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Mostrando postagens de abril, 2024

A ESCOLHA DE MERYL

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Em meados da década de 1970, uma jovem começou a participar de testes de elenco para o cinema. Uma de suas audições mais famosas foi para o remake de "King Kong" (1976). O diretor do filme, Dino De Laurentiis, teria comentado com o filho sobre a candidata: "Ela é feia. Por que você me trouxe essa coisa?" "O diretor não imaginava que eu tivesse estudado e me formado em italiano", recorda ela, anos depois. "Quando lhe respondi em italiano, ele me olhou como se tivesse levado um tiro!" O papel acabou ficando com outra garota, a então iniciante Jessica Lange. "Aquela opinião mal intencionada poderia ter destruído meus sonhos de me tornar atriz ou me forçado a me recompor e acreditar em mim mesma. Respirei fundo e disse: 'Lamento que o senhor me ache feia demais para o seu filme, mas a sua opinião é apenas uma entre milhares.'" A candidata rejeitada chama-se Meryl Louise Streep (1949-) que, hoje, é uma das recordistas do

UMA BOA MEDICINA

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Ao visitar o hospital, um menino conheceu uma garotinha doente. Ao entrar na enfermaria, ele teve uma vaga impressão de tristeza. Achou estranho. O médico lhe mostrara um grande armário cheio de remédios, pomadas e pílulas.  "Que coisa", pensava o garoto. "Se aqui impedem o mal de ir adiante, tudo devia parecer alegre e feliz. Por que estou sentindo tanta tristeza?" O médico lhe explicou como a doença insistia em entrar no corpo das pessoas. Que havia mil espécies de doenças, que usavam máscaras para que não pudessem ser reconhecidas e como era difícil manter a saúde naquele ambiente. Explicou ainda que era preciso estudar muito para desmascarar a doença, colocá-la pra fora e atrair a saúde. No entanto, ali no quarto da doentinha, o menino achou-a muito bonita, embora pálida, com os cabelos se esparramando pelo travesseiro. Ela lhe disse que não podia andar mas que não tinha muita importância, já que não tinha lugar algum para ir. Roberto, o garoto, lhe

O LEÃO ABOLICIONISTA

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Frederick Augustus Washington Bailey, ou simplesmente Frederick Douglass (1818-1895), nasceu como escravo numa fazenda no sul dos EUA. Pouco soube a respeito de sua mãe e nunca soube quem foi seu pai. Começou a trabalhar na lavoura aos seis anos. Aos oito, aprendeu a ler e escrever, descobrindo, pela primeira vez, a palavra "abolição" e seu significado. Desde que se conheceu por gente, Douglass jamais aceitou viver na condição de escravo. Várias vezes tentou fugir, em todas sendo recapturado e reconduzido à servidão, depois de severas punições. Aos vinte anos, finalmente, teve êxito na fuga, conseguindo chegar a um refúgio abolicionista, em Nova York. Casou e teve cinco filhos. Tornou-se posteriormente um ardoroso abolicionista, escritor e estadista, ficando conhecido como "o leão de Anacostia". Foi um dos mais eminentes afro-americanos de sua época e um dos mais influentes da história dos EUA, sobretudo durante a Guerra da Secessão e a subsequente aboli

VOCÊ, HOMICIDA?

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Seria capaz de cravar um punhal no coração de um ente querido? Tal pergunta talvez tenha te causado grande choque. Parece que ouço você respondendo, indignado: "Eu jamais faria isso, muito menos a alguém que eu amo!" Você pode estar certo e no entanto estar se enganando ao mesmo tempo. Pois, cada vez que ofende alguém a quem ama, você comete um crime contra ele. Sempre que você fecha os ouvidos ao conselho de um ente amado; cada vez que some e deixa desesperada aquela pessoa querida; quando resolve fazer coisas erradas, magoando o coração de quem te quer bem; e sempre que retribui à bondade alheia com um gesto de ingratidão - você é, sim, um homicida, ainda que não carregue uma arma branca ou de fogo. Se já apunhalou pessoas com a indiferença, desdém e palavras amargas, então você é homicida de fato. Entenda que o desrespeito, a chantagem emocional, a manipulação psicológica e a infidelidade são protagonistas de incontáveis mortes lentas e doloridas. Sim, nossos a

