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Mostrando postagens de setembro, 2023

A INFELICIDADE DO RANCOR

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Bianca e Beatriz, ambas adolescentes, estavam muito felizes no acampamento de férias. Eram muito amigas. Identificavam-se em praticamente tudo. De repente, um telefonema. Era a mãe de Bianca. Ela tinha de voltar para casa imediatamente. Seu pai morrera. Dono de um barco pesqueiro, fora surpreendido por uma terrível borrasca. O corpo havia sido resgatado, após dias de buscas. A viúva entrou em depressão e sua filha teve de dar-lhe assistência em todas as coisas, por meses. Para uma adolescente, era um enorme peso lidar ao mesmo tempo com o luto pelo pai e com o transtorno psicológico da mãe. Ela se tornou adulta bem antes do tempo. Uns anos depois, Bianca foi a um retiro e nunca mais voltou para casa. Simplesmente mandou recado à mãe, dizendo que emigraria para outro país. Nunca informou onde se encontrava. Todo ano, no aniversário da filha, a mãe preparava um bolo na esperança de que ela voltasse, mas isso não acontecia. Por fim, desistiu de esperar qualquer notícia. Então,

FAVORES TROCADOS

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Sempre que Carlos sai de casa, acaba se esquecendo de algo. Quando se lembra, já é tarde.  Sua grande valia é seu amigo. Quando se vê nessas "enrascadas", logo pensa: “Ainda bem que tenho o Pedro”. Carlos sabe muito bem o que é um amigo com quem se pode contar, pois Pedro é assim. Sempre que esquece de alguma coisa, é o Pedro quem o livra de apuros e vexames.  Se Carlos vai à aula de educação física, esquece de levar o tênis. - Logo vi que ia esquecer! - diz o Pedro, tirando de sua bolsa um par de tênis extra que entrega ao amigo. Quando vão ao campo jogar pelada, Carlos diz, desapontado: - Caraca! Esqueci a bola! - Já sabia! - retruca Pedro - Por garantia, trouxe a minha! Carlos e Pedro vão à feira popular; aí o Carlos bota a mão na cabeça: - Poxa, esqueci a carteira! - Sem problemas! Eu tenho dinheiro e vamos andar no carrocel e na roda gigante! - responde Pedro. Mas não é apenas o Carlos que tem lapsos de memória.  Em quase toda aula de arte, dá um branco na ca

LENHA NA FOGUEIRA

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Um veterano trombeteiro adorava o seu trabalho, que era marchar à frente do exército de seu rei, tocando orgulhosamente sua trombeta.  Um dia, saíram à batalha contra um reino vizinho e, como sempre, o trombeteiro estava diante das tropas, convocando-as com o toque de seu instrumento.  Seu exército, contudo, sofreu um revés inesperado e muitos foram aprisionados pelo inimigo, incluindo o trombeteiro que, muito aflito, clamou a seus captores: - Por favor, poupem-me! Nunca matei ninguém! Nem mesmo uso armas! Tudo o que faço é soar minha trombeta! - Mas é por isso mesmo que te prendemos! - retrucou um dos soldados - Você não luta, mas estimula os outros a lutar! Se você é daqueles que incentivam o ódio numa briga ou discussão, então é tão culpado quanto os que estão diretamente envolvidos nela! Fábula de Esopo (620-564 a.C.) - adaptação de Marcos Aguiar. 

FILHO POR UMA NOITE

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Uma dedicada enfermeira, entretida com muitos pacientes, viu um jovem entrando na enfermaria. Então, inclinando-se sobre um idoso em estado grave, disse-lhe:  - Seu filho está aqui. Foi com grande esforço que o velho moribundo abriu os olhos, tornando a fechá-los logo depois. O moço sentou-se ao lado da cama e envolveu a mão delicada e envelhecida do enfermo. Velou a noite inteira, conservando a mão dele entre as suas e sussurrando-lhe palavras de conforto. Ao amanhecer, a morte esvaziou aquele corpo alquebrado e doente. O ancião partiu com um semblante risonho e tranquilo.  Constatado o óbito, foram desligados os aparelhos e removidas as agulhas. A enfermeira aproximou-se do rapaz e começou a lhe prestar as condolências, mas ele a interrompeu, indagando:  - Quem era este homem? Assustada, a enfermeira respondeu:  - Achei que fosse seu pai! - Não. Não era meu pai. Nunca o vi antes. - Então por que você não falou nada quando o anunciei para ele? - É que percebi que ele preci

