DEPOIMENTO DE UM EX-CRÍTICO




"Quando jovem, eu era muito crítico. Me achava melhor que os demais.
Quase sempre, ao conversar com meu pai, me punha a reclamar de alguém. Frequentemente me queixava de algum colega que havia me machucado com palavras grosseiras ou mentiras, ou que traíra minha confiança. Papai me aconselhava a ser mais brando e menos reclamão.
Uma vez, quando comecei a ladainha das lamúrias, ele me perguntou se eu conhecia bem a pessoa que me ferira o orgulho.
- Ah... é só um colega chato... nos vemos somente na escola. 
- Por que você não procura saber um pouco mais a respeito desse colega de quem tanto reclama? - sugeriu ele.
Então, um dia, fui à casa da minha professora para tirar uma dúvida sobre a última aula e a encontrei no portão, de saída.
- Venha comigo - convidou-me - Vamos visitar uma senhora enferma.
Como tinha muito tempo livre, concordei em acompanhá-la.
Quando chegamos à casa, permaneci na sala enquanto a professora foi ao quarto da doente para entregar-lhe as bolachinhas que trouxera. Minutos depois, vi entrar um garoto, cabisbaixo. 
Era AQUELE colega.
Pude então entender porque ele era tão amargurado e, por vezes, reagia com mau humor. Vivia tenso, temeroso que sua mãe viesse a morrer, deixando-o sozinho.
Além de tudo, precisava, depois da escola, fazer compras, cozinhar e fazer a faxina. Vivia deveras sobrecarregado, com a enorme responsabilidade de uma casa sobre os ombros.
Não que isso fosse desculpa para sua rudeza; mas, me fez entender que, às vezes, quando alguém age assim, está silenciosamente pedindo ajuda e gemendo sob o fardo que carrega.
Ao me pôr no seu lugar, senti enorme vergonha por não ter sido mais tolerante. Questionei minha forma de julgar as pessoas por tão pouco, em nome do meu ego ferido.
Ao contar isso ao meu pai, ele me estimulou ao silêncio, quando não fosse capaz de ser compreensivo e justo."
Nunca deveríamos ser precipitados no julgar, tomando por base apenas o que estamos vendo superficialmente. É mais nobre quando nos colocamos no lugar do outro e nos indagamos sobre as razões que o levam a agir assim.
Que possamos reduzir o ego e enriquecer a alma.

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar. 

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