CONFIANÇA AO EXTREMO

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Uma vez houve três dias de festa no céu. Todos os bichos estavam lá, menos a tartaruga, por andar muito devagar. Quando todo mundo estava na maior alegria, ela ainda ia no meio do caminho.  No último dia de festa, a garça se ofereceu para carregar a tartaruga ao céu e ela aceitou, muito agradecida. Mas a garça, com malícia, ia sempre perguntando à tartaruga se ela ainda avistava a Terra; quando ela finalmente disse que não conseguia mais avistar, a garça a largou no ar e a coitada foi descendo de ponta cabeça, gritando: - Afastem-se, pedras e rochas, senão vos quebrareis! As pedras e rochas se afastaram e a tartaruga se esborrachou ao solo, arrebentando-se toda. Seu casco se espatifou em muitos pedaços. E a pobrezinha chorou. O Criador ouviu o choro da tartaruga e mandou parar a festa no céu. Com muita pena dela, resolveu ajudá-la, juntando as partes do casco e colocando-o no lugar.  É por isso que hoje a tartaruga tem o casco em forma de remendos. Muito cuidado com qu

OUVIDOS DE OUVIR

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Índios americanos reunidos. De início, profundo silêncio entre os participantes. De repente, alguém abre a boca, brevemente. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois alguém expôs seus pensamentos - pensamentos essenciais para ele. Tais pensamentos são estranhos aos demais. É preciso tempo para assimilar o que o outro falou. Se alguém falar imediatamente depois, são duas as possibilidades. A primeira: quem falou está dizendo: "Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse suas palavras." A segunda possibilidade: "Ouvi o que você falou. Mas isso eu já havia pensado há muito tempo. Não é novidade pra mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou!" Em ambos os casos, está se chamando o outro de tolo, o que é pior que uma bofetada. O silêncio prolongado é um jeito de dizer: &quo

TOCAR O CÉU

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"Sempre fui destemida!" Definiu-se, com estas palavras, a norte-americana Jessica Cox (1983-). Psicóloga graduada pela Universidade do Arizona, pianista, faixa preta em taekwondo, piloto de avião e mergulhadora certificada - atividades absolutamente incomuns para uma mulher sem braços.  Não, você não leu errado! Jessica é a primeira piloto sem braços licenciada do mundo, bem como a primeira faixa preta sem braços na American Taekwondo Association! Ela nasceu sem braços devido a uma rara enfermidade genética. Ela chega a escrever vinte e cinco palavras por minuto utilizando os pés; seca os cabelos, se maqueia, troca suas lentes de contato e dirige automóveis. "Aviões não foram feitos para serem pilotados com os pés, mas não desisti enquanto não tirei minha licença", revela Jessica.  Há pouco tempo, em entrevista, Cox falou sobre o Projeto 2025, cujo objetivo é personalizar uma aeronave RV-10 para ser controlada com os pés. “É uma meta bastante ambiciosa p

DISFARCE DA VERDADE

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Uma vez, a Verdade resolveu visitar o sultão no palácio dele. Ela se envolveu com um véu claro e um vestido transparente e, ao passar pelos portões, foi barrada pelo sentinela.  - Quem é você? - Sou a Verdade e quero falar com o sultão. O chefe da guarda foi falar com o Sultão: - Senhor, uma mulher desconhecida e quase nua pede uma audiência.  - Qual o nome dela? - Chama-se Verdade! - Não a deixe entrar! Diga-lhe que vá embora imediatamente! A Verdade entristeceu-se com a resposta do sultão e foi embora. Uns dias depois, ela decidiu voltar. Desta vez, trajada como peregrina, com roupas simples e desgastadas. Ao ser interpelada pelo guarda, respondeu: - Sou a Verdade e quero falar com o sultão! Era o mesmo guarda da primeira vez e ele não a reconheceu. Quando comunicou ao sultão sobre a presença da viajante e que o nome dela era Verdade, recebeu a mesma ordem: - Já falei que não quero a Verdade aqui! Mande-a embora! A Verdade, desapontada, saiu mais uma vez. No dia seguinte

