UMA LIÇÃO PARA HILDA




Uma menina rica e metida chamada Hilda diariamente destratava uma mocinha que vendia doces de porta em porta. Logo que a via, falava:
- Que vergonha ficar andando com essa bandejinha de doces, hein? Vai-te daqui! - berrava.
A pobre adolescente se punha pálida e trêmula, sem nada responder.
Entrementes, a dona da casa, mãe de Hilda, ao ouvir aquilo, saía ao encontro da jovem humilhada e dizia com bondade:
- Que doces tão lindos! Quem os fez? 
A mocinha, reanimada, respondia contente:
- Foi a mamãe!
A generosa senhora então comprava-lhe alguns doces. Em seguida, ao chegar em casa, procurava corrigir a filha:
- Hilda, cuidado. Não brinque com o destino. Nunca expulse o necessitado que nos procura. Quem sabe o que sucederá amanhã? Aqueles que socorremos poderão se tornar nossos benfeitores.
Hilda apenas resmungava.
À noite, ao jantar, o pai fazia coro às advertências da esposa:
- Nunca zombe de ninguém, minha filha. Mesmo o trabalho mais humilde é sempre respeitável e digno. Certamente não é sem razão que essa jovenzinha precisa vender doces de porta em porta.
Mas Hilda não se emendava. Assim que avistava a pobre vendedora, vomitava-lhe nomes feios.
O tempo passou.
O pai de Hilda, acometido de grave enfermidade, morreu numa tarde calma, deixando uma grande lacuna.
A viúva recolheu-se ao leito extremamente abatida e, com as crescentes despesas, em breve a pobreza e o desconforto assolaram a família. Já nem tinha condições de comprar um par de sapatos para a filha.
Hilda estava desolada, inconsolável com a morte do pai e com a situação na qual agora viviam. 
Numa noite, em que pegou no sono somente após muito choro, sonhou com o pai. Ele descia do céu para confortá-la e dizia: "Não desanime, minha filha! Vá trabalhar! Venda doces para ajudar a mamãe!"
Hilda ficou impressionada com o sonho e tomou o propósito de seguir o conselho do pai.
Com esforço, a mãe enferma fez muitos doces e Hilda saiu em seguida para vendê-los. Algumas pessoas a recebiam com simpatia; outras, porém, a xingavam. Entretanto, mesmo triste e desalentada, ela insistia em bater cada porta.
Diante de uma delas, foi atendida por uma graciosa moça e de imediato teve um choque. 
Reconheceu a menina pobre que, anos antes, vendia doces e a quem ela tanto maltratou. Estava crescida, bem vestida e mais bonita.
Hilda esperou que ela a maltratasse por vingança, uma vez que ela também a reconheceu. Em lugar disso, a dona da modesta casa exclamou com meiguice:
- Que doces lindos! Quem os fez?
Hilda, timidamente, respondeu:
- Minha mãe. 
A ex-vendedora comprou todos os doces; em seguida a abraçou com tanto carinho que Hilda não pôde conter as lágrimas.
Foi o início de uma doce e sincera amizade.
A vida de Hilda transformou-se para sempre, a partir daquele dia. A experiência lhe dera uma inesquecível lição.

Texto de Chico Xavier - adaptação de Marcos Aguiar. 

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