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Mostrando postagens de maio, 2024

DEDICAÇÃO DESINTERESSADA

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Certa senhora residia num asilo há três anos. Agradável com todos, era o centro das atenções. E, embora tivesse que permanecer na cama ou na cadeira de rodas, em função das muitas dores, mostrava-se continuamente feliz. Sempre tinha uma história para contar, com dicção clara e linguajar de alto e bom astral que encantava seus ouvintes. Por vezes, relatava fatos de sua própria vivência com familiares.  Uma vez, alguém lhe perguntou por quantos anos fora casada. - Cinquenta e três anos. E sem férias - respondeu com um suspiro. Outra interlocutora quis saber se o marido era tão bom e gentil, dada a longevidade da relação. - Até o dia do casamento me parecia que sim; mas, depois, as coisas foram mudando muito. Ele era bem mais velho, estrangeiro, ateu e com costumes bem diferentes dos meus. Eu, jovem oriunda de uma família humilde, tive uma infância pobre e muito religiosa. O deus dele consistia no dinheiro. Seus apegos maiores eram a gula e o sexo. Nunca falou que me amava ou

O PODER DA DOÇURA

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Um viajante seguia pela estrada, quando observou um pequeno rio que começava tímido por entre as pedras. Acompanhando o curso do rio por um bom tempo, notou que ele ia gradativamente se avolumando. Mais adiante, o que mais parecia um córrego se desdobrava agora em dezenas de cachoeiras, num espetáculo de águas cantantes. A música das águas enfeitiçou o andarilho, que se aproximou e foi descendo pelas pedras, ao lado de uma das cachoeiras. Descobriu, com surpresa, uma gruta, criada pela natureza com formas caprichosas. O homem entrou, impressionado com o aspecto das pedras gastas pelo tempo. De repente, descobriu uma placa. Alguém, obviamente, estivera ali antes dele. Com o auxílio da lanterna, leu a inscrição da placa. Consistia em versos do escritor Tagore, prêmio Nobel de literatura de 1913: "Não foi o martelo que deixou perfeitas estas pedras, mas a água, com sua doçura, dança e canção. Onde a dureza só faz destruir, a suavidade consegue esculpir." Assim também

MEMÓRIAS PRECIOSAS

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Laís e Clara chegaram eufóricas à casa da vovó, com suas mochilas quase explodindo com tantas coisas - roupas, travesseiros, mantas coloridas, brinquedos; enorme bagagem pra tão pouco tempo. - A gente trouxe tudo de que precisa, vó. A avó não deixou por menos. Estendeu um colchão grande no assoalho da sala, rodeado de almofadas, como se fossem paredes de uma cabana em plena floresta. Nesse espaço, avó e netas compartilharam momentos agradáveis. Houve leitura de estórias, simulação de piquenique, teatrinho e outros passatempos. Ninguém sabia quem estava mais feliz: a avó que recebia as netas ou elas que visitavam a avó. No entanto, houve um momento que superou os folguedos e guerras de almofadas e travesseiros. Foi quando a avó começou a relatar fatos da vida da mãe das meninas, da época em que essa tinha mais ou menos a idade delas. A curiosidade cresceu. Perguntas se sucediam umas às outras, quase sem cessar. Histórias da família e da escola, travessuras, peraltices - tudo

DE ONDE VEM A CHUVA?

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Fazia tempo que não chovia na roça, de maneira que os animais começaram a ficar inquietos. Uns diziam que ia chover logo; outros diziam que ainda ia demorar; mas não chegavam a um consenso. - Só chove quando cai água do teto do meu galinheiro! - comentou a galinha. - Ora, que bobagem! - retrucou o sapo de dentro da lagoa - Chove quando a água aqui começa a borbulhar! - Mas como assim? - replicou a lebre - Está visto que chove quando as folhas das árvores começam a gotejar a água que têm dentro! Nesse momento, começou a chover. - Viram? gritou a galinha - O teto do meu galinheiro está pingando. Isso é chuva! - Ora, não vê que a chuva é a água da lagoa borbulhando? - argumentou o sapo. - Nada disso! - retornou a lebre - Estão cegos? Não vêem que a água cai das folhas das árvores? Cada animal achava saber de onde vinha a chuva mas, na realidade, nenhum deles tinha o conhecimento, apenas opiniões. E opiniões não costumam se solidificar em fatos. Texto de Millôr Fernandes - adap