SUPERAÇÃO

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Num dia de pleno sol, uma mudinha foi plantada. Brotou timidamente mas cheia de vida e feliz, espreguiçando os braços e alongando-os dia a dia. De início, quase ninguém reparou naquele projeto de árvore que crescia e se cobria de folhas.  Quando, finalmente, tornou-se uma árvore robusta, seus ramos viraram galhos fortes e ela adquiriu a maioridade vegetal. Nos dias ensolarados, as pessoas buscavam alívio em sua sombra. As crianças se penduravam em seus braços, balançando-se pra lá e pra cá. E todos foram se acostumando àquela imponente e silenciosa amiga. Contudo, certa noite, um descontente resolveu dar cabo da árvore, irritado com as folhas do outono e as flores da primavera que caíam sem parar, atapetando o chão. Ele não queria o trabalho de limpar e varrer. Ao amanhecer, uma triste cena: galhos cortados, amontoados na calçada e um pedaço de tronco erguendo-se nu, constrangido. As crianças lamentaram e os adultos questionaram quem teria cometido tal maldade. E o tronco l

UMA NOVA AMIZADE

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Seu José era conhecido como um tipo desagradável, amargo a ponto de brigar com as crianças se elas ousassem colocar o pé no gramado dele. Não gostava que elas andassem de bicicleta em frente à sua casa. Era malquisto por quase todos que o conheciam. Dentre todos os meninos da vizinhança, havia um, Ricardo, que o odiava de verdade. É que um dia, aos nove anos, passando com sua bicicleta pela calçada do seu José, este o acertou com uma pá. Ricardo não deixou barato. Foi em casa, pegou uma bola de soprar, encheu-a com água suja e a jogou no vizinho. A polícia foi acionada. O policial encontrou Ricardo no jardim de sua própria casa. Quando o moleque achou que ia levar a maior bronca, o policial pousou a mão sobre seu ombro e disse:  - É isso aí, garoto. Gostei de ver. Acertou em cheio. O policial também não gostava do seu José. Os anos se passaram e Ricardo nunca mais passou em frente à casa do seu José. Num belo dia de primavera, Ricardo, já adulto, estava passeando próximo da

O PÉ DO AMOR

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Um rei foi visitar o seu jardim e ficou surpreso com o que viu. O lugar estava murcho: as árvores, quase todas, estavam secas e as flores não brotavam. Chamou imediatamente o jardineiro, que não soube explicar o porquê de o jardim estar daquele jeito. - Majestade, eu tenho irrigado e adubado bem. Dou o meu melhor aqui, mas realmente não sei o que está acontecendo.  O rei resolver conversar com as plantas. Para sua surpresa, elas responderam. O carvalho estava triste porque não era tão alto quanto o pinheiro; o pinheiro estava ressentido por não poder produzir uvas como a parreira; a parreira queria produzir flores como a roseira e esta ansiava ser tão alta e imponente quanto o carvalho. Somente o pé de amor estava belo e florido. Ele explicou ao rei:  - Como posso querer ser alguém além de mim mesmo? Simplesmente tento ser o melhor que posso a cada dia! Uma pessoa cheia de amor jamais busca competitividade, tampouco se deixa dominar pela inveja! Autoria desconhecida - adapt

