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Mostrando postagens de julho, 2023

JULGAMENTO SEM FUNDAMENTO

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Certo dia, um camponês perdeu o seu machado. Ele chamou a mulher e os filhos para ajudá-lo a procurar a ferramenta em todos os cantos da casa e arredores, mas não a encontraram. Então, no dia seguinte, ao ver seu vizinho passando em frente à sua casa, cismou que ele havia roubado o machado. Começou a achar que o vizinho caminhava como um ladrão, falava como um ladrão e se parecia com um ladrão. Ressentido, alimentou tais pensamentos por dias. Depois, não suportando mais, resolveu cobrar explicações do vizinho. Mas quando ia saindo de casa, deparou-se com seu irmão que vinha chegando e, com ele, o machado.  Só então ele se lembrou de que havia emprestado o objeto ao irmão, fazia um bom tempo. Riu-se de si mesmo.  Coincidentemente, o mesmo vizinho ia passando por ali naquele instante; mas, aos olhos do camponês, ele já não caminhava como ladrão, não falava como ladrão e nem parecia um ladrão. Quando nos deixamos dominar pela raiva, tendemos a ficar cegos para a realidade. É p

INSENSÍVEL COMO UM TRONCO

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Um homem estava sentado em seu barco pescando quando começou a sentir sono. Resolveu deitar um pouco e tirar uma soneca. Adormeceu.  Acordou abruptamente com um forte balanço do barco, que virou com tudo. Jogado para dentro da água, quase se afogou.  Assim que conseguiu subir à superfície, deparou-se com um rapaz em um barco motorizado, rindo dele. Entendeu que o sujeito tinha batido de propósito em seu barco, só para vê-lo cair na água. Imediatamente começou a xingá-lo. O cara simplesmente acionou o motor e foi embora, dando ainda mais gargalhadas. O homem ainda estava desconcertado com o acontecido quando um outro barco surgiu e seu ocupante o resgatou. O socorrido contou ao homem o que tinha acontecido. Cheio de raiva, não parava de vomitar todo tipo de palavrões contra o rapaz. O senhor que o resgatou disse: - Ao subir à superfície, o que teria feito se tivesse se deparado com um grande tronco de árvore ao invés de um malandro num barco? - Ora, eu não teria feito nada;

"TUDO É PARA O MELHOR!"

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Entre os conselheiros de certo rei, havia um ancião que costumava dizer: "Tudo acontece para o melhor; nada é por acaso." O rei achava ridícula essa colocação do conselheiro, preferindo acreditar que tudo o que acontecia era casual e sem nenhum significado. Então, só por isso, ele quis destituir o ancião de seu cargo, mas não encontrou nenhuma justificativa para isso, pois o homem era íntegro e leal. Ele teria que ser pego pelas próprias palavras, na primeira oportunidade.  A oportunidade veio num dia em que o rei saiu para caçar com seus homens e ordenou ao conselheiro que os acompanhasse.  Quando estavam na floresta, começou a ventar muito forte. De repente, um galho de árvore se partiu, atingindo o rei e fazendo um corte em sua testa. O rei, indignado, disse ao ancião: - Veja o que me aconteceu! Só falta você dizer que isso foi para o melhor! - Não se preocupe, majestade; nada acontece por acaso, tudo é para o melhor! Furioso com a resposta, o rei ordenou que c

"JOGUE A VACA!"

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Certo homem e sua esposa moravam num isolado casebre de madeira, perto de um grande penhasco. Eram muito pobres, cultivavam uma pequena horta e seu bem mais valioso era uma vaca. Ela lhes proporcionava o leite que eles vendiam para os donos de sítios vizinhos; mas não ganhavam muito com isso. Um dia, ficaram sabendo que haveria na vila uma palestra com um homem muito sábio, que prometia fazer qualquer um ficar rico. O casal se interessou e foi ao evento, chegando bem cedo ao local. O palestrante falou muitas palavras difíceis e eles não entenderam quase nada. Ao término do discurso, o homem foi até o sábio. Contou sobre sua vida, suas dificuldades, a pobreza em que vivia com a esposa e as poucas coisas que possuíam. Breve pausa. O sábio disse: - Tenho um conselho, mas você tem que prometer que irá segui-lo. - Sim, senhor, estou disposto a fazê-lo! Qualquer coisa pra mudar de vida! - Pois bem: jogue sua vaca no penhasco! - Mas como assim?! Se faço isso a vaca morre e será o

RELAXE!

