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Mostrando postagens de outubro, 2022

O QUE É MAIS VALIOSO?

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Um príncipe chinês se orgulhava de sua antiga e rara coleção de porcelana - doze pratos de grande beleza artística e decorativa. Certo dia, num momento de descuido, um serviçal deixou cair um dos pratos, que se quebrou completamente. Ao saber do sucedido, o príncipe de tal modo se enfureceu que sentenciou à morte o pobre servo. A notícia da condenação se espalhou por toda parte e o sentimento unânime era de revolta contra a impiedade do príncipe. Afinal, por mais inestimável que fosse a peça, era apenas um prato. Como comparar um artigo de porcelana a um servidor veterano e leal? Na véspera da execução, diante de toda a corte, apresentou-se um idoso sábio, que declarou ao príncipe: - Alteza, eu devolverei a igualdade à sua coleção de porcelana. Peço, por favor, que me tragam os pratos intactos e os pedaços do que se quebrou. Conhecedor da fama de sabedoria do ancião, o príncipe atendeu seu pedido. Sobre uma mesa, estenderam uma toalha branca e, sobre ela, os pratos e os cac

A ENCANTADORA DE BURROS

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O que tinha de bonita, Lulita tinha de malandra. Nascida no interior, foi certa vez a uma fazenda vizinha e pagou por um burro 500 reais. O antigo dono concordou em entregar-lhe o animal no dia seguinte. Quando Lulita voltou para buscar o bicho, o fazendeiro lhe disse: - Desculpa, moça, mas o burro morreu esta noite. - Tudo bem, não importa; vou levá-lo assim mesmo. - Mas pra quê?  - Vou fazer uma rifa com ele! - respondeu Lulita piscando o olho. - Está louca! Como vai sortear um burro morto? - Simples: não conto pra ninguém que ele está morto! Tempos depois o fazendeiro reencontrou Lulita. - E aí? Conseguiu rifar o burro? - Sim! Vendi 700 números a 20 reais cada e arrecadei quase 14.000! - E ninguém reclamou? - Apenas o vencedor. Então lhe devolvi os 20 reais. - Eita, menina esperta! - comentou o velho ao se despedir. O tempo passou e Lulita entrou na política. Foi eleita deputada, depois senadora e depois ministra; mas nunca abandonou a malandragem. Dinheiro público sem c

A MAIS BELA EDIFICAÇÃO

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Muito tempo atrás, um rei do Iêmen chamado Hiamir ordenou a um dos seus ministros:  - Desejo em breve visitar a cidade pobre e árida de Tiapur, mas você irá antes de mim. Assim que chegar lá, construa um amplo e magnífico palácio onde ficarei hospedado confortavelmente durante o verão. - Assim será feito, ó rei! No dia seguinte o ministro partiu, acompanhado de uma comitiva com numerosos camelos carregados de ouro e outras riquezas com as quais seria custeada a construção do palácio.  Ao chegar à cidade o ministro ficou estarrecido com o estado de abandono em que se achava o povo. Por toda parte havia crianças famintas e incontáveis indigentes desnutridos. Tal cenário de miséria e mortandade extrema enterneceu o coração do ministro. Ordenou a seus conservos que aplicassem toda a riqueza que trouxeram em abrigos para os desamparados, além de mantimentos, agasalhos, medicações e sementes para que a população pudesse trabalhar na lavoura. Em poucos meses, o aspecto de Tiapur m

O SEU BRILHO

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Um homem percebeu que uma de suas filhas não estava bem e lhe perguntou o que se passava. - Ah, pai... minhas amigas me criticam porque sou muito simples, não gosto de ostentação e por não estar tão preocupada quanto elas com a estética... sinto-me rejeitada... O pai respondeu com carinho:  - Filha, algumas pessoas preferem um bonito sol pintado num quadro, outras preferem um sol real, ainda que esteja coberto pelas nuvens. Qual é o sol que você prefere? Ela pensou um instante. - O sol real. - Ótimo. Mesmo que as pessoas não acreditem no seu sol, ele brilha. Você não depende da aprovação dos outros para ter luz própria. Não tenha medo da crítica alheia; tenha medo de perder a sua luz! Nunca se deixe sequestrar pela opinião dos outros; se deixar, irá sempre sofrer, pois então seu desejo mais ardente será se "encaixar" na vida de alguém, como um pé tentando se ajustar a um sapato apertado. O que os outros pensam ou deixam de pensar sobre você não pode intensificar o