LET IT BE

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Em 1970, o maior grupo musical de todos os tempos se desfez. Seu último disco, lançado em maio daquele ano, tem como música-título "Let it be". Originalmente, o nome previsto para o álbum seria outro. Mas a canção composta por Paul McCartney terminou por ser contemplada. Paul a escreveu em homenagem à sua mãe, Mary McCartney, vítima de câncer de mama quando ele tinha apenas catorze anos. A morte da mãe o abalou profundamente. Ele conta que, certa noite, sonhou com a mãe vindo em sua direção e lhe dizendo "let it be" - algo como "deixe estar" ou "vai ficar tudo bem". Quando acordou, já estava com a melodia na cabeça e as palavras foram brotando: "Quando eu me encontro em momentos difíceis Mãe Maria vem para mim Falando palavras de sabedoria, deixe estar E nas minhas horas de escuridão Ela está em pé bem na minha frente Falando palavras de sabedoria, deixe estar Sussurrando palavras de sabedoria, deixe estar E quando todas as pesso

HÁBEIS MÃOS

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Certa manhã, um jovem professor chegou à escola um tanto cabisbaixo. Problemas acumulados sobrecarregavam sua sensível personalidade. Estava difícil suportar.  Foi então que, durante uma reunião, ele não pôde estancar as lágrimas que, abundantes, escorreram. Uma colega, que o observava, aproximou-se e, em silêncio, estendeu as mãos e segurou delicadamente as dele. Uma atitude singela, mas muito significativa para o moço. Ele sabia que a amiga tinha um cotidiano corrido, sempre atarefada e com muitas preocupações. Ainda assim, demonstrou sensibilidade suficiente em um gesto tão terno para com ele. O incidente inspirou o jovem mestre a escrever o seguinte: "As mãos são capazes de muitas coisas: oferecer apoio no momento certo, estender-se para consolar, segurar firme para amparar. Elas saúdam e sinalizam. Envolvem e dão carinho. Estabelecem limites. Escrevem. Abençoam. Desenham no ar o adeus. Agasalham e curam feridas. A mão, para o mudo, é o verbo. Para o idoso, a segur

A BOA TROCA

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Uma professora foi designada para lecionar em uma escola de periferia. Ali, havia falta de tudo. A sala de aula não tinha pintura, apresentando aspecto quase sombrio. As condições eram as mais adversas possíveis. Os estudantes eram de famílias sem teto, sem emprego e sem autoestima. Não obstante, a mulher chegou e fez a diferença. Convocou mães e pais e outras pessoas da comunidade e organizou mutirões. Arrumou tinta e a escola ganhou uma coloração fantástica. Plantou flores no pátio, além de uma horta comunitária, dando nova vida ao lugar.  Jamais alguém os presenteara tanto. Estavam habituados a ter quase nada, rumando de uma para outra banda. Mas, agora, ali estava uma professora a lhes oferecer apoio, incentivo, acolhimento e carinho. No dia em que ela recebeu o primeiro salário, adquiriu vários livros e os disponibilizou, montando uma pequena biblioteca na sala de aula. As crianças amaram aquele tesouro e a alegria delas enchia o coração da professora com júbilo.  A ma

FELICIDADE ALHEIA

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Desde os tempos do Jardim da Infância, um menino e uma menina haviam criado um forte laço afetivo. Ano após ano seguiam nas mesmas turmas. Ambos alunos brilhantes.  Em certa oportunidade, disputaram a mesma vaga num concurso literário de grande relevância. Haviam se esforçado muito na redação e se dedicado às tarefas com afinco durante vários dias. Aguardavam ansiosos pela seleção da produção finalista, que seria remetida à etapa estadual - uma grande conquista a quem fosse escolhido! Quando, enfim, foi anunciado o resultado, a menina (agora moça), a vencedora, ficou imóvel e muda. Era o que havia aguardado e acreditava-se merecedora. No entanto, a sua vitória significava a derrota do querido amigo. "Estaria ele magoado?" Enquanto ela assim pensava, o amigo interrompeu a reticência, na condição assumida de concorrente não contemplado. Levantou-se, foi até à vencedora e a cumprimentou com absoluta sinceridade. No olhar dele, tudo o que ela pôde distinguir foi a mai

