HORA DE CONFESSAR




Reza a lenda que, numa aldeia indígena norte-americana, havia um estranho ritual cumprido pelos adultos. Um por um, saíam sorrateiramente da aldeia e seguiam por uma trilha até chegarem a um riacho, no meio da floresta. Sobre o riacho havia um tronco caído, já gasto pelos muitos pés que sobre ele tinham passado. Olhando em volta, após se certificar que ninguém estava por perto, o sujeito caminhava sobre o tronco. Agachando-se, olhava para o riacho e via o seu reflexo na água. Depois, sussurrando, começava a conversar com o riacho, contando-lhe os segredos mais profundos de seu íntimo. Isso o deixava aliviado e com um bem-estar que o preenchia por completo. Após essa "confissão", retornava à aldeia.
Apesar de todos os adultos fazerem isso regularmente, ninguém comentava sobre o assunto. Ainda assim, todo mundo parecia saber que todo mundo fazia a mesma coisa.
Um dia, duas crianças da aldeia encontraram a trilha na mata. Curiosas, percorreram-na e chegaram ao riacho. Avistando o tronco na água, caminharam sobre ele e olharam para baixo, para a água, e viram seus reflexos. Logo se pegaram conversando com o riacho, contando-lhe os segredos de seus corações. E, assim, também sentiram-se em paz. Entusiasmadas, voltaram correndo à aldeia e chamaram os adultos.
Quando lhes contaram o que tinham descoberto e feito, os adultos sentiram-se ofendidos e "ameaçados", pois o segredo deles fora descoberto. Eles então expulsaram aquelas crianças da aldeia, a pedradas.
O significado da lenda, segundo os índios, é que todo mundo precisa de alguém para desabafar. Mas, como fazer isso é uma demonstração de "fraqueza", ninguém quer que outras pessoas saibam dessa carência, embora todos a tenham.
A necessidade de se abrir com alguém seria mesmo "fraqueza" ou amostra de humildade? O que você acha?

Texto de Jamie Buckingham - adaptação de Marcos Aguiar. 

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