VIVER E MORRER COM HONRA

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Acusado pelo Tribunal dos Heliastas de não reconhecer os deuses da cidade e de corromper os jovens com seus ensinos nobres, o septuagenário sábio Sócrates (470-399 a.C.) foi aprisionado por 40 dias. Obviamente se tratava de uma condenação injusta, mas o filósofo reagiu a isso com tranquilidade e sem resistência.  Seus discípulos, porém, não aceitaram tão facilmente a situação e chegaram a elaborar um plano de fuga para o mestre. Arranjaram tudo: suborno de guardas, rota de fuga e um navio. A única dificuldade estava em convencer Sócrates a escapar. - Se me provarem por argumentos racionais que devo fugir, fugirei - foi a resposta dele. - Mestre, viver é o mais importante! - exclamaram entusiasmados. Ouviram isto como resposta:  - O que mais importa é viver honestamente, sem cometer injustiças, nem mesmo em retribuição a uma injustiça recebida. Mais importante que simplesmente viver é viver com dignidade, sem ter a alma manchada pelos delitos. Assim ninguém, nem mesmo sua fa

CULPA DOS PORCOS

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Certa vez, ocorreu um incêndio num bosque onde havia alguns porcos que acabaram assados pelo fogo. Os homens, que até então só comiam carne crua, experimentaram os suínos assados e gostaram muito. A partir daí, toda vez que queriam comer carne assada, tocavam fogo na mata. No entanto, a coisa nem sempre funcionava direito: às vezes os porcos ficavam queimados demais ou parcialmente crus. Os homens culpavam os porcos: - São esses porcos indisciplinados! Eles se espalham apavorados ao invés de permanecerem juntos!  Haviam construído um sistema altamente complexo de incêndio a florestas, com profissionais cuidando de todos os detalhes - uns designados para acender o fogo, outros para reunir os porcos, especialistas em vento, lenhadores e bombeiros. Mas os porcos eram sempre os únicos a serem responsabilizados quando não dava certo. Um dia, um dos incendiadores resolveu opinar: - Essa questão não é difícil de ser resolvida; só precisamos simplesmente degolar os porcos, limpá-lo

JUSTIÇA!

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Certa manhã, numa universidade, quando o professor de Direito entrou na sala, a primeira coisa que fez foi perguntar o nome a um aluno que estava sentado na primeira fila. - Meu nome é Juan, senhor. - Retire-se da sala e fique no pátio até segunda ordem! - gritou o professor. Todos os alunos ficaram chocados; Juan muito mais. Levantou-se rapidamente, recolheu suas coisas e saiu.  Um silêncio perturbador tomou conta do recinto, mas era evidente que todos estavam indignados. O professor, agora sereno, iniciou a aula: - Para que servem as leis? Timidamente, começaram a arriscar respostas: - Para que haja ordem na sociedade... - Não! - retrucou o professor. - Para que sejam cumpridas... - Não! - Para que as pessoas erradas paguem por seus atos... - Não! Será que ninguém sabe responder a esta pergunta? - Para que haja justiça - falou uma garota lá atrás.  - Até que enfim! Isso: para que haja justiça! E agora, para que serve a justiça? - indagou o mestre, agora com tom mais gross

A INUTILIDADE DA ARROGÂNCIA

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Num voo da British Airways entre Johanesburgo e Londres, uma cinquentona branca sentou-se ao lado de um jovem mulato. Visivelmente perturbada, chamou a comissária de bordo. - Qual o problema, senhora?  - Mas você não está vendo? Vocês me colocaram ao lado de um negro. Eu exijo outro assento! - Por favor, acalme-se. Me parece que todos os lugares do vôo já estão ocupados, mas vou conferir. Um momento, por gentileza, e já volto.  Alguns minutos depois a comissária retornou. - Senhora: como eu suspeitava, não há nenhum lugar vago na classe econômica. Conversei com o comandante e ele me confirmou que também não há mais lugar na classe executiva. Entretanto, ainda temos um assento na primeira classe. - Muito bem, ótimo! Já fico longe deste negro! A comissária continuou: - É absolutamente inédito o fato de a Companhia conceder um assento de primeira classe a alguém da classe econômica. Contudo, dadas as circunstâncias, o comandante considerou que é constrangedor um passageiro ser