RATOS E BOTAS

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Dois ratos moravam, cada um, no interior de uma bota e eram vizinhos. Mas viviam um tanto afastados porque, embora as botas fossem do mesmo par, seus inquilinos simplesmente não se davam bem. Assim as botas estavam de costas voltadas, isto é, calcanhar de frente para o outro calcanhar. Um dia sobreveio um grande temporal e o vento soprou forte por aquelas paragens, empurrando uma das botas em direção à outra, que também se deslocou com a ventania. - Quem está dando pontapés em minha casa? - gritou, irritado, um dos ratos. Como agora estavam bem próximos, o outro rato ouviu a fala do vizinho e também reclamou. Contudo o pior ainda estava por vir. A chuva intensa logo formou uma enxurrada e as duas botas foram arrastadas. - Ora! Em vez de casa, um barco! - exclamou um dos ratos, aterrorizado.  - Em vez de bota, um bote! - exasperou-se o outro. A tempestade, todavia, não durou muito e, com a estiagem, as botas pousaram, lado a lado, num montinho de areia. Daí os dois moradores

SEREIA OU BALEIA?

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Há algum tempo, em São Paulo, uma agência de publicidade divulgou um outdoor com a foto de uma moça escultural de biquíni e o seguinte slogan: "Neste verão, o que você vai ser: sereia ou baleia?" Em resposta, uma mulher enviou à agência o seguinte email: "As Baleias estão sempre cercadas de amigos. Elas têm vida sexual ativa, engravidam e dão à luz a lindos filhotes. Baleias amamentam. Andam por aí a cruzar os oceanos, conhecendo os lugares mais extremos do planeta. Baleias fazem amizade com golfinhos. Comem camarão em abundância. Esguicham água, brincam à beça e cantam muito bem. São enormes e quase ninguém é páreo para elas. As Baleias são bem resolvidas, lindas e amadas; sereias, por sua vez, não existem. E, se existissem, viveriam em crise existencial: 'sou peixe ou humano?' Além disso não teriam filhos, pois dizem que matam os homens que se deixam atrair por seus encantos. Poderiam até ser belas, mas também tristes e sempre solitárias. Portanto,

A EGOÍSTA

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A primavera trouxe novas e lindas cores a um bosque onde existiam muitas árvores; mas uma delas, apesar de ser a mais alta e florida, tinha um defeito muito grande: não queria ninguém por perto.  Quando um simples passarinho desejava pousar em seus galhos, agitava-se toda, enxotando o visitante.  - Saia daqui! - berrava. Achava-se bonita demais para ser invadida por insignificantes criaturas. Os pássaros por ela rejeitados buscavam, então, abrigo nas árvores vizinhas, alegrando-as com maravilhosas canções e enfeitando-lhes os galhos com seus ninhos. Com o tempo, essas árvores foram ficando mais frondosas que aquela arrogante. Ao escutar o canto dos pássaros e os gritos de alegria de suas vizinhas, a árvore solitária começou a refletir sobre sua atitude e se pôs a chorar ruidosamente. Daí todos pararam para vê-la. Comovidos, os pássaros aproximaram-se e perguntaram se podiam ajudar. Ela, ainda chorando, pediu perdão a todos e disse que podiam visitá-la sempre que quisessem;

TELHA DE VIDRO

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Depois de perder os pais, uma moça deixou sua cidade natal para morar numa fazenda do interior, com uns tios que mal conhecia.  A casa deles havia sido construída pelo bisavô dela, há muitas décadas. Quase todos os móveis eram peças pesadas e escuras que estavam ali há mais tempo que os atuais moradores. A chegada de Rachel representou certo transtorno para seus tios, desacostumados a visitas ou a novidades. "Onde acomodariam a sobrinha?", perguntaram-se. Como não havia cômodo mais apropriado, cederam-lhe um quarto que ficava no sótão. Estava bom para Raquel, apesar do tamanho reduzido e do cheiro de mofo. Mas um detalhe a entristecia: o quarto não tinha janelas. Não se podia vislumbrar o dia radiante com todas as suas maravilhas. Apenas um pequeno feixe de luz penetrava timidamente pela porta. Assim, era essa ausência de claridade que deixava ainda mais tenebroso o coração da moça. Até que um dia, depois de muito ter chorado baixinho, decidida a voltar a sorrir,