A PROVA DO TEMPO

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No século VI a.C. viveu Creso, rei da Lídia, o homem mais rico de seu tempo. Ele governava com sabedoria, mas também com prepotência. No esplendor de sua glória, certa feita recebeu em seu palácio um dos sete sábios da Grécia - talvez, o maior de todos: Sólon. A fim de exibir todo o seu poder e sua riqueza, Creso mandou preparar um banquete esplendoroso. Depois, convidou Sólon a visitar as amplas salas dos tesouros reais repletas de pérolas, esmeraldas, diamantes, rubis, estátuas e peças de ouro. Creso, no entanto, observou que seu convidado passeava por entre aquela riqueza imensa com absoluta indiferença.  - Não vês, ó sábio, que sou o homem mais feliz do mundo com tantas riquezas? Sólon, respeitosamente, respondeu: - Meu rei: nunca ninguém poderá se considerar feliz antes de passar pela prova do tempo. É o tempo que se encarrega de dizer se fomos ou não felizes. Ele sempre nos surpreende com o inesperado. Não vos esqueçais, majestade, de que a felicidade está acima de tu

PERDAS E GANHOS

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Na capital paranaense, vive uma heroína que sabe bem o que são perdas e ganhos. Bonita, culta, ativa, advogada por profissão, aos 41 anos Maria Lúcia Saldanha sentiu os primeiros sintomas da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) - uma síndrome neurodegenerativa, progressiva e incurável. Começou com fraqueza e paralisia dos membros superiores e inferiores. Depois, incapacidade de falar, de deglutir e de respirar. Onze anos depois do diagnóstico, Maria Lúcia vive plenamente. Comanda a casa, a família e a vida somente com o olhar, graças a um programa especial de computador. Presa a uma cadeira de rodas, alimentada por sonda gástrica e ligada a um ventilador mecânico para poder respirar, Maria Lúcia segue com sua vida. Ao tomar consciência de sua condição, poderia ter simplesmente se entregado ao desenrolar drástico da enfermidade, mas ela optou por lutar. Queria ver o filho se formar na Marinha, mesmo sem poder abraçá-lo senão com o coração. Assim, Maria Lúcia continua lecionan

RESPONDENDO COM ESPERTEZA

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Nasrudin, conhecido orador, estava sendo esperado em uma cidade. Praticamente toda a população estava reunida na praça para vê-lo discursar. Ao subir o palanque, Nasrudin olhou para o povo e perguntou: - Você sabem sobre o que vou falar hoje? - Não! - responderam todos ao mesmo tempo.  - Se vocês não têm ideia sobre o que vim falar, então me retiro! - e foi embora. Tempos depois, conseguiram convencer Nasrudin a retornar à cidade para falar; mas combinaram que se ele fizesse novamente aquela pergunta, responderiam que sim. - E agora? Vocês sabem sobre o que vou falar hoje? - Sim! Nasrudin então retrucou: - Ora... se já sabem, não preciso falar nada! - e foi embora. Uns dias depois, trouxeram o homem de volta à cidade. Dessa vez combinaram que metade responderia "sim" e a outra metade "não". Ao ouvir a dupla resposta do povo, Nasrudin replicou: - Ótimo! Então a metade que sabe conta para a metade que não sabe!  Nasrudin partiu e nunca mais retornou àquela

DOMÍNIO PRÓPRIO

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Um urso esfomeado estava à procura de algo para comer quando se deparou com uma colmeia no tronco de uma árvore. Foi logo fuçando a colmeia, imaginando uma forma de pegar o mel, quando foi picado por uma abelha bem na ponta do nariz. O urso virou uma fera; soltou um urro tão barulhento que alvoroçou toda a colmeia. Daí começou a dar patadas muito fortes na árvore, o que deixou as abelhas ainda mais assustadas. De repente, todas saíram da colmeia e começaram a ferroar o urso que, sem alternativa, teve de fugir, todo inchado de picadas e urrando de dor. Desenvolva o autocontrole. Não se deixe irritar facilmente por uma provocação, por menor que ela seja. Fábula de Esopo (620-564 a.C.) - adaptação de Marcos Aguiar. 