O MELHOR LUGAR DO MUNDO

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Uma caravana viajava há dias pelo deserto quando finalmente acabou toda reserva de água. Estavam todos desesperados mas prosseguiram. Mais adiante, encontraram um velho poço e foram conferir se ainda havia água. Fizeram descer um balde, mas a corda inexplicavelmente arrebentou. Na segunda e terceira tentativas aconteceu o mesmo. Um deles então decidiu descer pendurado numa corda, mas não voltou. Outros dois que desceram em seguida também não retornaram.  Sobrara apenas uma corda. - Eu irei desta vez! - disse um quarto, reputado como o mais sábio entre eles. Alcançando o fundo do poço, o sábio se deparou com um monstro horripilante, que se dizia o guardião da água. - Agora você também é meu prisioneiro e só terá sua vida poupada se responder corretamente à minha pergunta! - Pois pergunte! - retrucou o sábio com inesperada calma. - De todos os lugares do mundo, qual é o melhor? O sábio refletiu: "Se eu disser que o melhor lugar é a minha terra, estarei desprezando a mora

O MAIS IMPORTANTE

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Numa época muito antiga, uma mulher pobre com uma criança ao colo vagava pela floresta à procura de comida. Passando por uma caverna, ouviu uma voz: - Entre e pegue tudo o que desejar. Não resistindo à curiosidade, a mulher entrou na gruta e ficou admirada com a luminosidade lá dentro. Avançando ainda mais para o interior, a mulher esperava outra vez pela voz misteriosa, que não demorou muito: - Pegue tudo o que quiser, mas não esqueça o principal. Outra coisa: depois que sair, a entrada da caverna se fechará para sempre e você nunca mais poderá voltar. Portanto aproveite a oportunidade mas, repito, não esqueça o principal! A mulher então se deparou com uma pilha enorme de tesouros de todos os formatos e tamanhos. Fascinada, colocou a criança no chão e se pôs a recolher tantas joias quanto pôde,  enchendo seu avental. "Vou sair e rapidamente despejar estas joias; em seguida volto pra pegar mais!", pensou. Obcecada nesse pensamento, correu para fora e esvaziou o av

"A VIAGEM É CURTA"

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Uma idosa entrou num ônibus e sentou. Numa parada próxima, uma jovem gordinha e mal-humorada entrou e desabou abruptamente ao lado da velhinha, com um monte de sacolas.  A anciã, calada estava, calada ficou. - Desculpe; - disse a moça - mas por que a senhora não reclamou comigo? A velha, sorrindo, respondeu: - Não preciso ser rude ou discutir sobre algo tão insignificante, já que minha viagem ao seu lado é tão curta; vou descer na próxima parada... A maioria das pessoas não raciocina como essa senhora. Acham que compensa passar a vida toda em inimizades, ataques e intrigas. Não se apercebem que a vida pode ser tão curta que lhes deixará sem tempo para a paz. Todos devemos compreender que nossos dias são tão breves, que obscurecê-los com brigas, discussões inúteis, ciúmes, mágoas e ressentimentos é pura perda de energia. Alguém partiu seu coração? Traíram e humilharam você? Te insultaram sem motivo? Te prejudicaram de alguma forma? Fique calmo, ignore, releve, perdoe. Sua jo

DANDO O QUE SE TEM

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Uma jornalista chinesa foi enviada a uma aldeia a fim de fazer uma matéria sobre os camponeses, sendo recebida por uma humilde família (uma mulher e três filhas) com a qual pernoitou. Possuíam somente duas galinhas e todos os dias a mãe trocava dois ovos por um pouco de arroz, farinha, óleo e verduras. Era evidente que não tinham condições de alimentar um hóspede, de maneira que a jornalista preparou-se mentalmente para passar fome enquanto permanecesse na pequena moradia com paredes feitas de barro e teto forrado com palha. A dona da casa lhe mostrou uma prancha de madeira - a cama que ela partilharia naquela noite com as meninas de sete, cinco e dois de idade. As crianças ficaram empolgadas com a hóspede, abriam a bolsa dela, tiravam tudo de dentro e a crivavam de perguntas.  Nisso a mãe gritou: - Hora do jantar! As meninas arrastaram a nova amiga até à cozinha, que se deixou conduzir um pouco sem jeito. As pequenas deram gritinhos de alegria com o que viram; já a jornali

