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Mostrando postagens de janeiro, 2024

A LIÇÃO DO SILÊNCIO

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Um fazendeiro acabou perdendo seu relógio no celeiro. Era um relógio antigo, mas de grande valor sentimental. O enorme celeiro havia sido recentemente estocado com muita palha, o que dificultava ainda mais a tarefa de encontrar o objeto precioso. Depois de extensa e infrutífera procura, ele chamou um grupo de crianças do lugar e prometeu um bom prêmio para aquela que encontrasse o relógio. Os meninos eram muito barulhentos e gritavam uns para os outros enquanto procuravam. Assim, durante boa parte da tarde eles tentaram encontrar o relógio, mas não tiveram sucesso. O fazendeiro estava prestes a desistir da busca, quando um dos meninos pediu para procurar mais um pouco. - Os outros garotos não conseguiram encontrar; como acha que vai conseguir? Mas, enfim ... não custa tentar de novo... então vá. E abriu o portão do celeiro pra que o menino procurasse lá dentro. Não demorou meia hora e o menino voltou com o bendito relógio! O fazendeiro, abismado, perguntou: - Nossa! Como vo

PACIENTE COMO UM BÚFALO

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Uma zebra pastava tranquilamente quando avistou um enorme búfalo dormindo à sombra de uma árvore e, sobre ele, um macaquinho dançando e pulando. Mas o curioso era que o búfalo não estava nem aí. No dia seguinte, ao passar pelo mesmo local, a zebra viu o mesmo búfalo pastando e o macaquinho pendurado em seu chifre, fazendo acrobacias; mas o búfalo, indiferente, continuava a pastar. No terceiro dia, a zebra viu o búfalo caminhando e o macaquinho pendurando em seu rabo como se fosse um cipó, balançando de um lado para o outro. A zebra então decidiu abordar o búfalo. - Amigo: você é tão imponente que pode, com facilidade, derrubar uma árvore e seus chifres pontiagudos podem matar até mesmo um leão; por que então permite que esse macaquinho te importune assim? O búfalo, dando de ombros, respondeu: - Esse macaco, além de insignificante, é desprovido de inteligência; por que eu deveria me importar se sou mais forte que ele? Pessoas maduras fazem-se de surdas a coisas irrelevantes

UMA VIDA, DUAS VIDAS, UM SORRISO

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Quem não lembra da obra "O Pequeno Príncipe"? Seu autor, Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), participou da guerra civil na Espanha, ao lado dos que lutavam pela preservação da democracia. Certa feita, ele caiu nas mãos dos adversários, sendo preso e condenado à morte. Na noite anterior à sua execução, foi despido e jogado em uma cela miserável. O guarda que o vigiava era muito jovem mas, por certo, já havia executado muitos prisioneiros e parecia não ter sentimentos. Seu semblante era completamente frio. Tinha ordens para alvejar e matar qualquer fugitivo.  A altas horas da madrugada, Exupéry tentou puxar conversa com ele. Afinal, tinha poucas horas de vida e achou que não seria nada demais dialogar; mas o guarda permanecia mudo. Ainda assim, Antoine sorriu para ele - um sorriso com um misto de pavor e ansiedade.  Exupéry arriscou de novo: - Você é pai? A resposta foi um leve movimento de cabeça, afirmativo. - Eu também - prosseguiu o prisioneiro - Só que há uma

OS AMIGOS

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Eram apenas amigos, mas pareciam ter a mesma alma. Compartilhavam mutuamente tristezas e alegrias. Eram inseparáveis. Contudo, certo dia, começaram a observar um ao outro com olhos críticos. Daí cada um percebeu quantos defeitos havia no outro e, passado algum tempo, a amizade esfriou. No início, nem se deram conta. Entretanto, quando um deles perdeu um ente querido, o outro não compareceu ao velório. E o outro, no seu aniversário, não recebeu o abraço do amigo, nem mesmo os parabéns.  Então, semanas depois, encontraram-se numa praça e confessaram mutuamente como estranhavam o que estava acontecendo entre eles. Decidiram então convidar um terceiro amigo, que os convidou para um passeio. Após uma boa caminhada, encontraram uma limeira. Seus frutos saborosos dessedentaram os três e sua sombra os reconfortou. O terceiro amigo, olhando para a árvore, disse: - Esta árvore tem bons frutos, mas se fosse podada poderia produzir muito mais. Que acham? Os outros dois gostaram da idei