A XÍCARA DE CHÁ

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Havia um mosteiro no alto de uma montanha, onde vivia um grande mestre procurado por muitas pessoas sedentas de conselhos. Um homem, ouvindo falar sobre o mestre, decidiu ir conhecê-lo. Cruzou o país inteiro até chegar ao mosteiro e foi recebido pelo próprio mestre que o convidou para um chá. Sentaram-se e o mestre preparou as xícaras. O homem estava tão entusiasmado com o encontro que não parava de falar um único minuto; contou ao grande mestre sobre suas peregrinações, os livros que havia lido e tudo que havia aprendido. Falou o quanto era inteligente e até recitou frases de grandes pensadores. Enquanto isso, o mestre ia calmamente tomando o seu chá. Ao terminar de beber sua xícara, encheu-a novamente e começou a encher também a xícara do visitante, que não parava de falar. Daí a xícara transbordou, encharcando a mesa e escorrendo chá em abundância pelo chão.  O hóspede, surpreso e contrariado, gritou: - Pare! Não vê que está molhando tudo? Só então o mestre, serenamente,

ABANDONADA

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Numa manhã ensolarada, um rústico caixão foi baixado à sepultura. De quem se tratava? Ninguém sabia ao certo. Apenas meia dúzia de gente acompanhando o féretro. Nenhum choro ou lamento pela ausência do morto, nem mesmo balbúcios de adeus. O corpo pertencera a uma idosa residente no asilo regional, onde havia passado grande parte da vida. Uns dias após seu sepultamento, a zeladora encontrou numa gaveta, ao lado da cama da falecida, algumas anotações. Começou a lê-las e não pôde conter as lágrimas. Aquela anciã fora abandonada pela família naquele asilo, muitos anos antes, e desprezada para sempre. As próprias palavras da senhora expressam melhor a dor dela: "Onde andarão meus filhos? Aquelas crianças sorridentes que embalei em meu colo, alimentei com meu leite e cuidei com tanto desvelo, onde estarão?  Estarão tão ocupadas que não possam ao menos me telefonar para me dizer: 'olá, mamãe'? Ah! Se eles soubessem como é terrível a dor do abandono... a mais depriment

VERDADEIROS REIS

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Uma vez, numa pequena aldeia, chegou um caçador que estava perdido. Dirigindo-se a um camponês, perguntou: - Você sabe o caminho para Gondar? - Sei sim, senhor, mas já está anoitecendo e Gondar fica a um dia de distância daqui. Então sugiro que pernoite em minha casa e amanhã cedo poderá partir. O homem aceitou o convite alegremente. O camponês preparou-lhe uma de suas poucas galinhas para o jantar e lhe ofereceu o seu leito, indo dormir no chão. No dia seguinte, antes de sair, o caçador disse: - Já que você sabe o caminho para Gondar, poderia me acompanhar até lá pra que eu não me perca novamente? - Tudo bem, irei com o senhor, mas com uma condição: chegando lá, quero que me mostre o rei, pois eu nunca o vi. - Combinado. Você o verá. Assim partiram, ambos montados no cavalo do caçador. Passaram por montanhas e bosques, durante um dia e uma noite inteira de viagem. Chegando a Gondar, o camponês indagou: - Como vou saber quem é o rei? - Muito simples: quando todo mundo fizer

TSE E YUNG

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Certa vez, numa pequena vila, nasceram dois meninos de famílias diferentes, no mesmo dia e horário e, para surpresa de todos, ambos nasceram com um grande nódulo na testa. Um dos meninos se chamava Tse e seus parentes eram muito arrogantes. Horrorizados com a aparência do menino, chamaram um médico para remover o nódulo, mas como o procedimento se mostrou arriscado, decidiram criar o garoto às escondidas. O outro menino se chamava Yung e sua família era amorosa e humilde. Eles cercavam Yung com todo amor e carinho possível, pois não queriam que ele se sentisse envergonhado ou rejeitado por causa do nódulo.  Passou o tempo e os meninos cresceram. Tse se tornou um rapaz cheio de complexos, sentia-se inferior e não conseguia evoluir em coisa alguma. Além disso, vivia amargurado e detestava conviver com outras pessoas. Já Yung se tornou um mancebo feliz e, mesmo diante de comentários maldosos, ele nunca se importava, pois se sentia amado e protegido por sua família. Yung era ta

A PEDRA MÁGICA

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Há muito tempo, um alquimista criou o que chamou de "pedra filosofal", uma pedra mágica capaz de transformar qualquer metal em ouro. No entanto, após enriquecer bastante com o uso da pedra, decidiu lançá-la do alto de uma montanha, pois não estava mais interessado em fazer dinheiro.  Anos se passaram e a pedra filosofal virou lenda. Muitos tentaram encontrá-la, sem sucesso. Até que, um dia, um homem apático e solitário resolveu procurar a tal pedra. Achou que pudesse preencher o próprio vazio com a procura. Assim, passou a ficar obcecado pela pedra, não pensando em mais nada. Acampado ao pé da montanha, todos os dias ele recolhia pedras, encostava uma a uma na fivela de seu cinto, na esperança de transformar o metal em ouro. Diariamente, durante anos, testou inúmeras pedras em vão. Uma vez, num dia muito quente, resolveu tirar um cochilo à sombra de um salgueiro. Ao acordar, percebeu um brilho diferente na fivela do cinto: ela tinha se transformado em ouro! No pri