MILAGRE DA UNIÃO

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Muito tempo atrás, o mundo era sem cor e sem graça em toda parte.  Um dia, porém, três conhecidos de longa data se reencontraram: o Vermelho, o Azul e o Amarelo. Eles decidiram mudar aquela situação incolor e contribuir no embelezamento das coisas. Contudo, foram percebendo que não estava dando muito certo: tudo estava ficando com aspecto tricolor e a monotonia tomou conta. - E agora? - indagavam-se - O que podemos fazer para trazer mais cores ao mundo?  - Já sei! - exclamou o Azul de repente - Por que não tentamos criar mais cores misturando-nos uns aos outros? - Boa ideia! Vamos tentar! - responderam os outros dois. Ficaram surpresos com o resultado da fusão; novos amigos surgiram: o Laranja, o Verde e o Roxo. Agora eram seis. Posteriormente descobriram que poderiam criar outras novas cores ao se misturarem de novo; e assim eles se espalharam pelo mundo, dando-lhe vitalidade e beleza. Cada pessoa tem o potencial de fazer grandes coisas; mas quando várias delas se juntam,

"EU" OU "NÓS"?

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Dois andarilhos viajavam juntos por uma estrada deserta e empoeirada. De repente, um deles avistou uma bolsa à margem do caminho e, adiantando-se para apanhá-la, verificou que estava cheia de moedas de ouro. E exclamou: - Como sou sortudo! Encontrei toda esta riqueza! Aproveitarei este dinheiro sabiamente!  Seu companheiro retrucou: - Não diga: "eu encontrei"; diga: “nós encontramos". Como amigos, temos que compartilhar igualmente as conquistas em comum. O outro fez cara feia. - Não concordo! Eu é que peguei a bolsa, portanto ela me pertence! E assim retomaram a caminhada. Nem bem haviam recomeçado quando ouviram alguém gritando: - Pega o ladrão! Olhando para trás, viram uma multidão armada com porretes correndo na direção deles. O que havia encontrado a bolsa estremeceu: - Estaremos perdidos se encontrarem a bolsa conosco! Vão nos espancar até à morte! - Não, senhor! É você que será espancado, pois foi você quem encontrou a bolsa! Já que se recusou a compart

TRANSFORMAÇÃO

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Havia duas árvores no meio de um jardim. Na árvore menor, residiam três lagartas absolutamente ingênuas. Nada conheciam sobre o mundo que as rodeava. Um dia, tiveram a ideia de olhar para baixo. Notaram outros bichos no jardim - uns que voavam, outros que rastejavam, outros mais que nadavam numa poça d'água ali perto. Olhando mais além, para a outra árvore, viram que nela havia muitos frutos; então decidiram ir para lá.  - Mas como chegaremos até lá? - indagaram entre si. A primeira lagarta gritou, admirada: - Vejam! Aquele pássaro consegue sobrevoar as árvores e balançar seus braços como se fossem folhas! Vou pegar duas folhas e fazer como ele, até alcançar os frutos! A segunda lagarta, ao ficar de ponta cabeça, descobriu vários frutos caídos ao pé da arvore. - Vou descer e pegar todos! - exclamou. A primeira lagarta fez muito barulho ao bater as folhas para voar e acabou chamando a atenção da dita ave que, lançando-se sobre ela, a devorou. A segunda lagarta estava tão