MÚTUA GRATIDÃO

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  Jim, um salva-vidas, estava em seu posto quando avistou uma senhora em perigo. Nadou até ela e a socorreu, carregando-a até o posto onde acionou uma ambulância para levá-la ao hospital. Soube mais tarde que o nome da mulher era Victoria.  Ela ficou deveras agradecida pelo salvamento e passou a visitar Jim no trabalho dele de vez em quando, levando-lhe pizza. Jim retribuía com frequentes telefonemas, nascendo assim uma forte amizade entre eles. Certo dia, ao retornar de uma viagem, Jim ligou para a amiga, mas quem atendeu foi uma jovem que se identificou como Bárbara. - Perdão, Jim, mas minha tia faleceu há uma semana, vítima de um derrame. Moro em outra cidade e vim resolver algumas pendências dela. Sei o seu nome porque minha tia me contou tudo sobre vocês dois. - É realmente uma pena. Sim, sua tia e eu fomos grandes amigos. Sinto muito pela perda. O tempo passou. Uma tarde, na praia, aconteceu uma pequena confusão seguida de homicídio, onde acabou sobrando para Jim, que na verdade

ENTERRO DIFERENTE

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Numa escola primária do estado de Michigan, EUA, uma professora propôs a seus alunos a seguinte atividade: - Quero que cada um preencha uma folha e descreva algo que não consegue fazer. Me entreguem seus papéis em 5 minutos. Ao conferir as tarefas, a professora leu, entre outras frases: "Não consigo chutar a bola de futebol além da segunda base." "Não consigo fazer divisões longas com mais de três números." "Não consigo fazer com que a Debbie goste de mim." "Não consigo fazer dez flexões." "Não consigo comer um biscoito só." "Não consigo dormir antes das nove da noite." "Não consigo escrever uma redação com quarenta linhas." Depois de ler tudo (não em voz alta), dobrou cuidadosamente cada folha, colocando-as dentro de uma caixa de sapatos. - Muito bem, queridos! - disse ela, colocando a caixa debaixo do braço - Venham comigo! Ainda sem entender, os alunos a seguiram. Atravessaram o corredor, passando em f

CAINDO E APRENDENDO

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Um feiticeiro africano saiu pela floresta numa expedição em companhia de um aprendiz. Embora bem mais velho, o feiticeiro caminhava agilmente e com passo firme, enquanto o aprendiz tropeçava e escorregava a todo instante; e, a cada tombo, vomitava praguejos e palavrões, cuspia no chão com raiva e tentava acompanhar o mestre que já ia lá na frente. Após longa caminhada, chegaram a um lugar sagrado, numa clareira bem no meio da mata. Mas em vez de finalmente parar, o feiticeiro deu meia-volta e começou a retornar por onde veio, dando de cara com o discípulo desastrado que acabara de cair outra vez. - O senhor já está voltando? Mas como assim? O senhor nem me ensinou nada hoje! - Ensinei sim, mas parece que você não prestou atenção. Estou tentando lhe mostrar como se lida com os erros. - E como faço isso? - Veja como tomba! - explicou o feiticeiro - Ao invés de ficar amaldiçoando toda vez que tropeça, deveria descobrir por que caiu! Deslizes são desagradáveis e até às vezes in

PENSANDO NOS OUTROS

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Uma brasileira mudou-se para a Suécia e, em seu primeiro dia de trabalho, um colega foi buscá-la em casa com o carro dele e assim seguiram juntos até à empresa. Chegando lá ele conduziu o veículo ao estacionamento, que era enorme. Como chegaram cedo, havia poucos veículos estacionados, mas o rapaz posicionou o carro bem na entrada do portão, de maneira que ele e a colega percorreram a pé o pátio inteiro até alcançarem o escritório.  A mesma coisa aconteceu no segundo dia, no terceiro, no quarto e demais dias seguintes.  A novata ficou intrigada com aquilo e desprendeu a curiosidade: - Por que é que você deixa o carro tão distante, quando há tantas vagas disponíveis? Poderia muito bem estacionar o carro em frente ao nosso local de trabalho, não? O colega pareceu um pouco surpreso com a pergunta, mas respondeu: - Vou explicar. Como sempre chegamos cedo, temos tempo para caminhar, sem necessidade para pressa. Alguns colegas chegam quase em cima da hora e se tiverem que percorr