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Um homem e sua família residiam num sítio e decidiram se mudar para uma cidade vizinha. Eram muito pobres e dispunham somente de uma carroça para fazer a mudança, de sorte que levaram alguns dias para transportar seus pertences, em várias idas e vindas. Na derradeira viagem, o homem voltou à antiga casa para buscar os seus três cães. Durante todo o tempo, os animais observaram aquele vaivém sem compreender o que estava acontecendo. Seu dono os colocou na carroça e nela os amarrou, a fim de que não fugissem.  O cão mais velho era o mais inquieto; demonstrava não estar gostando daquilo. Tentou de todas as formas roer a corda para escapar e, vendo que não conseguia, pulou da carroça e foi sendo arrastado estrada afora, latindo o tempo todo em protesto. O segundo cão também rosnava insatisfeito, mas não estava desesperado a ponto de tentar fugir: passou a viagem inteira andando de um lado para o outro, dentro da carroça, sem sossegar. O cão mais novo, por sua vez, percebeu que

SAINDO DO FOCO

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Havia um cabritinho cujos chifres graúdos o faziam pensar que ele era adulto o bastante para cuidar de si mesmo. Então, numa tarde, enquanto o rebanho retornava para o curral, o filhote continuou perambulando pela mata, apesar dos rogos de sua mãe.  O sol estava se pondo quando o pequeno cabrito se deu conta de que estava sozinho. Daí estremeceu ao lembrar do lobo. Começou a correr descontroladamente pelo campo, arrependido de sua ousadia, clamando por sua mãe. Mas, no meio do caminho, deparou-se com o temido predador. "E agora?", pensou o pobrezinho, sabendo que tinha pouca ou nenhuma esperança. - Por favor, sr. Lobo - disse, trêmulo - Sei que está prestes a me devorar. Mas poderia me conceder um último desejo? Gostaria que tocasse uma música para mim, pois quero dançar e me divertir antes da minha morte. O Lobo gostou da ideia. - Pensando bem, seria ótimo um pouco de música antes da minha refeição! Certo! E, tomando sua flauta, começou uma melodia alegre e o cab

A "INADAPTÁVEL"

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Aos oito anos, Gillian Lynne (1926-2018) simplesmente não conseguia ficar quieta na escola: levantava-se com frequência, se distraía e não acompanhava as lições.  Seus professores preocupavam-se, gritavam com ela, castigavam-na, mas pouco adiantava. A menina nunca ficava atenta. E quando chegava em casa era castigada também pela mãe, como se a punição escolar fosse insuficiente.  Um dia a direção da escola mandou chamar a mãe de Gillian. Os professores advertiram-na sobre a possibilidade de alguma doença ou distúrbio na menina, dado o seu comportamento e dificuldade no aprendizado. Aconselharam-na a procurar um especialista. Por espaço de meia hora, a mãe de Gillian conversou com o médico sobre os problemas que a filha vinha apresentando na escola. O profissional então se dirigiu à garota e disse:  - Gillian, eu ouvi todas as coisas que sua mãe me disse e preciso conversar a sós com ela. Espere aqui; voltamos daqui a pouco. Eles a deixaram sozinha na sala. Antes de sair, po

LIMITAÇÕES

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Um menino foi ao circo com o pai. Era a primeira vez que o circo se apresentava naquela pequena cidade e todos estavam muito animados. Depois de assistir ao espetáculo, o garoto estava maravilhado com todas as apresentações. Todavia, antes de sair dali, ele pediu ao pai para irem aos bastidores, pois queria ver o elefante mais de perto - o animal que o deixara mais encantado. Chegando ao local, o menino ficou intrigado: todos os animais estavam enjaulados, exceto o elefante, que estava com a pata amarrada a uma estaca no chão. - Pai, por que é que o elefante está preso somente por esta estaca e esta corda? Ele não é o maior e mais forte dos animais? Qualquer um pode ver que ele escaparia facilmente se quisesse! - Acontece, meu filho, que quando pequeno ele foi amarrado desse jeito e naquela época ele realmente não tinha força para escapar. O tempo passou, ele cresceu, mas até hoje ele acredita que não consegue e que a estaca e a corda são mais fortes que ele. Aquilo em que

