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Mostrando postagens de agosto, 2023

ANTES QUE SEJA TARDE...

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Um homem, cheio de saudades, voltou do serviço e encontrou a esposa aprontando a janta. Encheu-a de abraços e beijos e, em seguida, sentaram-se para comer. De repente, o celular da mulher tocou. Era a mensagem de um colega desejando boa noite, mas o marido não gostou. Levantou da mesa sem terminar a refeição e foi para a cama. "Que coisa!", pensou a mulher. "Se chateando por uma simples mensagem! Eu é que não vou lhe mimar; ele não é criança!" Terminou de jantar, lavou a louça e foi deitar. O marido já estava dormindo, de costas para o lado dela; com despeito, ela também virou as costas para ele e assim passaram a noite. Pela madrugada, ela começou a passar mal, suando frio e sufocando, até sucumbir a um colapso. O homem acordou, levantou sem olhar para a mulher e se preparou para o trabalho. Mas antes de sair, deu uma espiada para a cama: a mulher permanecia lá. Pensou: "Ainda dormindo! Talvez esteja fingindo, só pra não se despedir! Também não vou

QUEM É O MELHOR?

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Viviam na mesma floresta um elefante e um macaco. Eram amigos, mas um dia entraram numa discussão. Cada um se achava melhor que o outro. - Sou rápido e esperto! - começou o macaco - Sou muito hábil com as mãos. Com certeza sou o melhor! - Ah, é? - retrucou o elefante - E eu sou forte! Consigo derrubar uma árvore apenas usando a minha tromba! Sou o maior animal da floresta e ninguém aqui tem coragem de me atacar! Depois de muito bate-boca, resolveram procurar um terceiro animal que pudesse dizer qual dos dois era o melhor. Encontraram a coruja, reputada como a mais sábia entre as aves. - Amiga coruja! - disse o macaco - Você, que é tão inteligente, nos ajude. - Estamos discutindo sobre qual de nós dois é o melhor animal - completou o elefante - Por gentileza, diga a ele que sou eu, para acabarmos com essa discórdia! - Sou eu o melhor, não você! - berrou o macaco. - Acalmem-se os dois! - falou a coruja - Para resolver essa questão, vocês precisam ser provados. Cumpram a missã

BOM PROPÓSITO

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O primeiro-ministro de certo rei costumava afirmar que tudo tinha um bom propósito. O rei gostava da companhia do ministro, especialmente pelas manhãs, quando cavalgavam pela floresta e podiam conversar à vontade sobre os mistérios da vida. A impressão do rei era que o ministro tinha sempre uma resposta pra tudo. Uma outra ocupação diária do soberano era em sua carpintaria particular, onde gostava de trabalhar com madeira, esculpindo estátuas e outros objetos. Numa tarde, enquanto talhava uma porta, o rei sofreu um acidente tão grave que lhe decepou o dedo indicador. Desesperado, mandou chamar o primeiro-ministro. - Está vendo? Como isso pode ter acontecido comigo, que sou justo e honesto? O ministro simplesmente respondeu: - É para um bom propósito.  O monarca, enfurecido, ordenou que lançassem à prisão o primeiro-ministro. Depois do ocorrido, tudo ficou diferente para o rei. Não tinha ninguém com quem pudesse conversar à vontade e suas cavalgadas matinais se tornaram soli

"DESPRENDA-SE E LIBERTE-SE!"

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Um monge peregrino seguia por uma estrada quando, do meio da mata, surgiu um outro homem, mais jovem. Um pouco assustado, o monge perguntou: - Posso fazer algo por você, meu rapaz? O outro abaixou os olhos e murmurou envergonhado: - Sou um ladrão e mergulhei no mundo do crime. Perdi o afeto de meus pais e de meus amigos. Tenho medo do futuro e não sinto sossego em momento algum. Vejo que o senhor é um monge, então me ajude a livrar-me desta angústia! O monge deu uma resposta estranha: - Estou com muita sede. Há alguma fonte por aqui? - Sim, há um poço logo ali, porém não há roldana e nem balde. Mas tenho aqui uma corda que posso amarrar na sua cintura e descê-lo para dentro do poço. O senhor poderá tomar água até se saciar e aí lhe puxo de volta. - Perfeito! Vamos lá. Em poucos minutos, o monge estava no fundo do poço. Não demorou muito quando sua voz se fez ouvir: - Pode puxar! O mancebo deu um puxão na corda mas, por mais que se esforçasse, não conseguia fazer o monge sub