O MALIGNO

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Um cego e seu guia passeavam pela cidade e resolveram entrar em um restaurante. Estavam com muita vontade de comer feijoada. Quando o garçom trouxe o prato, o guia percebeu que havia bastante carne. Maliciosamente, separou para si toda a carne, deixando apenas feijão para o companheiro.  Quando o cego começou a comer, comentou: - Puxa, parece que fizeram esse feijão com carne, não foi? O garçom, que do balcão observava a cena, repreendeu o guia: - Ei, rapaz, não seja mesquinho! Reparte um pouco da carne com o cego! O outro, cheio de má vontade, repartiu. Terminaram de comer, pagaram a conta e retomaram seu caminho. Afastaram-se da cidade e pegaram uma trilha na mata. Passaram por um trecho onde o galho pesado de uma árvore pendia para o lado da trilha, de maneira que era preciso se abaixar para passar. O guia, naturalmente, se abaixou; mas o cego meteu a testa no galho e caiu. - Ei! - gritou, irritado - Por que não me avisou sobre o galho? - Ora, você não notou que o feijão

NÃO TÃO FEIO

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Uma pata havia botado cinco ovos e aguardava ansiosamente a chegada de seus filhotinhos. Ficou muito contente quando o primeiro ovo chocou, assim como o segundo, o terceiro e o quarto. Mas o quinto ovo demorou um pouco para se quebrar e a pata ficou intrigada. Ao contemplar finalmente seu último filhote, ela não ficou muito satisfeita e exclamou: - Que patinho diferente e feio! Não pode ser meu filho! - Colega! Alguém deve ter te pregado uma peça, trocando teu ovo! - alfinetou a galinha. O tempo foi passando e aquele patinho foi ficando cada vez mais diferente de seus irmãos e cada vez mais isolado. Os outros zombavam dele, o que o deixava entristecido e angustiado. Foi então que, com a chegada do inverno, ele resolveu ir embora. Depois de muito caminhar, encontrou um lago muito bonito. Vendo que o local era bem aconchegante, entrou na água para relaxar. Nesse momento, algumas crianças que brincavam ali perto perceberam a sua presença e ficaram encantadas. - Vejam, temos um

CADA UM É ÚNICO

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Em julho de 1996, a ciência surpreendeu o mundo com o nascimento da ovelha Dolly, o primeiro animal clonado. Desde então começaram especulações em torno da clonagem de seres humanos. Contudo, o "criador" de Dolly, Ian Wilmut (1944-2023), tinha um pensamento diferenciado sobre o assunto. Em seu escritório no Roslin Institute, próximo a Edimburgo, ele suspirou ao ouvir tocar o telefone mais uma vez, após um dia estafante de intermináveis ligações da imprensa.  Desta vez era uma mulher norte-americana, aparentemente muito angustiada.  - Por favor, professor, estou desesperada e preciso de sua ajuda. Minha filhinha de dois anos acabou de morrer, após lutar bravamente contra a leucemia. Por favor, pegue parte das células dela e faça uma clonagem. Devolva minha filha. Faria tudo para tê-la em meus braços de novo! Wilmut tornou a suspirar. Nada na sua formação acadêmica o havia preparado para uma situação como aquela. Ele era cientista, não médico. Com delicadeza, respon

SEMPRE VENCEDORA

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Nascida na década de 1980 no Haiti, Nadine Talleis era franzina e com apenas 15% de visão. Quando menina, seu pai, que era político, foi assassinado por opositores. A perda fez com que a mãe ficasse deprimida, morrendo em menos de um ano. Nadine então passou a ser criada pelo avô. Vivia com certa tranquilidade, até que, em 2010, sua cidade, Porto Príncipe, foi sacudida por um terremoto. Entre os mais de 250.000 mortos, estavam amigos e parentes de Nadine. Ela mesma esteve soterrada por três dias até ser encontrada e resgatada. Acompanhada de um tio, saiu de seu país em busca de uma nova vida. Passou pela República Dominicana, Equador e Peru, estacionando finalmente em 2013 no Brasil, no estado do Acre. Encontrou um abrigo precário para refugiados, um inadequado espaço com 1300 pessoas e somente dois banheiros. Enquanto alguns conseguiam ser recrutados por empresas que buscavam mão de obra local, ela, deficiente visual, era sempre rejeitada. Seu tio, contudo, conseguiu empre