REPERCUSSÃO DO NEGATIVO

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Um viúvo chegou em casa após o dia de trabalho e encontrou os filhos sentados à mesa do jantar, à sua espera. Contudo, o que deveria ser um momento de tranquilidade deu lugar a um relato desagradável. - No início da tarde ocorreu um incêndio criminoso no centro da cidade - começou a narrar o chefe da casa - O autor do crime foi muito esperto.  E se pôs a contar, nos mínimos detalhes, cada passo do sujeito. Enumerou todos os materiais que o elemento usara para atear o fogo. Descreveu cenas terríveis da tragédia e o fazia gesticulando, como se estivesse reconstituindo toda a ocorrência.  Terminada a refeição, o homem foi à missa, deixando os filhos em casa. Menos de uma hora depois, recebeu uma chamada urgente. Alguma coisa acontecera à sua casa. Estando ainda distante, percebeu, com horror, que a casa estava em chamas. Altas labaredas consumiam aceleradamente toda a querida edificação. A primeira e imediata reação do homem foi de raiva e revolta. Começou a praguejar contra t

QUE LIÇÃO DEIXAREMOS?

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Quando o assunto é "homem", é comum, numa roda de amigas, que se comentem os defeitos deles e como elas poderiam ser mais felizes sem eles. Foi assim numa tarde, na academia, onde se encontravam uma quarentona e outras mulheres mais jovens. Uma delas lhe confessou: - Sabe, invejo sua felicidade. Você vive transpirando alegria, de tal forma que chega a ser contagiante. Qual seu segredo, afinal? - Ah, devo tudo ao meu marido - respondeu simplesmente.  - Como assim? - indagou outra amiga com uma pontinha de malícia - Ele te acompanha a todo lugar e te incentiva? O que ele faz? - Como você pode ser tão feliz com seu marido? - alfinetou outra. Sempre sucinta, a quarentona respondeu: - Bem, meu marido morreu. Todas ficaram brevemente em silêncio, mas suas cabeças fervilhavam. Talvez tenham pensado algo do tipo: "Claro que agora ela é feliz. Ele deve ter sido um carrasco e um canalha e hoje ela está livre dele." Uma delas rompeu o silêncio: - Mas como assim, am

A VERDADEIRA ESSÊNCIA

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Em 1957, um grupo de monges precisou transferir um Buda de argila de um mosteiro situado em Bangkok, Tailândia. A edificação iria dar lugar a uma estrada. Quando o guindaste começou a içar a estátua, o peso era tal que ela começou a rachar. Receoso, o monge principal mandou suspender os trabalhos. A estátua foi recolocada em seu lugar e, como começou a chover, cobriram-na com uma lona. À noite, ainda preocupado, o monge foi verificar se a estátua estava seca. Ao observar a rachadura à luz da lanterna, um estranho reflexo brilhante chamou-lhe a atenção.  Aproximando-se ainda mais, verificou que havia mesmo alguma coisa brilhando por baixo da argila. Munido de um cinzel e um martelo, começou a remover a argila. Horas depois, ele mal podia acreditar no que estava vendo: um extraordinário Buda de ouro maciço! Em 1765, quando os birmaneses estavam para invadir a Tailândia (à época Sião), os monges revestiram com argila o Buda de ouro, com o fim de protegê-lo de um eventual saque

ARROGÂNCIA

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O diálogo abaixo é verídico; ocorreu em outubro de 1995 entre um navio da Marinha Americana e autoridades costeiras do Canadá, próximo ao litoral de Newfoundland. Os americanos começaram suavemente: - Favor alterar seu curso 15 graus para o norte, a fim de evitar colisão com nosso navio. De imediato, a resposta: - Recomendo mudar o seu curso 15 graus para o sul. O oficial americano, já irritado, retrucou: - Aqui é o capitão de um navio da Marinha Americana! Repito, mude o seu curso! O interlocutor canadense insistiu: - Não. Mude o seu curso atual. Os ânimos se exaltaram. O capitão americano berrou ao microfone : - Este é o porta-aviões USS Lincoln, o segundo maior navio da frota dos EUA no Atlântico. Estamos acompanhados de três destróieres, três fragatas e numerosas embarcações de suporte. Exijo que mudem seu curso 15 graus para o norte ou então tomaremos contramedidas para garantir a segurança do navio! O lado canadense simplesmente respondeu: - Aqui é um farol, câmbio! C