FAZENDO O POSSÍVEL

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Um homem saía para o trabalho todas as manhãs pegando quase sempre a mesma condução, no mesmo horário. Coincidentemente subia no mesmo ônibus, uma parada depois, uma idosa que sentava ao lado da janela. Durante o trajeto, ela tirava algo de dentro de um saquinho e jogava fora. Nas primeiras vezes o homem observava o gesto da anciã, mas não fazia caso; porém um dia, intrigado, resolveu sentar ao lado dela. - Me perdoe, mas o que a senhora fica atirando pela janela todos os dias? - Ah, são sementes!  - Sementes?  - Sim, sementes de flores! É que olho para fora e está tudo tão vazio e sem vida... queria poder viajar vendo flores por todo o caminho... - Mas, senhora, vejo suas sementes caindo sobre o asfalto ou no meio-fio, esmagadas por veículos ou transeuntes, engolidas por pássaros... acha que as sementes vão germinar desse jeito? - Sim, com certeza. Mesmo que algumas se percam, outras irão acabar brotando... eu faço o que está ao meu alcance. A natureza fará o resto! O home

DESAPEGO

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Uma vez, na Índia antiga, um homem fez um voto de pobreza. Após se desfazer de todos os seus bens, exceto somente duas peças de roupa, partiu para um mosteiro na região do Himalaia. Estava convencido de que nunca encontraria alguém tão desprendido quanto ele. Contudo, chegando ao mosteiro, soube de um guru, bastante idoso, conhecido como totalmente desapegado das coisas. Ao visitar o guru, o recém-chegado tomou um choque: em lugar de uma morada humilde, encontrou um suntuoso palácio, rodeado de extensas plantações e muita pompa e riquezas. - Mas que tipo de guru moraria num luxo como este? - indagou, perplexo. - Se procura o meu mestre, ele está ali no jardim, meditando - disse um serviçal. Foi recebido pelo idoso guru com um sorriso sincero e um convite para banhar-se, comer e descansar.  Após o banho, o visitante mudou de roupa e lavou a que tinha usado antes, pondo-a para secar no quarto em que estava hospedado.  Ainda achando tudo muito estranho, o hóspede retornou ao j

FARDOS

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Um homem caminhava vacilante pela estrada levando uma pedra numa mão e um tijolo na outra. Às costas, carregava um saco cheio de terra; em volta do peito, correntes penduradas; e sobre a cabeça, uma abóbora enorme. No meio do caminho encontrou outro homem, sentado à sombra de uma tamarineira, que lhe perguntou : - Ei, amigo, por que carrega esses pesos nas mãos? - É estranho, mas eu nunca havia me dado conta de estar segurando isto! E, assim dizendo, lançou fora a pedra e o tijolo. Com isso sentiu-se um pouco melhor. Mais adiante, outro andarilho o interpelou: - Bom dia, companheiro! Como consegue equilibrar o tempo todo essa abóbora? - Nossa... obrigado por perguntar, porque eu nem lembrava desse peso na cabeça! - respondeu o viajante, jogando a abóbora para um lado. Percebeu que agora raciocinava até melhor e caminhava com mais vontade. E assim, ao longo do trajeto, ele foi se desvencilhando de cada fardo, até se ver livre de todos eles.  Estivera tão entretido com os emp

OS ARROGANTES

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Certa vez, um alfinete e uma agulha se encontraram em uma cesta de costura e começaram a discutir, cada um se considerando melhor e mais importante que o outro: - Afinal, qual é mesmo a sua utilidade? - disse o alfinete à agulha - Você nem mesmo tem cabeça! - E você? De que te serve a cabeça se não tem olho? - retrucou a agulha. - Ora! E de que adianta seu olho se há sempre um fio dentro dele? - Pois fique sabendo que mesmo com um fio atravessando o meu olho, ainda posso fazer muito mais que você! O alfinete ia responder mas silenciou ao ver a dona da casa chegando; ela pegou a cesta de costura a fim de remendar um pequeno rasgo no tapete. Enfiou na agulha uma linha grossa e se pôs a costurar. De repente a linha se emaranhou, dando um nó cego. Irritada, a mulher deu um puxão violento que acabou rompendo o olho da agulha. Ela então amarrou outra linha na cabeça do alfinete e conseguiu dar os pontos finais; mas quando puxou o resto da linha, a cabeça do alfinete se desprendeu