RENDER E FRUTIFICAR

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Um grande rei, pai de trigêmeos, precisava escolher o seu sucessor. Era uma decisão difícil, já que os três eram igualmente virtuosos. Depois de muito pensar, teve uma ideia. Chamou os filhos e lhes falou: - Preciso fazer uma viagem a uma de nossas províncias e pretendo deixar algo valioso com vocês. Peguem. E, assim dizendo, entregou, a cada um, um pacote com sementes. E completou: - Devolvam-me essas sementes daqui a um ano, quando eu voltar. Nomearei meu sucessor a quem cuidar melhor delas. O primeiro filho, tão logo o pai partiu, resolveu guardar as sementes em um cofre. "Quando meu pai retornar, devolverei as sementes do jeitinho que ele me deu", raciocinou. O segundo filho observou o que o irmão fez e pensou: "Se eu guardar minhas sementes, elas morrerão com certeza. Vou vendê-las no mercado e, daqui a um ano com o dinheiro, comprarei sementes novas e até em melhor estado que estas!" E foi o que ele fez. O terceiro filho percorreu os jardins do pal

A PARTE BOA DE CADA UM

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Havia um garoto que não tinha amigos na escola, porque costumava reclamar de todos. Sua professora, preocupada com a situação, chamou-o para conversar, ao término da aula. Ele já foi logo se queixando: - Não suporto o Francisco. É exibido e orgulhoso, só porque o pai dele tem mais dinheiro que os nossos. - Mas ele é alegre e participativo - argumentou a mestra. - E a Cininha? Parece que tem o rei na barriga! - Mas você nunca reparou que ela ajuda as colegas mais atrasadas a fazer suas lições? - Sim, mas ela é chata! E tem o Sebastião que vive se exibindo, só porque é o valentão da classe! - Lembre-se que ele salvou duas colegas que estavam sendo assaltadas, arriscando a própria vida...  - Mesmo assim não gosto dele! - retrucou o menino. A professora balançou a cabeça.  - Nossa classe tem quarenta alunos e a escola quase mil; será que não há ninguém de quem você goste? - Não dá, professora. Eu não suporto esse povo... - Mas ninguém tem nada de bom? - Tem sim, professora, mas

UMA MÃE DE MUITOS FILHOS

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Maria Inês é enfermeira de uma UTI neonatal há mais de vinte anos e nunca gerou filhos, mas se tornou mãe de uma forma toda especial. Por suas mãos e cuidados já passaram mais de mil crianças. Em um vídeo viral, com milhões de visualizações, a técnica de enfermagem narra, com detalhes, o trabalho dedicado e gratificante que faz, cuidando dos bebês como se fossem seus. "O prematuro é um bebê que fica muito tempo internado no hospital e a gente acaba criando um vínculo muito especial com ele e com a família", conta Inês. E continua, folheando um álbum recheado de fotografias: "Eu me lembro um por um daqueles bebês e sei o nome de cada um deles." Ela chegou a acompanhar alguns deles durante delicadas cirurgias às quais foram submetidos, dando-lhes assistência nessa fase crítica de suas jovens vidas. E indaga: "Como foi a primeira noite deles em casa? Como foi a infância deles? Será que, dentre eles, saiu algum médico, engenheiro, professor? A gente sen

CONFRATERNIZAÇÃO VERDADEIRA

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Era a mesma coisa todos os anos. Um idoso desejava passar o Natal com seus filhos e netos. Tecia planos, mandava convites, fazia compras para a ceia.  Ao longo do ano ele se punha a imaginar em como estariam os filhos, se já estariam com o semblante envelhecido e com os cabelos brancos. E os netos? Já seriam quantos? Alguns ele ainda nem conhecia. Contudo, já no início de dezembro, começavam a chegar os e-mails e mensagens no celular com as ladainhas de sempre. Cada filho com uma desculpa. Prometiam visitar o pai assim que pudessem ou no próximo Natal, mas todo ano o constrangimento se repetia. E o velho acabava passando o Natal sozinho. Aproveitava a ceia, rezava e depois sentava na poltrona para mergulhar num oceano de lembranças. No ano seguinte, os filhos estranharam quando não chegou o costumeiro convite do pai - e já era meados de dezembro. Por outro lado ficaram até aliviados por não terem que mentir outra vez. Mas o silêncio do velho não deixava de ser estranho. Foi

"QUERO SER UMA TV!"