LIBERDADE É TUDO

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Quando Gustavo nasceu, seu avô paterno presenteou sua mãe com um pequeno pássaro engaiolado. E explicou à nora: - Mantenha o pássaro num lugar em que seu canto seja ouvido, pois isso acalmará o bebê quando estiver agitado.  O avô estava certo. Por algumas horas a mãe deixava a gaiola no corredor, próximo ao quarto da criança, e percebia que ela fixava os olhos naquela direção sempre que o pássaro cantava. Com o tempo, Gustavo passou a sorrir ao escutar o canto da ave e gostava de observá-la. O avô e a mãe estavam contentes. Gustavo cresceu acostumado ao canto do pássaro e gostava de conversar com ele. Conversas de criança. Uma vez, quando o menino tinha quase quatro anos, tentou abrir a gaiola. Repreendido pela mãe, alegou, na sua inocência, que o passarinho queria sair. Uns dias depois, fez nova tentativa e chegou a abrir a portinhola, sendo repreendido desta vez pelo pai. Entristeceu-se. Em seu aniversário de seis anos, no momento em que apagava a vela do bolo, o desejo d

SEM O RABO

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Certo dia, ao passear pela floresta, uma raposa acabou caindo numa armadilha, contudo conseguiu escapar; só que perdeu sua bela cauda. "E agora?", pensou, aflita. "Estou com vergonha de andar por aí. Todo mundo vai rir de mim. Vou é me esconder..." E foi o que ela fez: passou vários dias entocada, sem coragem de se mostrar às outras raposas.  Mas depois ela teve uma ideia. Saiu da toca e foi à assembleia das raposas. Chegando lá, gritou: - Vejam, minhas amigas! Agora estou sem a cauda! Fiquei livre daquele fardo! Estou mais leve e bonita! Se quiserem ficar como eu, posso cortar os rabos de todas vocês! Que acham? Uma das ouvintes, presumivelmente a mais sensata, respondeu: - Amiga: se todas tivéssemos perdido as caudas, você estaria disposta a perder a tua? Há por aí muitas pessoas como a raposa sem rabo: não contentes com a própria desgraça, querem também o infortúnio dos outros! Fábula de Esopo (620-564 a.C.) - adaptação de Marcos Aguiar. 

DOCE CORAÇÃO DE MENINO

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Após quase doze anos de espera, finalmente Marta nasceu - linda, tranquila e muito esperta. Sua mãe, ainda jovem, lidava com os desafios naturais das primeiras semanas da recém-nascida. Feliz por conseguir amamentar fartamente a pequena Marta, era observada com frequência por um par de olhos sempre muito atentos: seu filho mais velho, Marcos, de onze anos. Marcos ficava calado a maior parte do tempo, mas zelava pela irmã com carinho e estava sempre perto das duas. Aproximando-se o dia das mães, o tio de Marcos lhe perguntou: - E aí, Marcos? Já fez um cartão pra sua mãe? Já pensou num presente? O menino, cabisbaixo, respondeu: - Sabe, tio, o presente que minha mãe precisa e que eu queria dar, eu não posso comprar. O tio ficou curioso. - E o que ela precisa, Marcos? O que você gostaria de dar a ela? - Tio, sabe aqueles pijamas que têm botões na frente? É isso que eu queria dar. E sabe por quê? Minha mãe está amamentando minha irmã. Ela mama de duas em duas horas. Toda vez que

ÓTICA INFANTIL

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Aos dez anos, um garoto viajou ao interior junto com a família de um amigo. Nascido e criado na cidade grande, já havia viajado para outros lugares com seus pais, porém apenas em breves passagens. Só que dessa vez foi diferente. O convite era pra que ele passasse uns dias na casa da avó do amigo, numa cidadezinha sem grandes atrativos. Pela primeira vez ele teve a oportunidade de experimentar a rotina de uma vida no interior. Ao retornar, a alegria em seus olhos era patente. Seu sorriso, largo e espontâneo. Obviamente aquele passeio lhe fizera muito bem.  Nos dias seguintes ao seu regresso, todas as vezes que tinha chance, o garoto comentava sobre a maravilha daquele lugar e que, se pudesse, voltaria quantas vezes fosse convidado. Contudo ele mesmo não sabia explicar a razão de tanto entusiasmo. Passados mais alguns dias, o menino abordou a mãe com certa aflição. - Mãe, acho que já sei porque estou tão encantado com essa viagem que fiz àquele lugar. É que tudo ali é muito s