MUNDO PEQUENO

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Uma rã morava no fundo de um poço abandonado. Ali era seu único lugar no mundo; só conseguia movimentar-se naquele limitado espaço e nunca saía de lá. Além daquilo, tudo o que a rã via era apenas um pequeno pedaço do céu. Não conhecia absolutamente nada lá fora. Certo dia, uma tartaruga marinha apareceu à beira do poço e a rã, lá do fundo, gritou-lhe: - Veja, amiga tartaruga, quão lindo e confortável é o meu mundo! Aqui, salto livremente e descanso num buraco da parede sempre que quero. Se desejo nadar, aqui tem água à vontade. Passear aqui neste local úmido é uma verdadeira delícia! Garanto que você jamais teve uma vida tão feliz como esta! Venha ver o meu paraíso! Curiosa, a tartaruga chegou um pouco mais perto. Porém, mal viu o "paraíso" da rã, recuou: - Quer saber, rã? O meu mundo, o mar, é tão imenso com milhares de quilômetros de extensão e milhares de braças de profundidade, que simplesmente não consigo descrevê-lo! Quanto mais o percorro, mais há para se e

DEIXANDO LIVRE

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Todo santo dia, um passarinho visitava a janela de um menino chamado José. Ele sempre acordava cedinho com o canto do pássaro. Então, certa vez, José decidiu capturar o passarinho, prendendo-o numa gaiola. Todo contente, foi logo mostrar à irmã Maria sua mais nova aquisição.  Maria ficou visivelmente desapontada com a atitude do irmão e fê-lo sentar-se.  - Vou te contar uma história - disse-lhe.  E continuou: - Uma vez, um menino apanhou um passarinho, assim como você, e o prendeu na gaiola. O passarinho, que antes cantava todos os dias, passou a ficar em silêncio, de tão entristecido. Certa noite, o menino teve um sonho em que o passarinho dizia para ele: “Por que me traiu dessa maneira? Todos os dias eu alegrava o seu dia com o meu canto e você me aprisionou de maneira cruel. Agora vivo triste; não quero cantar e nem comer, sinto falta de meus amigos e não posso mais voar!" Quando o menino acordou, correu para a gaiola a fim de soltar o passarinho, mas ele havia morr

AS COISAS "FALAM"

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Estavam casados há anos. Nádia era amorosa e dedicada, empenhando-se em manter a casa no mais perfeito equilíbrio. Apreciava as coisas em seus lugares corretos, evitando bagunça e desarranjos. Seu marido, entretanto, costumava deixar tudo fora do lugar. Quando precisava de algo, era uma verdadeira balbúrdia, porque perdia um tempo enorme procurando. Ao sair, não recordava onde deixara as chaves. Na hora do banho, não lembrava onde havia largado a toalha, e assim por diante. Nádia pedia com delicadeza que procurasse dar a cada coisa seu devido lugar, resguardando-se, assim, do estresse, mas ele simplesmente não lhe dava ouvidos. Então, certo noite, ao jantar, quando o esposo lhe perguntou como fora seu dia, Nádia respondeu: - Foi maravilhoso! Passei as horas a conversar com as coisas. - Com as coisas? Que coisas? Ficou louca? - Não! - continuou ela, sorrindo - Estou muito bem. Acontece que cada coisa que eu recolhia falava comigo. Por exemplo, o chinelo me disse que estava t

MAGIA DA POESIA

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Um velho poeta, apesar de ter escrito a vida toda, não lograra êxito com seus poemas. Por isso, vivia melancólico e recluso. Certo dia, enquanto desabava um forte temporal e ele se aquecia ao lado da sua lareira, de repente ouviu um grito do lado de fora da porta: - Por favor, me deixe entrar! Me ajude! Ao abrir a porta, o poeta se assustou um pouco: era um menino despido e tremendo de frio. Rapidamente o fez entrar, enrolou-o com uma manta e lhe preparou um leite bem quente. Em meio à urgência, o dono da casa não deixou de reparar na beleza encantadora do menino: era gordinho, bochechas fofas, olhos grandes, cílios compridos e cabelos cacheados que possuíam um brilho natural. Na mão, um pequeno arco.  - Qual o seu nome? - indagou o poeta. - Me chamo Amor! Nesse momento, o menino puxou o arco e uma flecha brilhante surgiu; e, inesperadamente, atirou a flecha no coração do poeta. Em seguida, o menino sorriu e desapareceu. A partir da estranha experiência, tudo em volta do ve