O SEGREDO DAS CRIANÇAS FELIZES

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Ao final da Segunda Grande Guerra, em 1945, a Europa estava em ruínas. Entre tantos problemas, havia o cuidado de centenas de órfãos, cujos pais foram mortos ou desapareceram na guerra. A Suíça, que permanecera neutra durante o conflito, enviou alguns dos seus profissionais de saúde para ajudar a solucionar a referida questão.  Um dos médicos, visando pesquisar a melhor forma de cuidar dos bebês órfãos, viajou pela Europa. Visitou muitos locais onde tais crianças eram assistidas. Ele presenciou situações extremas. Em alguns lugares, onde campos hospitalares americanos foram montados, bebês eram colocados em berços limpos, em enfermarias higienizadas e alimentados em horários regulares por enfermeiras uniformizadas - com todo rigor de higiene e cuidados possíveis. Em outra ponta, numa remota vila das montanhas, um caminhão simplesmente encostou e o motorista perguntou: - Vocês podem cuidar destes bebês? E largou quase cinquenta crianças chorando, aos cuidados dos moradores d

O PODER DA GENTILEZA

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Na década de 1930, numa aldeia polonesa, vivia um rabino chamado Samuel. Costumava, diariamente, fazer longas caminhadas pelos campos.  Era conhecido pela forma cortês com que se dirigia a todos, apesar de, naquela região, as relações entre cristãos e judeus não serem tão amistosas. Assim, toda vez que o rabino passava pelo sr. Müeller, um camponês, o cumprimentava com um sonoro "bom dia!" Mas não recebia nenhuma resposta. O lavrador simplesmente lhe voltava as costas. O rabino, contudo, não desistia. Todas as manhãs, ao passar pela porta do sr. Müeller, o cumprimentava como sempre. Finalmente, depois de muito tempo, Müeller decidiu responder à saudação. A princípio, um leve toque no chapéu. Depois, acrescentou um sorriso. Posteriormente, gritava de volta:  - Bom dia, sr. rabino! Alguns anos depois, os nazistas invadiram a Polônia e o rabino e sua família foram feitos prisioneiros e deportados. Transferido de um campo de concentração para outro, Samuel acabou cheg

TROCA DE GENTILEZAS

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No início dos tempos, os penachos da arara eram de um vermelho muito vivo. Ela tinha grande orgulho de sua longa cauda e seu belo topete. Todavia, apesar de sua beleza, a arara não tinha morada certa, pois nada entendia sobre construção. Mas ela tinha um vizinho, o compadre pica-pau, que, apesar de feio, era um exímio construtor. Decidiu então pedir ajuda a ele. - Compadre, poderia por gentileza improvisar um abrigo para mim? Não consigo construir um que me sirva! - Sem problemas, comadre arara! Em pouco tempo, escavando um espesso tronco, o pica-pau entregou à arara um ninho aconchegante e seguro. Encantada e agradecida, a arara presenteou o compadre com seu topete vermelho. É por isso que, hoje, as araras vivem em ninhos escavados em troncos mortos e os pica-paus ostentam belos topetes chamativos.   Toda pessoa de bom coração retribui um ato de solidariedade com um profundo sentimento de gratidão, que se expressa com outra boa ação.  Lenda indígena - adaptação de Marcos A

AS BARULHENTAS

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Numa trilha muito acidentada, uma junta de bois puxava uma pesada carroça. A cada volta nos eixos, as rodas de madeira gemiam aguçada e ruidosamente. Impaciente com o barulho, o cocheiro gritou: - Rodas, por que vocês fazem tanta barulheira? São os bois que aguentam todo peso e no entanto estão calados! Um dos bois murmurou para o outro: - Pior que ele tem razão! Já reparou que os que mais reclamam são os que menos fazem? Fábula de Esopo (620 - 564 a.C.) - adaptação de Marcos Aguiar. 