PRECIPITAÇÃO

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Uma pulga que residia no pelo de um cachorro sentiu, certo dia, um agradável cheiro de lã. - Que será isso? - indagou - Vou dar um salto pra ver. Verificou então que o seu hospedeiro adormecera encostado a um carneiro. "Isso é exatamente o que preciso", pensou a pulga. "Uma pelagem mais espessa, mais macia e, com certeza, mais segura. Não correria o risco de ser encontrada pelas patas ou dentes do cachorro, uma ameaça constante e que não me deixa dormir direito..." Então, sem mais pensar, a pulga pegou suas trouxas e mudou-se definitivamente de casa, saltando para o pelo do carneiro.  A lã, no entanto, era tão espessa que era difícil percorrer por ela. A pulga foi tentanto atravessá-la, separando pacientemente os fios, procurando uma trilha menos difícil. Chegou, enfim, às raízes dos pelos, mas eles estavam muito juntos, praticamente encostados uns nos outros. A pulga não encontrou sequer um furinho por meio do qual pudesse alcançar a pele do animal. Can

MUMURU

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Maraí era uma jovem índia muito bela e que tinha imenso amor pela natureza. Passava os dias a brincar perto do lago, tornando-se a melhor amiga dos peixes, aves e outros animais. Às vezes, ao anoitecer, ficava a contemplar o surgimento da Lua e das estrelas. Nasceu-lhe, então, uma forte curiosidade: perguntou ao pai de onde vinham aqueles pontinhos brilhantes no céu. - É que Jacy, a Lua, ouve os desejos das moças e as transforma em estrelas - explicou ele. A partir dali, todas as noites, Maraí esperava por Jacy, almejando ser por ela conduzida aos céus e se tornar uma estrela. Mas o tempo passou e o sonho de Maraí não se concretizou. Certa noite ela resolveu sentar-se à beira do lago e ali aguardou a chegada de Jacy. Quando ela apareceu, exibiu seu reflexo na água; Maraí ficou encantada, achando que a Lua havia mergulhado. Quis então mergulhar também. Mas, ao fazer isso, a água a reteve, a pedido de Jacy, não permitindo que ela saísse. Os peixes e demais bichos suplicaram a

SEMENTES DA CORRUPÇÃO

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Um garoto chegou em casa e perguntou à mãe quanto ela lhe pagaria se ele tirasse um dez na prova. A proposta surpreendeu a senhora, acostumada a educar o filho com lucidez e bom senso. - Por que eu deveria lhe pagar por isso, meu filho?  - Ora, mãe... o pai do meu amigo vai pagar cem reais se ele tirar um dez na prova de inglês. - E você acha isso correto? - Ah, eu acho que cem reais dá pra comprar um monte de coisas... A mulher balançou a cabeça. - Filho, você acha correto o que esse pai está fazendo, pagando para o filho fazer o que é apenas a obrigação dele? O garoto respondeu que não sabia se era certo ou não; daí a mãe continuou: - Já ouviu falar em corrupção? - Sim. - E você acha direito uma pessoa cobrar para fazer a sua obrigação? - Não... - Estudar é sua obrigação, não é, filho? - Sim, é minha obrigação. - Pois bem. Teu pai e eu fazemos a nossa parte, que é te dar a oportunidade de aprender, pra que seja um homem instruído e útil à sociedade. Mas desejamos, acima d

EXTREMO SACRIFÍCIO MATERNO

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Em sete de dezembro de 1988, em Leninakan, Armênia, um intenso terremoto matou mais de vinte e cinco mil pessoas e devastou grande parte da região. Entre as vítimas, havia uma mulher de vinte e seis anos, Suzanna Petrosyan, que ficou soterrada com sua filhinha de apenas quatro anos. Suzanna, imobilizada, de costas, tinha acima de sua cabeça uma grande placa de concreto com cinquenta centímetros de espessura e um cano de água caído sobre um de seus ombros, que a impediam de se pôr em pé. O frio era rigoroso. A criança, agarrada à mãe, suplicou: - Mamãe, estou com sede. Por favor, mamãe. Suzanna conseguiu mexer um braço e alcançou um pote de geléia de framboesa, que caíra de um armário da cozinha. Mas o doce durou pouco e a criança continuou a lamentar. Percebendo que a filha estava cada vez mais fraca e gemia baixinho, Suzanna, desesperada, temeu que a coitadinha morresse de sede. Mas não havia nada para lhe dar, nem água, nem líquido algum. Foi quando se lembrou do próprio