CUIDANDO DO DESTINO

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Muito tempo atrás, morava numa floresta, na Índia, um monge capaz de prever o futuro. Muita gente o procurava para ouvir suas previsões. Até que um dia, cansado daquilo, o monge passou a viver escondido em uma caverna, buscando sossego. Uns anos mais tarde, dois amigos se perderam na mata e foram parar na caverna onde o monge vivia. Ele os recebeu e os alimentou e assim pernoitaram ali. Conhecedores da fama do monge, resolveram aproveitar a oportunidade, pedindo-lhe que lhes revelasse o futuro deles. - Está bem - respondeu o monge. E disse a um deles: - Daqui a um ano você será o rei desta terra. E para o outro falou: - Daqui a um ano você será assassinado. No dia seguinte bem cedo os dois foram embora - um imensamente feliz e o outro desesperado. O que viria a ser rei se tornou arrogante e irresponsável; o que iria morrer se pôs a repensar sobre a sua vida e decidiu ser uma pessoa melhor dali em diante. Um ano se passou e os dois se reencontraram e decidiram fazer um passe

OS TRÊS IGUAIS

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Certa vez, na antiga cidade de El-Katif, apareceu um estrangeiro misterioso - um mago persa. Comentava-se que ele se fazia acompanhar de três homens tão rigorosamente idênticos, que não se podia descobrir um único traço fisionômico que permitisse distinguir um dos tais homens dos outros dois. A notícia chegou aos ouvidos do rei Fahad que, muito curioso, declarou que queria conhecê-los.  Assim o rei, acompanhado de seu séquito, dirigiu-se à tenda erguida pelo mago numa àrea erma, próxima à cidade. Recebido com reverência, o rei afirmou incisivamente que desejava ver de imediato os três homens iguais. Estando todos sentados confortavelmente no interior da tenda, o mago bateu palmas e pronunciou palavras de um idioma desconhecido.  No fundo da tenda, sobre um tablado, ergueu-se um pano, surgindo um homem magro e moreno, trajado adequadamente à maneira dos mercadores persas. - Eis, aí, ó rei magnânimo, o primeiro dos três homens! - disse o mago. Pouco depois, o homem retirou-se

VALIOSO QUILO DE FARINHA

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O renomado astro indiano Aamir Khan (1965-), comovido com a dificuldade de seus compatriotas, resolveu fazer algo inusitado por eles. Providenciou, do próprio bolso, grande quantidade de farinha para os pobres - isto é, um quilo de farinha para cada um. Entretanto, muitos dos contemplados acharam que não valeria a pena se deslocarem para o local de distribuição do alimento, considerando aquilo uma insignificância e perda de tempo. Afinal, era apenas um quilo de farinha! Mas aqueles que de fato sentiram necessidade compareceram, pois, para eles, a farinha significava muito e não poderiam desperdiçar a oportunidade. Essas pessoas, ao chegarem em suas casas e abrindo os pacotes, descobriram um conteúdo inesperado: a importância de 15.000 rúpias (cerca de R$ 1.000,00)! Dessa forma, a ajuda e o socorro chegaram aos que realmente precisavam e estavam cônscios da própria carência.  Autoria anônima - adaptação de Marcos Aguiar. 

COMPROMETIDOS ATÉ À MORTE

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Quando o Titanic afundou na sua viagem inaugural em 1912, levava muitos passageiros ilustres - entre eles, o magnata judeu John Jacob Astor IV. Sua fortuna era mais que suficiente para construir 30 transatlânticos como o Titanic. Todavia, diante de um perigo mortal, Jacob escolheu o que considerava moralmente correto e abriu mão de seu lugar num bote salva-vidas em favor de duas crianças assustadas. Outro milionário, Isidor Straus, co-proprietário da gigante rede americana de armazéns "Macy's", declarou, em meio ao desastre inevitável: - Não entrarei em um salva-vidas antes dos outros homens! Sua esposa, Ida Straus, também se recusou a embarcar no bote, cedendo seu lugar à sua recém-nomeada criada, Ellen Bird. Decidiu passar seus últimos momentos de vida com o marido. Essas nobres pessoas preferiram abdicar de suas riquezas e mesmo de suas vidas a comprometer seus princípios. Sua nobre escolha, selada com as gélidas águas do Atlântico onde submergiram, atesta