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A diretora de uma escola organizou uma gincana de redação, onde cada aluno apresentaria um texto com o tema: "O Que Eu Gostaria de Ser?" Já em casa, com todos os textos em mão, deparou-se com um que a deixou deveras emocionada - pra não dizer chocada. Deixou-se cair na poltrona e um choro involuntário apoderou-se dela. Seu marido percebeu que algo estava errado.  - O que aconteceu, querida? Entregando-lhe o papel, disse: - Lê... é a redação de um dos alunos da minha escola... Ele leu em voz alta o seguinte: "Senhor! Nesta noite, peço-te algo diferente: transforma-me numa televisão. Quero ocupar o espaço dela. Viver como ela vive em minha casa. Ter um lugar especial para mim e reunir a família ao meu redor. Quero ser levado a sério quando falar. Ser o centro das atenções e ser ouvido sem interrupções ou dúvidas. Quero receber a mesma atenção que ela quando não funciona. Ter a companhia de meu pai quando ele chega em casa, mesmo que esteja morrendo de cansaço.

A "ÁRVORE DOS PROBLEMAS"

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Um homem contratou um carpinteiro para ajudá-lo a arrumar algumas coisas em sua fazenda. O primeiro dia do carpinteiro foi bem difícil: um pneu de seu carro furou; sua serra elétrica quebrou e ele acabou cortando o dedo; e, ao final do dia, a bateria do carro pifou. O fazendeiro então ofereceu-lhe carona pra voltar para casa. Durante o trajeto, o carpinteiro permaneceu em silêncio. Ao chegarem próximo à casa dele, convidou o patrão para entrar e conhecer sua família.  Quando se encaminhavam para a porta da frente, o carpinteiro parou junto a uma enorme árvore e gentilmente tocou a ponta do galho mais baixo. O fazendeiro não compreendeu o gesto, mas nada falou. Assim que entraram na casa, o carpinteiro transformou-se. Seu semblante tenso transfigurou-se num rosto sorridente e ele abraçou os filhos e beijou a esposa.  Após o jantar, o dono da casa acompanhou sua visita até o carro. Quando passaram pela árvore, o fazendeiro perguntou:  - Por que você tocou nesta árvore antes d

PEIXINHO NA MÃO

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Um menino estava há horas na beira do rio tentando pescar, sem nenhum resultado. Prestes a desistir, conseguiu pegar um peixe, mas tão pequenininho que cabia na palma da mão. O peixinho então falou: - Por favor, poupe minha vida! Jogue-me de volta na água. Posso garantir que estarei bem maior em breve e aí você poderá me fisgar novamente. Além disso, tenho muitos outros amigos que você pode capturar até que eu cresça. O garoto nunca tinha visto um peixe falante; mesmo assim, não se deixou iludir. E respondeu: - Eu seria muito bobo se trocasse o certo pelo duvidoso, deixando você escapar! E, lançando o peixinho no cesto, voltou para casa cantarolando.  Se você ainda não conseguiu o que quer, não desperdice o que já tem! Fábula de Esopo (620-564 a.C.) - adaptação de Marcos Aguiar. 

QUANDO SE CONFIA DEMAIS...

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Um sapo preparava-se para entrar na água e atravessar o rio. Nisso aproximou-se um escorpião, que também queria ir para a outra margem; mas como ele não sabia nadar, pediu ao sapo que deixasse subir nas costas dele. - De jeito nenhum! - protestou o sapo - Você, com esse ferrão, é capaz de me atacar! - Não precisa ter medo de mim! Só quero atravessar o rio! Se te picasse, morreríamos os dois - você, envenenado e eu, afogado! - Está bem, então suba às minhas costas - disse o anfíbio, vencido pelo argumento do escorpião. Quando já estavam no meio do rio, o escorpião não resistiu: enfiou o ferrão com toda força no seu condutor. Sentindo o veneno espalhar-se rapidamente pelo seu corpo, o sapo indagou, ofegante: - Por que você fez isso? Agora vamos morrer! E o outro, prestes a se afogar, respondeu: - Porque sou escorpião e picar faz parte da minha natureza! É preciso discernimento para identificar quem realmente vem a nós com boas intenções! Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar.