RENÚNCIA DE MÃE

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Um homem, certa feita, numa roda de amigos, relembrou algo da própria infância: "Éramos treze irmãos. Quando garoto, me inquietava o fato de minha mãe raramente almoçar ou jantar conosco. Um dia tomei coragem e perguntei a ela sobre isso. - É que não sinto fome, meu filho - foi a resposta dela, acrescida de um sorriso terno. Eu achava estranho minha mãe quase nunca ter fome e sempre que eu a indagava, ela me respondia a mesma coisa. Os anos se passaram e todos crescemos. Hoje sei que minha mãezinha deixava de comer, não por falta de fome, mas por falta de comida. Ela, uma mulher semi-analfabeta, cuidava de nós com tanto amor e nenhum de nós percebia, naquele tempo, que ela renunciava à comida para que pudéssemos nos alimentar, mesmo precariamente. Jamais permitiu que nos sentíssemos culpados pelas necessidades que nossa família enfrentava." Não é preciso dizer que todos os presentes choraram. Esse é o verdadeiro amor. O amor que sabe renunciar até mesmo às necessi

PRIVILEGIADA VELHICE

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O anúncio da morte de Ana Varianni se deu em 2009, poucos dias antes de seu 99° aniversário. Em 2005, foi descoberta por uma equipe de reportagem, realizando seu voluntariado junto a outros idosos. Ganhou as telas ao ser entrevistada em dois programas televisivos, em 2008. Num deles afirmou que, no ano anterior, aos 97 anos, renovara sua carteira de motorista. E, apesar de recomendações dos familiares para abandonar o volante, ela continuou a comparecer ao serviço voluntário, em dois locais diferentes, dirigindo seu fusca laranja, ano 1974. Recebeu do governo do Rio Grande do Sul o troféu Ana Terra, pelos relevantes serviços prestados à comunidade. Radicada em Bento Gonçalves, no estado gaúcho, a imigrante italiana demonstrava notável agilidade física e mental, a despeito da idade avançada.  Em uma das instituições em que trabalhava, Ana era responsável por nada menos de doze idosos, todos setentões. Servia-lhes comida na boca, dadas as deficiências de que eram portadores.

TESTEMUNHO DE AMOR

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Completamente envolvida nos preparativos do casamento da filha, Rita estava com a agenda cheia. Eram muitas providências: o salão para a festa, a decoração, os músicos, o cerimonial, o bolo, as bebidas e outros tantos pormenores.  Dois dias antes do casamento, Rita estava revendo detalhes no local da recepção quando notou um senhor espreitando à porta. Ela o cumprimentou e logo percebeu que era um solitário desejando conversar. Ele contou que, em criança, sofrera um acidente, batera com a cabeça e, por isso, passara sua vida num asilo. Estava passando uma temporada na casa de um irmão e saíra para um passeio antes do jantar. Curioso sobre o que iria acontecer no salão, soube do casamento; então perguntou se poderia vir dar uma espiada na festa. Rita o convidou para a recepção. Chegou o grande dia e tudo saiu como planejado - a cerimônia, a música, o corte do bolo, risos, danças e muita alegria. Aí alguém veio dizer a Rita que um cavalheiro estava na entrada e desejava lhe f