"O BOM, O DOLOROSO E O INESQUECÍVEL"

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Quando ele tinha cinco anos, sua mãe se despediu dele, na rua. Ela não queria, não sabia como, nem podia cuidar dele. Recordando a intensidade daquele último momento com a mãe, lembra perfeitamente da fisionomia dela, suas roupas e seus lábios escarlates.  A partir de então, percorreria um longo caminho sobre pedras, pontes e ruas suburbanas. Nas ruas ele cresceu e aprendeu "o bom, o doloroso e o inesquecível". Contrariando o pensamento corrente de que "as feridas cicatrizam com o tempo”, ele diz que não, que "há feridas que nunca mais serão suturadas e que ficarão abertas e latejantes até à morte". Thomas não tinha horário, nem pais para forçar, nem mãe para ordenar, diferentemente de muitos contemporâneos da mesma faixa etária. Contando estrelas ou encostando o nariz na vitrine de algum restaurante, invejava inocententemente a sorte dos outros, os desafios que não teve e as obrigações que lhe faltaram. Um juiz de paz disse-lhe certa vez que não sa

DIGNIDADE EM PRIMEIRO LUGAR

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A holandesa Janny Brandes-Brilleslijper (1916-2003), sobrevivente do Holocausto, narrou em suas memórias que, chegando ao campo de Birkenau, foi colocada em quarentena, dentro de um galpão, junto a outras mulheres de diversas nacionalidades além da sua: russas, italianas, norueguesas e dinamarquesas. Mas foram as francesas que lhe proporcionaram algo muito positivo.  Naquele local desumano, em que os nazistas desejavam simplesmente acabar com a dignidade das pessoas, Janny presenciou algumas daquelas mulheres pegando um pedaço de vidro espelhado e um pequeno pente com três dentes. Com isso, elas penteavam as sobrancelhas. Depois, prendiam à cabeça pedaços de pano e tornavam a se olhar naquele espelho improvisado para conferir se ainda estavam minimamente elegantes. Em meio àquele caos, essas mulheres que recorriam a tal precário procedimento de embelezamento, ocultando a cabeça totalmente raspada, reafirmavam sua obstinação em não desistir de sua dignidade e não ceder à pre

DESPEDIDA

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"Vida enfadonha: adeus. Não vejo mais motivos pra insistir. Tudo à minha volta é entediante e perdi o interesse em lutar e a vontade de vencer. Todos estão ocupados com seus problemas e ninguém me dá atenção. Suplico que me ouçam ao menos por um momento, mas sou ignorado. Nunca me senti tão sozinho. Meu coração é um solo no qual só eu piso e que ninguém se interessa em conhecer. Está difícil seguir. Não sei mais quem sou. Estou cheio de sentimentos confusos que se misturam, me deixando sem esperança. A vida se tornou um fardo e estou flertando com a morte. Que adianta sobreviver? Minha dor não tem alívio; não encontro conforto em lugar algum e nenhuma palavra me reanima. Sinto que simplesmente não dá mais..." Esse lamento encontra reflexo em milhões de pessoas; gente de todas as classes sociais, idades, raças e credos. Incontáveis almas desnorteadas perderam a razão de viver e a depressão evoluiu de "mal" para "normal do século". Se de alguma f

COMPARTILHANDO O QUE SE TEM

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Quando tinha treze anos, Severino saiu de Olho D'água Seco, no sertão de Pernambuco, a fim de morar com um tio na capital, Recife. Um dia, perdeu-se na cidade grande. Sem saber ler, não conseguia encontrar o caminho de volta olhando as placas e os nomes das ruas. "Era como se fosse cego", contou.  Ao chegar finalmente em casa, suplicou ao tio para lhe comprar uma cartilha de alfabetização. Sozinho, aprendeu a ler e a escrever. Um ano depois, voltou ao sertão e ensinou à irmã o que sabia. Não era lá muita coisa, mas foi o suficiente.  Posteriormente, Severino improvisou uma escolinha; ao deixar Pernambuco para tentar algo melhor em São Paulo, já tinha alfabetizado mais de 230 conterrâneos. Durante a viagem, ensinou mais doze pessoas a assinarem o próprio nome. "Gosto de passar adiante tudo o que aprendo", disse ele. "Não vou levar nada para o caixão. Então tenho de compartilhar o que sei com quem precisa, senão esse conhecimento morre comigo.&quo