O NOVO SENTINELA

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Com a morte do veterano guardião de um castelo, o oficial responsável pela segurança tratou de encontrar um substituto e para isso convocou todos os soldados para uma reunião. E disse: - Assumirá o posto aquele que resolver o problema que vou apresentar. Enquanto falava, colocou uma mesa no centro da enorme sala e, sobre ela, um vaso de porcelana muito rara com lindas e frescas flores brancas. - Este é o problema! - explicou. Todos ficaram olhando abobados o singelo cenário. Mas logo um deles se levantou e, sacando a espada, cortou o vaso ao meio com um só golpe, espalhando cacos, flores e terra. Fez uma reverência ao oficial e voltou a sentar-se. - Muito bem! Você será o novo guardião! - Mas, senhor! - disse um outro soldado - Não compreendemos o significado disso! - Simples: não importa quão aparentemente inofensivo ou belo seja um problema ou situação; se é de fato algo ruim, precisa ser eliminado. Um problema sempre será um problema! Seja um lindo relacionamento que esf

IRMÃO ESPECIAL

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Era véspera de Natal quando Paul foi presenteado por seu irmão com um automóvel. No fim da tarde, quando Paul saiu do escritório com seu carro novo, parou no sinal em frente a um terreno baldio, onde um garoto jogava bola. Ele parou de jogar e se aproximou do reluzente veículo, admirando-o. - Esse carro é seu, senhor? - Meu irmão me deu de Natal - respondeu Paul, sorrindo. O menino ficara boquiaberto. - Quer dizer que foi um presente de seu irmão e não lhe custou nada? - Pois é! Aposto que você desejaria ter um irmão como o meu, não é? A resposta do garoto desarmou Paul por completo: - Na verdade eu é que gostaria de ser um irmão como esse! Ainda espantado com a resposta e meio que sem jeito, Paul convidou-o a dar uma volta com o carro. - Oh, sim, eu adoraria! - respondeu o guri, todo contente. Depois de rodarem por um tempo, o garoto virou-se e falou: - Será que o senhor poderia passar em frente à minha casa? - Ah, claro, vamos! - respondeu Paul, achando que com isso o men

LENÇO AMARELO

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Um jovem aparentemente muito aflito e nervoso caminhava de um lado para outro dentro do trem no qual viajava. Outro passageiro, um homem bem mais velho, após observá-lo por muito tempo, chamou-o.  - Meu rapaz, por que estás tão inquieto? - Não adianta contar, pois o senhor não pode me ajudar.  Mesmo assim o homem insistiu: - Bem melhor é você desabafar; já estará ajudando a si mesmo. E além disso, talvez eu possa sim te ajudar de algum jeito. - Está bem, senhor; vou falar. Muito tempo atrás abandonei meu pai e fui morar longe, tentar uma vida independente, mas depois me arrependi. Resolvi voltar e então escrevi a ele, pedindo para me aceitar de volta e avisei que estaria neste trem. Se ele concordasse com meu retorno, que amarrasse um lenço amarelo em um galho bem alto da árvore que fica em frente à nossa casa, próxima à estação. Estou angustiado pois tenho receio de que não haja nenhum lenço na árvore.  - Fique tranquilo! - respondeu o senhor - Eu fico olhando por você. E

LIÇÕES DO LÁPIS

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Um menino, observando o avô escrevendo em um caderno, perguntou: - O senhor está escrevendo algo sobre mim, não é? - Sim, é sobre você - respondeu o avô sorrindo - No entanto, mais importante que as palavras que estou escrevendo é este lápis que estou usando. Espero que você seja como ele, quando crescer. O menino olhou para o lápis mas não viu nele nada de mais. Intrigado, comentou: - Mas esse lápis é igual a todos os que já vi. O que ele tem de especial? - Ah! Na realidade há pelo menos cinco coisas especiais neste lápis! E continuou: - Primeira coisa: assim como o lápis, você pode criar algo duradouro e memorável, mas nunca se esqueça de que existe alguém segurando o lápis;   Segunda: de vez em quando você vai ter que parar o que está escrevendo e usar um apontador. O lápis sofre com o processo, mas ao final ele se torna mais afiado e útil. Da mesma forma, suporte as adversidades da vida, porque elas farão de você uma pessoa mais forte e madura; Terceira: permita que se