O PRESENTE MAIS ESPECIAL

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Numa pequena cidade litorânea, havia uma única escola com uma só classe e uma professora apenas. As crianças e sua mestra viviam uma relação deveras afetuosa, de tal maneira que pareciam uma verdadeira família.  Quando chegou o dia do professor, todos os alunos resolveram fazer homenagens à professora, trazendo-lhe variados presentes. Os filhos do dono da chácara trouxeram uma cesta cheia de frutos bonitos e maduros. O filho do granjeiro presenteou-a com uma bela bandeja de ovos de codorna. A filha da cozinheira do restaurante chegou um bolo de cenoura lindamente enfeitado, com cobertura de chocolate. Três irmãos que viviam na fazenda trouxeram para ela um pequeno cabrito. Emocionada, a professora abraçava e agradecia a cada um. O último a dar algo à professora foi o único índígena da classe. O curumim lhe entregou uma concha. Ela ficou encantada. Recordando a própria infância, colocou a concha no ouvido para escutar o barulho do mar. Embevecida, passaram-lhe pela mente cen

INFORTÚNIO OPORTUNO

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Na cidade de Beatrice, no estado de Nebraska, EUA, os membros do coral de uma igreja haviam combinado reunir-se para um ensaio. Era primeiro de março de 1950 e o início da reunião seria às 19:20. No entanto, estranhamente, todos os quinze envolvidos acabaram se atrasando por motivos diversos, de maneira que nenhum deles estava presente no local às 19:25. Duas senhoras, que não moravam na mesma casa, tiveram dificuldade em dar partida nos seus respectivos carros.  Uma adolescente se deteve em casa até mais tarde, pois precisava concluir sua tarefa escolar. Duas outras jovens, obcecadas com o capítulo da novela, perderam a hora. Uma quarta garota acabou pegando num sono prolongado e só acordou após muita insistência da mãe.  O próprio regente se atrasou porque ficou esperando que a esposa acabasse de passar o vestido da filha mais velha, também integrante do coral. Todos enfim, por alguma razão, não chegaram ao templo no horário acertado.  O fato é que, precisamente às 19:25,

O BOM RETORNO SEMPRE VEM

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Um escravo constantemente maltratado por seu senhor conseguiu fugir para a floresta. Lá, encontrou um enorme leão que chorava por causa de um espinho em sua pata.  Corajosamente, o homem se aproximou e se ofereceu para ajudá-lo. Com bastante cuidado, arrancou o espinho. O grande felino, olhando-o com ternura e gratidão, foi embora e não o atacou. Alguns dias depois, o dono do escravo saiu à floresta para caçar e capturou vários animais. Seus capangas, que haviam se espalhado pela mata, encontraram o escravo fugido e o prenderam, levando-o ao cruel senhor. Este ordenou que jogassem o escravo numa das jaulas. Mas quando estavam para fazê-lo, um leão surgiu, rugindo terrivelmente - o mesmo leão da pata machucada. Todos os homens, aterrorizados, fugiram, deixando tudo para trás. O leão reconheceu o homem que o salvara; desatou as cordas que o prendiam e, entrando na mata, desapareceu. O escravo então libertou todos os animais que tinham sido enjaulados. Talvez o bom retorno não

TATO DE MÃE

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Um menino, com alguns versinhos à mão, entrou correndo pela porta do quarto dos pais, ansioso pra que ouvissem seu recém-criado poema. Encontrou-os, todavia, numa discussão acirrada a respeito de um assunto qualquer.  O pequeno ficou ali, ao lado, quase invisível, tentando chamar para si a atenção.  - Pai, mãe, vejam o que escrevi! Repetiu o apelo algumas vezes, falando cada vez mais alto; mas a balbúrdia no aposento tornou-se quase insuportável. Ninguém se entendia e todos queriam ser ouvidos. O pai, repentinamente, já sem paciência, tomou a folha de papel das mãos do garoto, amassou-a com força e gritou:  - Já não expliquei que agora não posso? E atirou o papelzinho amassado na lixeira mais próxima. O pobre menino ficou sem chão e repleto de lágrimas. Mais tarde, a mãe, que não ficara satisfeita com a cena, cheia de compaixão, foi ter com o filho. Ele havia recuperado sua criação - agora uma folhinha toda enrugada. Tinha um semblante emocionado e condoído. - Filho... foi

