um rico fazendeiro foi queixar-se ao padre da paróquia local, dizendo: - Padre, as pessoas aqui não me veem com bons olhos, simplesmente porque não ajudo os necessitados, nem contribuo com as obras assistenciais da igreja. Mas todos sabem que, quando eu morrer, deixarei tudo o que tenho para a igreja e para os pobres; fiz questão de publicar o meu testamento.  O sacerdote respondeu contando uma estorinha: "Um dia o porco foi reclamar com a vaca: - Mas que coisa! Ninguém aqui me dá valor. No entanto os homens sabem que, com minha morte, eles aproveitarão tudo o que tenho - consumirão minha carne, usarão meus pelos para fazer pincéis e nem mesmo dispensarão os meus ossos! Ainda assim, todos me desprezam. O mesmo não acontece com você, que apenas vive dando leite... A vaca respondeu: - Talvez seja porque doo um pouco de mim, todos os dias, enquanto estou viva; já você só tem utilidade depois de morto..." O fazendeiro entendeu a lição da estória, agradeceu ao padre e

SOSSEGO INEGOCIÁVEL

Imagem
Dois homens viviam na mesma localidade, mas não da mesma forma: um era o mais rico sujeito do lugar. Passava muitas noites em claro, preocupado com suas riquezas, bens e propriedades. Já o outro era absolutamente pobre: possuía quase nada e morava numa casa velha e insignificante, à porta da qual ele montara uma pequena oficina onde remendava roupas, sapatos, bolsas e maletas. Trabalho nunca lhe faltava e, pouco ou muito atarefado, estava sempre cantando, o tempo todo. Perto dali, em seu esplêndido palacete, o rico não compreendia como aquele vizinho pobre podia ser feliz, mesmo com uma vida tão simples e miserável. Então um dia mandou chamá-lo. − Vizinho, você tem ideia de quanto ganha num ano inteiro? O pobre coçou a cabeça. − É impossível calcular isso. São tantos domingos e feriados que as contas acumulam bastante... Mas o rico insistiu: − Ó homem, fale aí algum valor próximo... − Bem... ganho mais ou menos o suficiente pra me alimentar todo dia. Não é muito, mas passar

QUANDO SE ABRE A BOCA DEMAIS...

Imagem
Uma tartaruga convivia com dois patos num pequeno lago e eram muito amigos. Só que a tartaruga era um tanto tagarela: adorava conversar até cansar, de maneira que os patos quase não conseguiam falar. Algum tempo depois, uma seca prolongada acabou esvaziando o lago. Os patos viram que não podiam continuar morando ali e resolveram voar para outra região, mas não sem antes se despedirem da amiga. - Oh, não! Não me deixem! - suplicou a tartaruga - Levem-me com vocês, senão eu morro!   - Mas você não sabe voar! Como é que poderíamos levá-la?   - Mas eu quero ir com vocês! - insistiu. - Bom... acho que tem um jeito - disse um dos patos - É o seguinte: cada um de nós vai morder a extremidade de uma vara e você morde no meio. Assim poderemos te carregar. Mas lembre-se de não abrir a boca enquanto estivermos lá em cima! - Podem deixar! Nem vou mexer a boca! - prometeu alegremente a tartaruga.  Então assim fizeram. A tartaruga era um pouco pesada, mas seus amigos a carregaram de boa

LIÇÃO DO SAL

Imagem
Muito tempo atrás, viveu um sábio cuja legião de discípulos era enorme. Um deles, certo dia, o procurou, visivelmente angustiado. - Mestre, estou sofrendo muito. Já não vejo solução para os problemas que me atormentam. Preciso de sua ajuda. - Pois bem, filho, venha à cozinha comigo. Já na cozinha, o mestre pediu ao discípulo que pegasse a saleira, ao mesmo tempo em que enchia um copo com água.  - Meu jovem, coloque um punhado de sal neste copo e misture bem. Em seguida, beba com um só gole. O discípulo obedeceu, ainda que um pouco contrariado. - E então? ­Qual o gosto? - indagou o sábio. - Ruim, muito ruim! - respondeu o mancebo, fazendo um trejeito horrível.  - Certo. Agora vamos até à lagoa. E traga a saleira. À beira da lagoa, o mestre falou: - Jogue um punhado de sal na água. Depois tome um gole. Ao agachar-se, porém, o jovem bebeu muitos goles e não somente um, pois a água estava deveras refrescante.  - E agora? Sentiu o gosto do sal?  - De maneira nenhuma! Esta água m

RECEBENDO DE VOLTA

Imagem
No tempo da vaca magra, uma tartaruga pegou o dinheiro que tinha economizado, foi na venda e comprou um saco de milho. Quando voltava para casa, viu, a certa altura, um tronco de árvore atravessado no caminho. Como não podia passar por cima dele, atirou o saco de milho para o outro lado e depois foi dar a volta. Enquanto dava a volta, ouviu um grito: — Oba! Achei um saco de milho! Era um lagarto que estava bem perto de onde o caíra o saco de milho. A tartaruga protestou: — Não, senhor! Esse milho é meu! Comprei-o com minhas economias e vou levá-lo para casa! O lagarto não quis saber de conversa e, pondo o saco às costas, retrucou: — Achado não é roubado! Achei, portanto vou levar! E saiu em disparada.  A pobre tartaruga ficou muito zangada, mas não pôde alcançar o lagarto. Teve de voltar para casa com as patas abanando. No dia seguinte, faminta, saiu pra ver se encontrava algo para comer. Foi quando ela viu um buraco e, saindo de dentro dele, uma cauda esverdeada e suculent