CONSELHOS DA DONA CACILDA

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Dona Cacilda é uma senhora de 92 anos, baixinha e tão elegante que todo dia, logo cedo, já está bem vestida, penteada e até discretamente maquiada. Pouco tempo atrás ela se mudou para uma casa de repouso após perder o marido, com quem viveu 70 ditosos anos. Após esperar pacientemente por duas horas na sala de visitas, sorriu quando a atendente veio comunicar que seu quarto estava pronto. Enquanto dona Cacilda manobrava o andador em direção ao elevador, a atendente ia descrevendo o quarto para ela. - Não é muito grande, senhora, mas é arejado e muito agradável, com cortinas floridas enfeitando a janela e... - Ah, eu adoro cortinas assim! - interrompeu a nova inquilina, com o entusiasmo de uma criança que acabou de ganhar um cachorrinho. - Dona Cacilda, a senhora ainda nem viu seu quarto...  - Não importa; felicidade é algo que você pode decidir desde já. Se vou gostar ou não do meu quarto, não depende de como a mobília estará arrumada; vai depender de como eu crio minha expe

COMO AS FLORES DO JARDIM

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Um mancebo amargurado e triste foi à casa de um idoso sábio para desabafar. Encontrou-o logo na entrada, no jardim. - Mestre, como faço para não me aborrecer? Algumas pessoas falam demais, outras são ignorantes, outras indiferentes. Sinto ódio daquelas que mentem e sofro com as que caluniam. - Pois então, meu jovem, viva como as flores! - Viver como as flores? Como assim, mestre? - Repare estas aqui! - prosseguiu o ancião, apontando uns lírios que cresciam num canto - Elas nascem no esterco, entretanto são puras e perfumadas. Do adubo malcheiroso elas extraem o que lhes é útil e saudável, sem permitir que o azedume da terra altere o frescor de suas pétalas. É justo sentir pesar pelas próprias culpas, mas não é sábio permitir que os erros dos outros te importunem. Os defeitos deles são deles, não seus. E se não são seus, não há razão para aborrecer-se. Amadureça, rejeite todo mal que vem de fora; ele só te afeta se você deixar. Viver como as flores é isso. Será sempre um des

O "EMPURRÃOZINHO"

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Uma mulher, querendo encorajar seu jovem filho a tocar piano, o levou a um concerto do famoso Jan Paderewski (1860-1941). Quando já estavam sentados, a mãe avistou uma amiga em outra parte da plateia e foi até lá para cumprimentá-la.  Aproveitando a "oportunidade", o garoto saiu discretamente a fim de explorar os recantos do teatro. Seus passos curiosos o levaram a uma porta onde estava escrito: "proibida a entrada". Mas o menino não sabia ler; então entrou. O concerto estava prestes a começar e a mãe retornou ao seu lugar. Só aí descobriu que o filho não estava lá. Nisso as cortinas se abriram e luzes se concentraram sobre um enorme piano, bem no centro do palco. Foi quando a mulher tomou um choque: seu filho estava sentado ao teclado, inocentemente acertando as notas de uma canção infantil. Naquele momento, o grande Paderewski entrou. Foi até o piano e sussurrou ao ouvido do menino: "Não pare, continue tocando". Daí, debruçando-se sobre o peq

O BEM COMUM

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Havia no bosque uma cobra de duas cabeças que vivia brigando consigo mesma: quando uma cabeça queria comer, a outra disputava com ela a comida. Então as cabeças lutavam, mordendo-se mutuamente e se encharcando de sangue. No fim, as cabeças estavam machucadas e a cobra não conseguia comer nada. No alto de uma árvore, sua vizinha, a coruja, morria de rir com a patética cena. Um dia ela disse à cobra: - Amiga, ainda não percebeu que a comida que entra pelas duas bocas enche a mesma barriga? Não faz sentido as duas cabeças viverem em guerra uma contra a outra! A cobra, balançando ambas as cabeças, teve de concordar. Lembre-se que tudo aquilo que fizer, no final das contas, afeta quem está próximo a você - seus relacionamentos familiares e amorosos, amizades e, por que não dizer, sua comunidade, região ou país, ainda que a longo prazo.  Pois somos todos (ou pelo menos deveríamos ser) uma grande irmandade universal, onde todos são responsáveis pelo bem comum. Autoria desconhecida