UMA "LAGARTA" TRANSFORMADA

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Certa vez, o capelão de um hospital foi convocado pela enfermeira-chefe para atender a uma senhora que se recuperava de uma delicada cirurgia abdominal por câncer. Ele soube que aquela paciente era considerada, ali, "o problema número um" - exigente, abusiva e intratável. Usava de palavreado chulo, tornando-se mais insolente a cada dia. A primeira visita do capelão provocou nela uma infindável torrente de queixas a respeito do tratamento, do serviço médico e da enfermagem, além de suas dores. Naquela voz áspera e violenta, o capelão percebeu nítido pânico. Assim, junto com a psiquiatra, passou a assisti-la diariamente. O histórico dela era a de uma mulher obcecada pelo trabalho, não se dedicando a ninguém e a mais nada. Tinha irmão e irmã, residentes em cidades distantes, os quais, mesmo sabendo de sua condição, nunca a visitavam. Afinal, ela vivera uma vida inteira de isolamento, com pouco crédito no banco da afeição. Então, a turma do hospital se tornou a sua fa

UM ANJO NA AUSTRÁLIA

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  O australiano Donald Taylor Ritchie (1925-2012), corretor aposentado, interveio em muitas tentativas de suicídio, tendo resgatado oficialmente mais de 160 pessoas que tentavam saltar de um penhasco em Sydney, o "The Gap", próximo à residência dele. A média de suicídios naquele penhasco é de cinquenta por ano. E Donald, que já recebeu o apelido de "anjo da guarda", voluntariamente monitorava possíveis suicidas que para lá se dirigiam. Após um salvamento bem-sucedido, Taylor foi entrevistado pela BBC Brasil. Ele contou: - Sempre que vejo alguém por ali, muito pensativo, ou ultrapassando as cordas que delimitam o lugar, vou em direção à pessoa e puxo conversa. Não raro a convido para um café, em minha casa. É um dos meus métodos preferidos. E, com o café, ofereço um sorriso, uma palavra amável, uma conversa amiga. Assim, muitas vezes, consigo fazer com que a pessoa mude de ideia. Por toda essa dedicação, Taylor recebeu muitas manifestações de agradeciment

LIÇÃO DE DESAPEGO

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Um jornalista, certa feita, tornou-se amigo de Chico Xavier (1910-2002), passando a visitá-lo várias vezes em Uberaba, Minas Gerais, bem como para assistir às suas sessões públicas e abraçá-lo, em gratidão pela solidariedade recebida quando da perda de um ente querido.  Regressando de uma viagem à Itália, Fernando (era esse o seu nome) escreveu a Chico contando que, em uma loja de souvenirs instalada dentro das ruínas da cidade de Pompeia, adquirira uma relíquia - um azulejo no qual era reproduzida a gravura de uma jovem colhendo flores no campo. Fernando ainda informou que, por via postal, lhe enviaria a delicada lembrança. Em resposta, Chico ponderou que talvez a "relíquia pompeiana" pudesse se quebrar durante o trajeto postal. - Sugiro que aguarde uma viagem pra cá, pra Uberaba, a fim de me entregar pessoalmente o objeto. Algum tempo depois, a entrega se concretizou. O famoso médium, aparentemente embevecido, pegou o azulejo e fitou demoradamente a imagem ali

A ÚLTIMA FOLHA

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Duas jovens pintoras foram residir em Nova York. O frio de dezembro chegou com grave epidemia de gripe e uma delas, Joana, ficou acamada. Apesar dos cuidados de sua amiga Suzana e tratamento médico, ela não melhorava. Não reagia. Ficava deitada e olhando para a parede branca do prédio do outro lado da rua. Quando Suzana comentou que a febre baixara e que em dois dias elas poderiam viajar para a Flórida, Joana respondeu, desanimada: - Três dias atrás havia quase cem folhas na parreira que sobe por aquela parede. Estou contando. Hoje tem somente dezenove. Quando a última folha cair, eu vou morrer. Suzana tentou dissuadi-la da ideia. Afinal, que relação poderia haver entre as folhas de uma parreira e a recuperação da saúde? - Pare de olhar por essa janela - disse Suzana - Prometa-me. - Está bem - respondeu a enferma, mas com a certeza de que não cumpriria a promessa. No andar de baixo, morava Bernardo, um senhor de oitenta anos, conhecido das duas artistas. Pintor frustrado, j