O MAU IMPULSO

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Em certa aldeia havia um sujeito rude, mas sincero, que foi ter com o homem mais sábio do lugar. Queixou-se sobre não saber lidar com um mau impulso que o dominava constantemente. - Sabes montar a cavalo? - indagou o sábio. - Ah, sei sim, e monto com muita perícia. Consigo controlar até cavalos bravios e impetuosos. - E quando acontece de cair, o que você faz? - Monto outra vez, ora! - Pois bem: doravante faça de conta que o mau impulso seja um cavalo. Se cair, torne a montar. Com o tempo você domará esse "cavalo" e "cavalgarás" sobre ele sem receio ao longo da estrada da vida! - concluiu o sábio, piscando o olho e sorrindo. Texto de Malba Tahan - adaptação de Marcos Aguiar. 

DIFÍCIL LIÇÃO

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A doutora Elisabeth Kübler-Ross (1926-2004) ficou conhecida mundialmente por ter tido a ousadia de falar a respeito da morte e do morrer. Num tempo em que alguns países aprovavam leis que permitiam a eutanásia, ela ensinou como se deve aguardar o momento derradeiro da existência.  Após alguns derrames, Elisabeth ficou totalmente à mercê do auxílio alheio. Entretanto, ela afirmava que estava aprendendo as lições da paciência e da resignação, dia após dia. Sofrendo dores constantes e progressiva fraqueza, aguardava ansiosa o momento de sua partida. Dizia ter muitas lições finais a aprender e que, apesar de todo o sofrimento, era contra aqueles que tiram a vida das pessoas de forma prematura, apenas porque elas padecem dores e desconforto. Antes totalmente independente e ativa, ficou limitada a uma cama e uma cadeira de rodas. Perdeu por completo a privacidade, pois as pessoas entravam e saíam de seu quarto o tempo todo. Havia dias que sua casa enchia de visitas; em outros, fi

SEU GRANDE VALOR

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Um caracol sentia-se muito infeliz. Via que quase todos os animais eram mais ágeis que ele. Uns brincavam, corriam e saltavam, enquanto que ele vivia aborrecido sob peso de sua carapaça. Amigos e familiares tentavam, mas não conseguiam animá-lo. - Caracol, pensa um pouco: se a natureza te deu essa carapaça, foi para algum propósito - ponderou a tartaruga, cuja situação era semelhante à do amigo. - Sim; mas pode explicar-me a razão? - rebatia o caracol com amargura. Seu pessimismo chegou a tal ponto que todos o abandonaram. E ele seguia vagarosamente seu caminho com a carapaça às costas, parecendo-lhe mais pesada do que realmente era. Um dia, desabou uma tempestade que se estendeu por muito tempo e as águas subiram, inundando tudo. Praticamente todos os bichos da mata agora estavam em apuros. O caracol, porém, encontrou um refúgio seguro - dentro da própria carapaça! A partir dali, o caracol passou a compreender a utilidade de seu teto natural. Abandonou o hábito de reclamar

A PIPA PRETENCIOSA

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Um papagaio de papel estava subindo, prestes a alcançar as nuvens, quando percebeu lá embaixo uma pequena borboleta; então gritou-lhe: - Mesmo daqui de cima, consigo te enxergar muito bem! E quer saber? Tenho certeza de que você me inveja por eu estar tão elevado assim! - Inveja de você? Eu não! Essa tua arrogância não faz sentido: você pode estar voando bem alto, sim, mas continua preso a um fio e, dessa forma, és um infeliz! Quanto a mim, é bem verdade que não consigo voar tão alto; mas sou livre! Vou aonde quero e nem por isso fico me gabando como um estúpido! Nem sempre quem vai "mais longe" é mais feliz; às vezes a pessoa precisa pagar o alto preço da própria liberdade pra “subir na vida". Fábula russa - adaptação de Marcos Aguiar. 