CADA UM É CADA UM

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Um corvo admirou-se ao ver a rainha das aves, a águia, agarrar um cordeiro e erguê-lo do chão sem nenhuma dificuldade. Ela o levou para seu ninho, nas montanhas, batendo as asas como se não carregasse nada.  O corvo sentiu inveja de tamanha demonstração de força da águia e quis imitá-la. Mesmo menor em tamanho, ele tinha uma fome descomunal e um cordeiro seria um delicioso aperitivo. Nesse intento, aproximou-se de alguns cordeiros que pastavam tranquilamente. Escolheu o mais gordinho e, antevendo o banquete, tratou logo de pegá-lo. - Você será uma ótima refeição! - disse o corvo ao agarrar a pobre vítima, que começou a berrar com desespero.  Num esforço supremo, o corvo quis fazer igual à águia, mas não conseguiu. O cordeiro era bem mais pesado que imaginara e as patas do corvo eram curtas e finas, longe de se igualarem às poderosas garras da águia. Além disso, devido à espessa lã do cordeiro, o corvo não conseguia segurá-lo, ficando, ao contrário, com as patas emaranhadas.

SARDAS E RUGAS

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Num belo domingo de sol, muitas crianças estavam no zoológico com seus pais, tios ou avós. Um artista armou sua pequena tenda e logo se formou uma fila enorme de meninos e meninas, todos aguardando serem pintados no rosto com patinhas de tigre. Uma senhora se aproximou com a netinha, cujo rosto era todo salpicado de sardas vermelhas e salientes. Um garoto olhou para ela e gritou: - Você tem tantas sardas que ele não vai ter onde pintar!  A coitadinha abaixou a cabeça. Sua avó silenciou o moleque com um olhar fulminante. Depois se ajoelhou para ficar à altura da neta e disse-lhe baixinho: - Adoro suas sardas. - Mas eu as detesto - retrucou a pequena, quase fazendo um beicinho de choro. A senhora deslizou a mão pela face da neta e continuou: - Quando eu tinha a sua idade, sempre quis ter sardas. São tão bonitas! A menina levantou os olhos. - De verdade, vó? - Claro. Quer ver? Diga-me uma coisa mais bonita que sardas. A garotinha fitou a avó com olhos ternos e, sorrindo sem ma

MUNDO MARAVILHOSO

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A canção "What a Wonderful World" foi gravada pela primeira vez por Louis Armstrong (1901-1971), em 1967. Dizem que teria sido escrita especialmente para ele. Verdade ou não, o fato é que a versão de Armstrong entrou definitivamente para a eternidade.  A intenção era que a música servisse como antídoto ao carregado clima racial e político na América, ao mesmo tempo que descreve o deleite pelas coisas simples do cotidiano. "What a Wonderful World" ("Que Mundo Maravilhoso") discorre sobre as árvores verdes, as rosas vermelhas que florescem para todos, o céu azul, as alvas nuvens de um abençoado dia de sol e a solene noite escura. Faz referência ao arco-íris multicor, aos rostos dos transeuntes e dos amigos que se cumprimentam. Em resumo, um convite à apreciação da vida. Certa vez, quando questionado sobre como podia achar o mundo maravilhoso com tanta poluição, guerras e fome, Armstrong respondeu: - Não é o mundo que é tão mau, mas o que estamos