SEMELHANTES

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Havia em Nova York, anos atrás, uma senhora cega que morava sozinha. Durante todo o inverno, ela permanecia dentro de casa a maior parte do tempo. Um dia, em fins de abril, a friagem amenizou e a senhora aspirou o perfume forte e estimulante da primavera. Ouviu o canto insistente de um passarinho lá fora, junto à sua janela, como que convidando-a a sair. Preparou-se, tomou a bengala e saiu. Voltou o rosto para o sol e sorriu, grata pelo seu calor, uma amostra do próximo verão. Caminhando tranquila pela rua, escutou a voz da vizinha a lhe perguntar se não desejava uma carona. - Não, obrigada - respondeu - Minhas pernas descansaram o inverno inteiro. As juntas precisam de lubrificação e um passeio a pé me fará muito bem. Ao chegar no calçadão ela esperou, como de costume, que alguém se aproximasse e permitisse que ela o acompanhasse, quando o sinal ficasse verde. Os minutos lhe pareceram uma eternidade. Ninguém surgia. Só escutava o barulho nervoso dos carros passando com rap

UM AMPLO AMOR

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Passando uma temporada em Aracaju, Sergipe, uma administradora de empresas resolveu visitar um abrigo de crianças. No momento em que foi segurar um quase imóvel bebê de dois meses, ouviu de uma das cuidadoras:   - Ah! Essa menina não sente nada. Ela teve paralisia cerebral. É quase como uma boneca. Alheia ao comentário, Carla acalentou a bebezinha e cantou um pouco para ela. Ao recolocá-la no berço, a pequena chorou. Era a primeira vez que isso acontecia.  Todo mundo do abrigo começou a falar:  - É sua filha! Naquele instante começava a jornada de Carla para conseguir o direito de adotar a criança que, com seu choro, a havia escolhido como mãe. "Tive todas as dificuldades possíveis para adotá-la e me questionavam se eu iria parar minha vida pra cuidar do bebê", desabafa Carla que, após muita burocracia, conseguiu adotar Marcela, que também é autista. Como em coração de mãe sempre cabe mais um, Carla adotou posteriormente Luana, de três anos, que possui Síndrome de

AMOR DO PASSADO

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Uma escritora tinha como hábito ler num jornal o chamado "Correio Sentimental", não com o propósito de encontrar um novo amor, pois era casada e feliz, mas simplesmente pelo fascínio por bilhetes românticos. Certo dia, um desses bilhetes lhe prendeu a atenção. Dizia:  "Henrietta. Lembra de termos namorado em 1938? Desde então eu nunca te esqueci. Por favor, me telefone. Irving." A curiosidade da escritora a inquietou: telefonou para Irving.  A voz que atendeu era sonora e madura. - Pois não? - Bom dia. Estou ligando em resposta a seu bilhete no jornal. Mas não sou a Henrietta. Apenas tive interesse em saber mais sobre a história de vocês. Irving então contou que, em 1938, ele conhecera Henrietta e se apaixonaram. A família dela, contudo, achava que ela era muito nova pra casar. Por isso, logo mandaram-na para a Europa, onde permaneceu durante anos e acabou casando com um rapaz que conhecera lá. - Também casei - continuou Irving - Mas estou viúvo há três

QUATRO ANOS VALIOSOS

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Uma questão desnecessária acabou chegando aos tribunais. Uma jovem, mãe de duas criancinhas, lutava pra que seu pedido de transplante fosse aprovado por seu convênio. Ao final da última gestação, fora detectado um grave comprometimento em seu fígado, inicialmente tratado por meio de uma sofisticada técnica de radiação, cujo resultado apenas agravou o quadro. Algo errado aconteceu durante o procedimento, lesando ainda mais o órgão. O diagnóstico final sentenciava a paciente a poucos meses de vida. Na batalha pelo direito ao transplante, havia vários fatores contra: a longa fila de espera, a indisponibilidade de um fígado compatível, os altos custos que o convênio não queria cobrir e, finalmente, a expectativa de vida estabelecida pelos médicos: no máximo, uns quatros anos, caso o transplante fosse realizado. Valeria a pena investir tanto numa paciente com pouco tempo de vida em detrimento de outra pessoa presumivelmente saudável? De que valeriam mais quatro anos de vida? Seu