CÉU E INFERNO

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Certa vez, um célebre samurai conhecido por sua impetuosidade foi ter com um sábio monge, em busca de respostas para suas indagações.  - Monge, ensina-me sobre o céu e o inferno. Simulando desprezo, o franzino sábio respondeu: - Não posso lhe ensinar coisa alguma. Você está imundo e com um cheiro insuportável, sem falar que a lâmina de sua espada está enferrujada. Você é a vergonha dos samurais. O guerreiro ficou deveras enfurecido e, de tanta raiva, não conseguiu dizer uma palavra. Mas, empunhando precipitadamente sua espada, quis investir contra o monge. - Aí começa o inferno! - falou o monge, como única reação.  O samurai estacou diante de tais palavras. Ficou impressionado com a sabedoria e a coragem do sábio que, arriscando-se a morrer, lhe ensinou em poucas palavras sobre o inferno.  O guerreiro, arrependido, deixou-se sentar no chão, ao lado do monge, que permaneceu em silêncio.  Momentos depois, completamente comovido, o guerreiro suplicou-lhe perdão pelo gesto infe

PERDER PRA GANHAR

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Um grão de trigo, deixado sozinho no campo após a colheita, esperava pela chuva a fim de esconder-se sob a terra. Mas uma formiga cruzou seu caminho. Ela pegou o grão e o colocou nas costas, seguindo penosamente em direção ao formigueiro. A cada passo, o grão parecia cada vez mais pesado. Aí ele disse: - Por que você não me deixa aqui? - Se eu deixar você para trás, poderemos ficar sem provisões suficientes para o inverno. Em nosso formigueiro há muitas formigas e cada uma tem a obrigação de abastecer o celeiro com todo alimento que encontrar! - Mas eu não fui feito só para alimentar! - objetou o grão de trigo - Sou uma semente cheia de vida e meu destino é gerar uma planta. Ouça, cara formiga, vamos fazer um pacto? - Mas que pacto? - indagou o inseto, parando um pouco e pousando o grão no solo. - Se você me deixar aqui no campo, ao invés de me levar para o formigueiro, eu darei a você, daqui a um ano, cem grãos de trigo exatamente iguais a mim. A formiga olhou para o grão

O DONO DE CASA

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Certo homem, irritável ao extremo, nunca achava que sua esposa fosse boa o suficiente para as tarefas da casa; ele vivia reclamando. E, num dia em que ela se atrasou em levar-lhe o almoço no campo, ele ficou irritado; daí a mulher disse: - Vamos fazer o seguinte: amanhã inverteremos os papéis. Você ficará em casa cuidando de tudo e eu virei trabalhar no campo. - Ah! Vai ser moleza! - respondeu o homem com desdém. Assim, na manhã seguinte, a mulher partiu para o campo e o marido iniciou as atividades do lar.  Primeiro, precisou fazer manteiga. Após bater o leite por algum tempo, teve sede e foi buscar água; nesse ínterim, o porco entrou na cozinha e derrubou o pote da manteiga, espalhando pelo chão todo o conteúdo. O homem, enfurecido, saiu atrás do porco mas, na pressa, esbarrou no armário, o qual desabou com pratos e talheres. Só então lembrou-se da torneira que deixara ligada no quintal, que virou um lamaçal. Teve de ir comprar nata na venda. Voltando a fazer manteiga, le