O PARAFUSO CERTO

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O sofisticado maquinário de uma multinacional deu um pane, justo num dia em que a produção estava em alta. Os técnicos de plantão passaram horas tentando consertá-lo, mas o problema aparentava ser muito complexo.  Depois de muito quebrarem a cabeça, lembraram de um colega: - Chamem o japonês; só ele pode dar um jeito. O japonês não demorou muito pra chegar. Fez uma breve vistoria no equipamento, pegou uma chave de fenda e apertou um único parafuso. Depois ligou a máquina pra testar. Pegou que foi uma maravilha. Todo mundo ficou boquiaberto. - Prontinho! - disse o japonês. - Quanto fica seu serviço? - perguntaram-lhe.  - R$ 1.000,00.  - Japonês, você só pode estar brincando. Você só apertou um parafuso! Queremos um relatório por escrito do que foi feito. O japonês respondeu: - Só se for agora! E, escrevendo rapidamente o relatório, entregou-o ao encarregado, que leu o seguinte: "Apertar um parafuso: R$ 1,00; Saber qual parafuso apertar: R$ 999,00." Por que, para ce

CORRENTE DO MAL

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Um magnata teve um acesso repentino de raiva e gritou com o diretor executivo de sua empresa. O diretor, ao chegar em casa, esbravejou com a esposa, acusando-a de gastar demais, pois a fatura do cartão havia estourado. Chateada, a esposa acabou descontando na diarista que, assustada com o berro da patroa, deixou cair um prato, quebrando-o. Ao recolher os cacos, veio o cachorro da casa para lamber a comida no chão, mas a empregada, cheia de ira, chutou-o para longe. O cachorrinho, frustrado, saiu correndo e ganhou a rua, mordendo uma senhora que ia passando. Esta, desconcentrada, tendo que mudar o rumo e ir à farmácia para tomar vacina e fazer um curativo, falou toda alterada com o farmacêutico, porque a área mordida doía muito. O farmacêutico, de volta para casa, falou todo estressado com a mãe porque o jantar não estava do agrado dele. Ela, a meiguice em pessoa, aproximou-se do filho, afagou-lhe os cabelos e o beijou na testa, dizendo: - Desculpe, meu querido. Prometo-lhe

ENFRENTE O MEDO

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Viviam, numa mesma casa, um camundongo e um gato. O felino fazia o maior terror e o coitado do ratinho não tinha sossego. Um dia, o pequeno roedor encontrou-se com um mágico e contou-lhe seu drama. O mágico, compadecido, transformou-o num gato. Mas ele morria de medo de ultrapassar o portão de casa, pois logo aparecia algum cachorro que o encurralava. Ao saber disso, o mágico o transformou num cão; assim poderia transitar livremente pelas ruas. Só que não adiantou: o frouxo vivia se escondendo nos becos, temendo ser capturado pela carrocinha. Ao recorrer outra vez ao mágico, foi transformado numa pantera e passou a morar na floresta. Entretanto, com receio dos caçadores que estavam sempre por perto, mal podia passear pela mata. Foi então de novo atrás do mágico, que irritou-se. - Assim não dá. Você não tem jeito. E, tornando-o novamente em camundongo, disse: - Nada que eu te faça irá ajudá-lo, porque você sempre será tão medroso quanto um rato. Você nunca irá evoluir enquan

FOCO

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Um adolescente rebelde estava cansado de ser continuamente punido por seus pais. Preocupado, procurou o conselho de seu professor.  - O que devo fazer para não cometer esses erros novamente? - indagou - Tenho me esforçado, mas não estou conseguindo! O professor pegou um copo e o encheu com água, quase até à borda. - Faça o seguinte, meu jovem: ande com esse copo por todo o colégio; entre em todas as salas, suba e desça todas as escadas, passe pelos corredores e pátios e depois volte aqui sem ter derramado uma só gota dessa água. - Impossível! Não vou conseguir!  - Se você quiser, vai conseguir, sim!  O rapaz aceitou o desafio. Saiu devagar, olhos fixos no copo. Percorreu todas as dependências do colégio e retornou ao professor depois de uns quarenta minutos. - Mestre, fiz como o senhor pediu e não deixei cair uma só gota d'água! - Então você não reparou nas garotas que passeavam pelo jardim? Não atendeu ao chamado dos colegas? Não percebeu algum detalhe ao seu redor? -