O PERU MEDROSO

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Um peru e um galo estavam empoleirados na mesma árvore. A raposa os viu de longe e começou a lamber os beiços, antevendo uma bela refeição.  O peru foi o primeiro a notar a presença da predadora e, por pouco, não caiu da árvore com o susto. Já o galo desatou a rir. Consciente de que raposas não sobem em árvores, fechou os olhos e dormiu tranquilo. Mas o coitado do peru tremia como vara verde e não tirava o olho da raposa. Esta pensou: "O galo não apanho, mas o peru já está no papo!" Ela então começou a fazer trejeitos horríveis, dar pinotes e urrar. Isso foi deixando o peru cada vez mais apavorado. Por fim, de tanto medo e tremedeira, ficou tonto e caiu do galho, indo parar entre os dentes da raposa. O medo em excesso nos deixa cegos ao real perigo que corremos e, consequentemente, mais vulneráveis àqueles que buscam o nosso mal. Fábula de Monteiro Lobato - adaptação de Marcos Aguiar. 

UM MESTRE CHAMADO "DISCRIÇÃO"

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Um homem encontrou um ancião sentado na praça e se aproximou. - O senhor lembra de mim?  - Sinceramente, não - respondeu o idoso. - Fui seu aluno! - explicou o homem, sorrindo. - Ah, certo. Diga-me, o que você faz na vida? Qual o seu trabalho? - Tornei-me professor! - Ah; então você seguiu os meus passos! - completou o ancião, sorrindo também. - Pois é. Na verdade, me tornei professor graças ao seu exemplo. O velho então, curioso, perguntou em que exatamente ele tinha sido um exemplo. E o homem respondeu com uma história: - Um dia, um colega de classe chegou com um relógio novo e bonito. Fiquei com inveja e decidi roubar o relógio. E foi o que fiz, num momento em que o dono estava distraído. Mas logo ele percebeu o furto e foi até ao senhor para se queixar. O senhor então interrompeu a aula e disse: "o colega aqui perdeu o relógio e acha que um de vocês o roubou. Quem o roubou, por favor devolva-o". Eu não o devolvi; fiquei com medo de ser envergonhado na frente d

O PRÊMIO DO PREGUIÇOSO

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Moravam, num pequeno sítio, uma galinha ruiva muito trabalhadeira e um porco muito gordo e acomodado. Um dia, ciscando no terreiro, a galinha encontrou uns grãos de milho. - Maravilha! Vou plantar estes belos grãos e, depois, quando nascer o milho, farei um gostoso bolo de fubá! Enquanto colhia os grãos, a galinha achou que seria legal chamar o porco para ajudá-la; assim, os dois poderiam comer o bolo juntos. - Bom dia, porco! Que tal vir me ajudar a preparar a terra, plantar estes grãos, regar e, posteriormente, colher o milho? Depois iremos debulhar o milho e fazer um delicioso bolo! O que me diz? Deitado num canto do chiqueiro com a enorme pança e semblante desanimado, o porco apenas levantou levemente a cabeça e resmungou: - De jeito nenhum! Estou aqui no bem-bom, tirando meu cochilo e descansando. Se vire aí com seu trabalho. - Então tá. Pode deixar. Farei isso sozinha - retrucou a galinha, desapontada. E foi embora.  O porco nem fez caso e tornou a cochilar. Algum tem

TODOS SÃO ESSENCIAIS

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Um dia, todas as aves foram convocadas para uma assembleia. A águia, que presidia a sessão, começou: - Amigos, precisamos fazer uma limpeza nos ares. Estive conversando com o faisão, o condor e o falcão e decidimos condenar os abutres à morte. Eles simplesmente denigrem os céus com sua aparência grotesca e horrível. Eles não são necessários. Ao proferir esse discurso de ódio, a águia estava aproveitando a ausência dos abutres. Eles estavam ocupados e mandaram avisar que iriam chegar com atraso. O falcão e o condor receberam a tarefa de encontrar os abutres e matá-los. Sobrevoaram quilômetros à procura dos desprezíveis pássaros, sem resultado. Foi quando se depararam com um campo de batalha dos humanos e incontáveis cadáveres espalhados por toda parte. Ali, naquele cenário terrivelmente mal cheiroso, os abutres celebravam um grande banquete.  - É agora! - disse o condor. - os abutres estão distraídos com a festa deles. Vamos pegá-los! E assim o condor e o falcão se lançaram

QUANDO A LÍNGUA BATE COM OS DENTES...