PRECIOSOS PRESENTES

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Desde pequena, Ana demonstrava extremo carinho com bebês. Tinha um jeito especial de acalmá-los quando choravam. As amigas de sua mãe comentavam que ela, com certeza, se casaria e teria muitos filhos. Chegavam a descrevê-la com avental, fazendo biscoitos, rodeada de chocolates e guloseimas para as crianças, nos finais de semana. Ana cresceu, se casou e planejou ter filhos. Na primeira gravidez frustrada, telefonou, em desespero, para sua amiga Lia. Haviam crescido juntas e feito planos de se casarem com dois irmãos, morarem no mesmo bairro e terem seus bebês ao mesmo tempo. Só que elas acabaram se casando com homens que não se conheciam e foram residir em cidades muito distantes uma da outra. E, a cada aborto espontâneo, Ana telefonava para a amiga, que nem tinha coragem de contar que estava grávida.  Em quinze anos, Lia deu à luz a sete filhos. E comentava com Ana: - Queria ter o poder de fazê-la ter filhos e de ser mãe como eu. Após vários tratamentos infrutíferos, Ana op

SOLIDARIEDADE E GRATIDÃO

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Aconteceu numa noite, há mais de cinquenta anos, numa rodovia dos EUA.  Chovia bastante. O carro de uma senhora de repente enguiçou no meio da estrada e ela precisava desesperadamente de ajuda. Completamente molhada, ela começou a acenar para os carros que passavam. Demorou um pouco até que um deles parasse. O motorista era um rapaz. Gentilmente ele fez a senhora entrar no carro dele a fim de abrigar-se da chuva. Depois providenciou pra que o carro dela pudesse ser rebocado até uma oficina para os devidos reparos. E, finalmente, fretou um táxi para levar a senhora ao seu destino.  Ela parecia estar muito apressada e nervosa; mesmo assim, teve o cuidado de anotar o nome e o endereço completo do rapaz e lhe agradeceu muito. Uma semana depois, o moço foi surpreendido por alguém que bateu à porta de sua casa e lhe entregou um bilhete, cuidadosamente dobrado, com o seguinte conteúdo: "Muito obrigada por me ajudar na estrada naquela noite. A chuva não só tinha encharcado min

BONDOSO CORAÇÃO CANINO

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Uma cadela foi largada num ferro-velho e logo adotada por uma senhora que ali residia e trabalhava, juntando-se aos demais cães, gatos e galinhas que já viviam ali. Lilica, a recém-adotada, estava prenha e prestes a parir; os filhotes que nasceram foram doados, pouco depois do desmame. O coração daquela senhora era bem maior que suas parcas condições financeiras; era complicado, muitas vezes, conseguir comida para tantas bocas. Lilica então começou suas andanças diárias pelas redondezas. Saía geralmente ao cair da tarde, em direção ao centro da cidade, a uns dois quilômetros de casa, orientada por seu faro aguçado. Uma professora chamada Laura, vendo Lilica a revolver a lixeira próxima à sua casa, resolveu oferecer-lhe algo melhor que os restos do lixo. Laura ficou surpresa com a reação de Lilica ao receber a sacola com comida: apesar de muito faminta, ela comeu apenas um pouco; depois, abocanhando o restante da comida com sacola e tudo, foi embora. Isso se repetiu outras v

UMA VIDA POR OUTRA

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Era uma cela compartilhada por vários detentos, cada um com uma história mais trágica que a do outro. Um deles, reputado como o maioral e o pior de todos, agia como se a cela fosse seu domínio particular. Era temido e, por isso, obedecido. Então, um dia, chegou carne nova. Um sujeito acusado de homicídio. A vítima, uma garotinha. A recepção foi uma baita surra de todos os presos. O cara quase morreu. Depois de permanecer uns dias na enfermaria, ele retornou à cela e, para surpresa de todos, chamou-os de amigos. Consideraram-no maluco e idiota.  Aparentemente eles tinham razão. Raul agia mesmo como um tolo. Falava com as pombas que desciam ao pátio da prisão e soltava-as no ar, pedindo-lhes que dessem recados à sua filha. Contudo, com o passar do tempo, deram-se conta da inocência daquele homem. Não tinha a mesma índole que eles. Posteriormente conheceram a filha dele que viera visitá-lo - uma encantadora menina de nove anos. Ela contou sobre uma testemunha do crime, um home