DEDICAÇÃO DESINTERESSADA
Certa senhora residia num asilo há três anos. Agradável com todos, era o centro das atenções. E, embora tivesse que permanecer na cama ou na cadeira de rodas, em função das muitas dores, mostrava-se continuamente feliz. Sempre tinha uma história para contar, com dicção clara e linguajar de alto e bom astral que encantava seus ouvintes. Por vezes, relatava fatos de sua própria vivência com familiares. Uma vez, alguém lhe perguntou por quantos anos fora casada. - Cinquenta e três anos. E sem férias - respondeu com um suspiro. Outra interlocutora quis saber se o marido era tão bom e gentil, dada a longevidade da relação. - Até o dia do casamento me parecia que sim; mas, depois, as coisas foram mudando muito. Ele era bem mais velho, estrangeiro, ateu e com costumes bem diferentes dos meus. Eu, jovem oriunda de uma família humilde, tive uma infância pobre e muito religiosa. O deus dele consistia no dinheiro. Seus apegos maiores eram a gula e o sexo. Nunca falou que me amava ou