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Um mancebo tinha o vício de falar mais do que devia. - Que língua! - queixavam-se os dentes - Nunca está quieta! Nunca se cala! - Que é que estão aí resmungando? - replicou a língua com arrogância - Vocês, os dentes, não passam de servos unicamente incumbidos de mastigar os alimentos que eu escolho. Não temos nada em comum, então não admito que se metam nos meus assuntos e nem queiram me silenciar. O rapaz continuava a tagarelar, pois a língua, afoita, sempre encontrava assunto. Então, certo dia, aquele moço cometeu um grande delito e ordenou à lingua que inventasse uma grande mentira. Mas os dentes, obedecendo ao coração, morderam-na. A língua ficou corada de sangue e o jovem, arrependido, corou de vergonha. Daquele dia em diante, a língua passou a ser cautelosa e prudente, e antes de falar pensava duas vezes. E você? Controla a língua? Conto de Leonardo da Vinci - adaptação de Marcos Aguiar. 

TEMPO E ATENÇÃO

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Sempre que os pais de Soninha chegavam em casa, ela corria e pulava no colo deles: - Papai, brinca comigo? - Filhinha, papai tá cansado. Acabei de chegar do trabalho. Depois o papai brinca, tá bom? - Mamãe, lê uma história pra mim? - Meu amor, agora não. A mamãe está exausta, e ainda tenho que arrumar a cozinha. Depois, filha, tá bom? O problema era que o "depois" nunca chegava. Soninha esperava e nada. E a coitada ficava triste. Afinal, ela não estava pedindo muito; apenas um pouco de tempo pra os pais ficarem com ela. Quase todas as vezes que ela insistia nisso, ouvia esta resposta: - Soninha, quantas vezes o papai e a mamãe vão ter que te dizer que chegamos cansados do trabalho? Nos dê um tempinho, sim? O casal foi para a sala e ligou a TV. Soninha sentou-se ao lado deles: - Pai, o jornal acaba logo? - Agora que começou, filha. - E então, mãe, falta muito pra o jornal acabar? - Falta sim, filha, e silêncio, que não estou escutando nada. - Pai, quando o jornal a

O BURACO NO CAMINHO

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Um homem caminhava por uma estrada quando, distraído, caiu em um grande buraco. Gritou por ajuda, mas ninguém apareceu. Tentou escalar as paredes do buraco, mas sempre escorregava e caía. Chorou, gritou, xingou, se culpou, culpou a pessoa que cavou o buraco. Depois de muito pensar, ele teve a ideia de fazer uns buracos na parede para apoiar os pés e assim conseguir sair, o que aconteceu com muito esforço, suor, machucados e arranhões.  Semanas depois, o homem precisou passar pelo mesmo lugar e acabou caindo novamente no buraco. Dessa vez, ficou muito irritado por ter cometido o mesmo erro; no entanto, ele já sabia como sair, então não foi tão custoso quanto a vez anterior.  Cerca de dois meses depois, o mesmo homem, entretido, passou por aquele caminho e caiu mais uma vez no bendito buraco. Ele não gritou e nem xingou; apenas fez o que tinha que fazer e saiu. Quase um ano depois, ao passar pela mesma estrada, o sujeito se lembrou das vezes em que havia caído no buraco e, at