A SOPA DE PEDRA

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Havia um frade andarilho que parava de convento em convento. Viajava sempre a pé e a fome o consumia frequentemente. Numa dessas andanças, passou por um casebre à beira da estrada e resolveu parar ali. Só que o dono da casa, que estava à janela, era um conhecido mão-de-vaca. - Bom dia, seu frade. O que faz por aqui? - Estou a caminho do convento mais próximo, que fica ainda muito distante. Estou muito cansado e varado de fome. - Que pena! - comentou o homem, mas sem se dar ao trabalho de ir buscar ao menos um pedaço de pão para o forasteiro.  - Se me der licença, vou fazer aqui em frente à sua casa uma sopa de pedra. E, enquanto falava, o frade foi catando uma boa pedra e lavou-a numa bica d'água ao lado da casa.  "Sopa de pedra?", pensou o homem. E, intrigado, saiu da janela e pôs-se à porta para observar a preparação da tal sopa. Como o frade lhe pedisse emprestada uma panela, foi buscá-la enquanto uma pequena fogueira era acesa. Após encher a panela com águ

FELIZ DO JEITO QUE É

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Viviam, numa planície, um urubu e um pavão. Certo dia, observando as acrobacias aéreas do amigo, o pavão suspirou: "Sou a ave mais bonita do mundo e tenho uma plumagem colorida e exuberante; mas de que vale isso se não posso voar e assim exibir a minha beleza? Feliz é o urubu que é livre para percorrer os céus!" Já o urubu, lá de cima, olhava com tristeza para o pavão e refletia: "Como sou infeliz! Eu, a mais horrorosa ave do planeta! E ainda tenho que voar e ser visto por todos! Quem me dera ser formoso como o pavão!" Depois pousou e chamou o pavão para uma conversa e ambos desabafaram um com o outro. Depois decidiram se acasalar. "Talvez", raciocinaram, "poderemos produzir um descendente que reúna as nossas virtudes!" O cruzamento foi bem sucedido e uma nova ave foi gerada, mas não foi o que seus progenitores esperavam: nem era bonita como o pavão, nem voava como o urubu. Então deram-lhe o nome de "peru". Todos temos defei

RECOMPENSA DA HONESTIDADE

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Há muito tempo, numa floresta, próximo a um extenso rio, vivia um pobre lenhador que trabalhava arduamente para sustentar a família.  Todos os dias, embrenhava-se na mata levando ao ombro o seu machado afiado, sempre contente e cantarolando. Um dia, estava cortando um enorme carvalho à margem do rio. O barulho do machado ecoava pela floresta com tal intensidade que parecia haver uma dúzia de lenhadores trabalhando. Passado algum tempo, resolveu descansar um pouco. Recostou o machado na árvore e virou-se para se sentar, mas tropeçou numa raiz velha e retorcida e esbarrou no machado, que caiu ribanceira abaixo, indo parar no leito do rio. O pobre lenhador vasculhou as águas tentando encontrar sua ferramenta, mas aquele trecho era fundo demais. - Que hei de fazer? - disse o lenhador com aflição - Como vou alimentar minha família agora?  Enquanto ainda falava, de repente emergiu do riacho uma bela mulher: era a fada das águas que ouvira o lamento do lenhador. Ela perguntou com

A VEZ É DO PRIMEIRO

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Um bode errante estava cansado de perambular. Após muita procura, encontrou um terreno descampado no meio da mata. Aplainou o local e saiu a fim de buscar material para continuar a construção.  Nesse meio tempo, uma onça também estava procurando um canto pra ficar. Foi quando ela encontrou o mesmo terreno. Feliz da vida, disse: - Que maravilha! Um terreno descampado e nivelado! É aqui que vou construir minha casa! E, após firmar umas estacas para delimitar a área, saiu pra arrumar material. Pouco tempo depois, chegou o bode, que ficou boquiaberto. - Caraca! Os céus estão me ajudando! Já tem estacas fincadas no terreno! O bode alinhou varas, formando paredes; em seguida colocou a coberta da casa e foi buscar mais coisas. Quando a onça reapareceu, ficou encantada.  - Nossa! Que bom! Já não vou ter o trabalho de fazer o telhado! Cobriu as brechas das paredes com barro por dentro e por fora, assentou portas e janelas e depois foi buscar seus móveis.  O bode nem acreditou no que

