ENGANANDO A SI MESMO




Todos os dias, um jovem viúvo precisava sair a trabalho, deixando seu filho pequeno sozinho em casa.
Uma tarde, quando ele ainda estava fora, um bando de arruaceiros ateou fogo à aldeia, destruindo muitas casas; mas quando ouviram os gritos de socorro do filho do viúvo, resolveram salvá-lo e raptá-lo, a fim de que não os delatasse.
Ao voltar para casa, o homem se deparou com o cenário de destruição e entrou em pânico. Encontrando o corpo carbonizado de uma criança, julgou ser o seu filho e deixou-se prostar, chorando copiosamente. Depois mandou cremar o corpo e depositar as cinzas numa bela e pequena urna, que passou a carregar consigo a todo lugar.
Alguns meses depois, não se sabe como, o garoto conseguiu escapar dos sequestradores e encontrou o caminho de casa. Chegou tarde da noite e bateu à porta. O pai, que ainda vivia deprimido com a perda do filho, perguntou:
- Quem é?
- Sou eu, pai! Abra a porta!
Em seu perturbado estado de alma, convencido de que o filho estava morto, o homem simplesmente achou que alguém o estava ridicularizando.
- Vá embora! - gritou lá de dentro.
Depois de muito insistir, vendo que o pai não iria sair, o garoto foi embora e tomou um rumo desconhecido. 
Pai e filho nunca mais se viram de novo.
Às vezes, acreditamos cegamente em uma "verdade" com tamanha intensidade que, mesmo quando a autêntica verdade bate à nossa porta, preferimos permanecer iludidos.

Texto atribuído a Sidarta Gautama, o Buda (563-483 a.C.) - adaptação de Marcos Aguiar. 

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