UM VERDADEIRO AMOR

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Havia, tempos atrás, um casal de idosos. Ele tinha 85 anos e ainda insistia em andar de mãos dadas com a esposa, aonde quer que fossem; ela era um pouco mais jovem que ele. Um dia perguntaram ao marido: - Por que sua esposa está sempre tão distraída, como se não estivesse seguindo ninguém? - Ah... ela tem Alzheimer. Breve silêncio.  - Será que sua esposa se importaria se você a deixasse ir? O ancião, sempre simpático, explicou: - Ela não lembra de nada. Ela não sabe mais quem eu sou, nem me reconhece há anos! - Mas o senhor ainda continua a guiá-la todos os dias, mesmo ciente de que ela não o reconhece mais? E o velho completou, sorrindo: - Ela já não sabe quem eu sou, mas eu ainda sei quem ela é. Ela é o amor da minha vida. É por isso que não a abandono! Um amor assim, completamente desprovido de egoísmo, que se dedica ao outro sem esperar nada em troca - existirá?  Texto de Qasim Mohammad - adaptação de Marcos Aguiar  

UMA LIÇÃO DA DONA CLOTILDE

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A dona Clotilde do 71, injustamente chamada de "bruxa", nos ensina, há décadas, a como não persistir em algo que a gente já sabe que não vai acontecer. Foram tantos bolos, galetos, águas de colônia, demonstrações de cuidado e de preocupação pelo Seu Madruga - nada adiantou. O fato é que a dona Clotilde nunca deixou de ser coadjuvante na sua própria história de amor. Ela é o retrato de nossas ligações não atendidas, convites ignorados, mensagens visualizadas e não respondidas. É a personificação daquelas afeições que a gente concebe a sós na solidão do quarto, deixando o sono sufocado. Quantas oportunidades não deixamos de aproveitar enquanto insistimos com tal atitude! Talvez dona Clotilde pudesse ter casado com o Sr. Barriga, "fisgado" o professor Girafales, ou simplesmente aprendido a viver sozinha, mas feliz; entretanto ela persistiu em tentar com alguém que sempre fugia dela. Persistência não implica necessariamente em êxito; nem sempre amar signific

A LIÇÃO DO CACHORRO

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"Oi!  Posso ser-lhe muito útil, sabia? Posso te ensinar a ser um humano melhor. Quer ver? Aprenda: Quando alguém que você ama chega em casa, corra ao seu encontro e o cumprimente; mostre seu carinho por ele. Nunca perca uma oportunidade de sair com essa pessoa. Imponha-se àqueles que invadem o seu território; mostre quem é que manda no pedaço. Reserve sempre um tempinho pra tirar uma soneca; espreguice-se antes de levantar. Corra, pule e brinque todos os dias; aproveite sua vida curta. Tente se dar bem com todos; não se isole. Não precisa ser agressivo quando um simples "rosnado" resolve a situação. Pare e role na grama, beba bastante água e deite-se à sombra de uma árvore. Quando estiver feliz, balance seu corpo, dance, mexa-se. Não importa quantas vezes os outros te magoarem: nunca se sinta culpado; volte e faça as pazes novamente. Aproveite o prazer de uma longa caminhada; gaste muita energia e coma só o suficiente. Seja leal. Nunca pretenda ser o que você

SEMPRE É TEMPO

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No primeiro dia de aula em uma universidade, o professor pediu que cada um cumprimentasse alguém a quem ainda não conhecia. Um aluno estava olhando em volta, quando sentiu um toque suave no ombro. Voltando-se, viu uma velhinha muito simpática. - Olá, rapaz! - disse ela - Meu nome é Rose. Tenho oitenta e sete anos. Posso lhe dar um abraço? - Ah, claro que sim - respondeu o moço - Mas, me diga: por que a senhora está na universidade a esta altura de sua vida? O que a motiva a enfrentar este desafio? - Ah, meu jovem! Sempre sonhei em ter uma educação universitária e agora vou ter. Depois da aula, ambos caminharam juntos por algum tempo e se tornaram bons amigos. Todos os dias, durante os três meses seguintes, saíam juntos da classe e conversavam por longas horas. O moço estava fascinado em interagir com aquela "máquina do tempo ambulante". Ela compartilhava com ele sua sabedoria e experiência. Além disso, Rose se fez muito popular na universidade, conquistando a simp