LIÇÃO BEM APRENDIDA

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Um garoto de apenas cinco anos morava em uma cidade do interior gaúcho, um lugar em que todo mundo se conhecia. Casos de roubo ou outros crimes, quando ocorriam, sacudiam a localidade como uma catástrofe. Ali, os vizinhos eram amistosos uns com os outros e, se vissem crianças a esmo, logo perguntavam sobre seus pais, se estavam sozinhas e para onde iam. Em resumo, todos cuidavam de todos. Foi portanto de forma natural que dona Rute, ao sair para fazer compras, sabendo que iria se demorar um pouco, olhou para o quintal da casa ao lado e vendo o garotinho a brincar, lhe disse:  - Cuide de minha casa, por favor. Ele ergueu os olhos e respondeu "sim", acenando com a cabeça. Em seguida chamou seu cão, melhor amigo desde os primeiros meses de sua vida e que o seguia a toda parte. Seus pais sabiam que ele estaria sempre seguro sob a guarda do animal. O garoto seguiu até o terreno da vizinha, ficou na ponta dos pés, alcançou o ferrolho do portão e entrou. Sentou na entrad

OS QUATRO

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Quatro rapazes estudavam na mesma classe: Arrependido, Falso, Mínimo e Quero-Tentar. Arrependido vivia desanimado com os estudos, não fazia nada na sala de aula e muito menos os deveres de casa. Não pensava no seu futuro e vivia achando que estava perdendo tempo naquela escola e por isso ficava pesaroso por não poder vadiar pelas ruas com os amigos. Só tirava notas baixas. O Falso era um sujeito hipócrita e muito pouco motivado para os estudos. Pra poder se sair bem nas avaliações, costumava colar nas provas ou falsificar tarefas de classe, de maneira que seu desempenho escolar era tão mentiroso quanto seu nome. Já o Mínimo era um moço que não sonhava alto, nem pensava em ir muito longe; só o que lhe importava era conseguir a pontuação média. Não copiava dos outros, mas como estudava um pouco, conseguia tirar a média e isso pra ele era o bastante. Nunca procurava dar um pouco mais de si e melhorar.  Quero-Tentar, por sua vez, gostava do que fazia. Sempre que surgia algo nov

MUSCARIS

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Rachel estava no terceiro ano do curso de Medicina quando começou a atender seus primeiros pacientes. Entre eles estava uma viúva de oitenta e quatro anos, com um quadro ameno de insuficiência cardíaca. Era a paciente perfeita para uma profissional com pouca experiência. O diagnóstico foi preciso: doença coronariana. A noviça doutora elaborou um plano de tratamento, prescrevendo dois medicamentos. Em poucas semanas, a paciente não mais se queixou de falta de ar, melhorou a tolerância aos exercícios e o inchaço dos tornozelos diminuiu. Estranhamente, embora Rachel exultasse com o êxito de seu trabalho, a paciente se mantinha aparentemente infeliz. Rachel entendeu que isso se devia, provavelmente, à sua idade avançada. A vida, para ela, talvez não tivesse o mesmo significado que tinha para a doutora. Em dezembro daquele ano, Rachel dispensou a idosa paciente. Indicou-lhe apenas um medicamento e recomendou que voltasse em seis meses para uma reavaliação. Entretanto, ela acabou

PENSANDO NO COLETIVO

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Durante a vida inteira, Raul sempre fora um homem íntegro e agora, na terceira idade, lutava contra uma enfermidade irreversível; entretanto, não perdera a vontade e a alegria de viver. Certo dia, cavando em seu quintal um buraco a fim de plantar uma muda de mangueira, foi interpelado por uma vizinha que o observava por cima do muro: - Seu Raul, o senhor já está em idade avançada e tem consciência de que a enfermidade pode levá-lo a qualquer momento. Então pra que tanto esforço em plantar essa mangueira, sabendo que nunca comerá de seus frutos? O bondoso ancião parou um instante, olhou para a vizinha e respondeu com simplicidade: - Até hoje como mangas que nunca plantei! Como a humanidade seria bem diferente se a maioria pensasse como o sr. Raul e não como a vizinha dele! O egoísmo entraria em fase de extinção! Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar. 