TRANSFORMAÇÃO

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Bob estava sentado no banheiro, em meio a pilhas de chapas de gesso, num dia de muito trabalho.  O filho de treze anos entrou e perguntou: - Qualquer dia desses o senhor me leva pra jogar golfe? Bob ia dizer que não, mas segurou a palavra entre os dentes. - Está bem, filho. Na sexta-feira, após o colégio, pego você e seu colega e iremos ao campo de golfe. A sexta-feira chegou com um chuvisco e Bob queria desistir do combinado - não apenas por conta do mau tempo, mas também pela reforma do banheiro ainda não concluída. Contudo, na hora marcada, lá estava ele em frente à escola, esperando os meninos. Quando o filho entrou no carro, olhou perplexo para o pai. - Por que o senhor está com chapéu de golfe? - Ora, e não vamos jogar golfe? - O senhor também vai? Só então Bob entendeu. Ele não fora convidado.  Em poucos segundos, os treze anos de paternidade passaram pela sua cabeça. O nascimento. As fraldas. As mamadeiras. As tarefas escolares. Os consertos de bicicletas e brinqued

O VERDADEIRO TESOURO

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Um velho lavrador tinha cinco filhos. Todos, no entanto, eram muito preguiçosos e o pai vivia insistindo com eles para que parassem de arrumar desculpas para não trabalhar. Pouco antes de morrer, o lavrador reuniu os filhos e lhes contou um segredo: - Há um tesouro enterrado em minhas terras e quem o encontrar se tornará muito rico! Assim que passou o tempo de luto, os cinco irmãos começaram uma busca desenfreada pelo tesouro. Após alguns dias de procura, deixaram o campo completamente escavado sem haver encontrado nada.  Tiveram então a ideia de lançar sementes de trigo no solo. Em pouco tempo, surgiu ali um enorme trigal e, com a colheita, fizeram um bom dinheiro. Com o campo vazio novamente, decidiram voltar a procurar o tesouro escondido pelo pai. A busca mais uma vez se demonstrou infrutífera, apesar de terem escavado por toda parte. Aproveitando a buraqueira, resolveram semear mais trigo. O resultado foi uma safra tão abundante quanto a primeira. Isso se repetiu por v

ACERCA DE UMA CERCA

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Um homem adquiriu uma fazenda e, dias depois, se encontrou com um novo vizinho. Este falou: - Então é o senhor o novo dono desta propriedade? - Sim, vizinho! - Pois já vou logo lhe falando que vai ter sérios aborrecimentos. Com as terras, acabou comprando também uma questão na justiça.  - Como assim, amigo? - Vou explicar. O proprietário anterior construiu uma cerca fora da linha divisória e vivíamos em pé de guerra por causa disso. Ele nunca quis mudar e eu nunca concordei com a posição da cerca. Estou de saco cheio dessa situação e não vou deixar barato. Vou em busca dos meus direitos! - Vizinho, não precisa fazer isso - retornou o morador novato, sempre calmo - Eu acredito em seu relato e entendo que você está na sua razão. Se a cerca não está delimitando corretamente nossas terras, irei até lá para consertá-la, colocando-a no devido lugar. O outro ficou boquiaberto. - Está falando sério? - Claro! - Se é assim, vizinho, então a cerca fica como está. O senhor é um homem h

O MELHOR JEITO DE VENCER

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Numa tarde de primavera, o trem atravessava ruidosamente os subúrbios de Tóquio. Em um dos vagões, quase vazio, entre mulheres e idosos, havia um jovem lutador de Aikidô que, sentado à janela, observava distraidamente o cenário monótono da cidade. Chegando a uma estação, as portas da locomotiva se abriram e por uma delas entrou, justo naquele vagão, um bêbado. Parecia ser operário e possuía considerável musculatura.  Estava fedendo a bebida e a suor e já foi entrando aos berros. Foi logo empurrando uma mulher que carregava um bebê ao colo; ela caiu sobre um assento vazio, mas felizmente nada aconteceu à criança.  O ébrio agarrou a haste de metal no meio do vagão e tentou furiosamente arrancá-la. Uma de suas mãos estava ferida e sangrando. Àquela altura os passageiros estavam paralisados de medo, mas o jovem lutador viu ali uma boa chance de testar suas habilidades marciais. Treinara bastante nos últimos três anos e ainda não havia colocado em prática o que aprendera. Almeja