O TELEFONE DO VENTO

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Em março de 2011, parte da costa noroeste do Japão foi devastada por forte terremoto, seguido de violento tsunami. Cerca de dezesseis mil pessoas morreram. Entre as vítimas, mais de quatrocentos moradores da pequena cidade de Otsuchi. Ainda hoje, em meio a ruínas, moradores sofrem o luto pela perda de entes queridos. Pensando em auxiliar essas almas despedaçadas, um morador chamado Itaru Sasaki idealizou algo fantástico. Instalou em seu belo e florido jardim uma cabine telefônica, deixando-a à disposição de todos. O aparelho, desconectado, recebeu o nome de "telefone do vento". A sugestão é que o usuário, uma vez dentro da cabine, feche os olhos, fique em silêncio e ouça com atenção.  Se ouvir o som do vento, de uma onda ou de um passarinho, deve abrir seu coração a fim de que seu sentimento possa alcançar a pessoa amada que se foi. O telefone do vento, que dispensa cartão, fios e cabos, funciona por meio da mente. Assim, todos os dias, pessoas usam esse telefone

A TIGELA DE MADEIRA

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Um senhor acabou indo morar com seu filho, a nora e o netinho de quatro anos. Suas mãos já estavam trêmulas, sua visão embaçada e seus passos vacilantes. À mesa, família reunida para a refeição, as limitações do idoso tornaram-se em vexame para ele e em transtorno para os demais. A comida escapava de sua colher; ao pegar o copo, leite era derramado na toalha da mesa. Interiormente, filho e nora irritavam-se com aquilo. - Precisamos tomar uma providência com respeito ao papai - comentou o homem a sós com a esposa. Decidiram colocar uma pequena mesa num canto da cozinha. Ali, o idoso passou a comer sozinho enquanto o restante da família fazia as refeições na outra mesa. Desde que ele quebrara um ou dois pratos, sua comida agora era servida numa tigela de madeira. De vez em quando, um deles dava uma olhadela para o lado do vovô e notava-lhe lágrimas. Mesmo assim, a situação continuou, assim como as observações ásperas quando ele deixava cair talheres ou comida. O filho do casa

A CAIXINHA

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Um microempresário, incomodado com a baixa produtividade de sua granja, resolveu pedir a ajuda de um sábio. O sábio escreveu algo em um pedaço de papel e o colocou numa pequena caixa. Depois a fechou, lacrando-a com cera quente. Então entregou a caixinha ao granjeiro, dizendo: - Durante um ano, três vezes ao dia, percorra todos os cantos da sua granja com esta caixinha, mas nunca a abra. - Está bem, vou fazer isso. Na manhã seguinte, ao chegar à granja com a caixinha na mão, pegou o faxineiro cochilando quando deveria estar trabalhando. Despertando-o, chamou-lhe a atenção. Mais adiante, dois funcionários que jogavam baralho também levaram um puxão de orelha. À tarde, ao passar pelos criadouros, notou que não havia ração suficiente para os frangos. Ao anoitecer, na cozinha, percebeu muito desperdício de carne. A partir daí, diariamente, vistoriando sua granja de um lado para outro, sempre portando a caixinha, o granjeiro encontrava coisas que precisavam ser corrigidas. Ao fi

VERBO AMAR

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Permaneceram 62 anos num casamento complicado. Ele era maravilhoso para todos, menos para a esposa. Alcoólatra, batia nela, até a filha de oito anos começar a se impor e impedir as agressões. Um dia, ele vendeu a casa onde moravam. Sumiu por uns tempos e, ao retornar, sem nenhum centavo, avisou que a casa deveria ser desocupada em breve para o novo proprietário tomar posse. A esposa passou frio porque quase não tinha agasalho. Passou fome, pois deixava de comer pra que os filhos se alimentassem. Era traída constantemente porque ele, homem garboso, era mulherengo. Ameaçava-a de morte e dormia com um punhal embaixo do travesseiro. Por fim, ao longo do tempo, a mulher desenvolveu um quadro crônico de depressão e insônia. No entanto, seus conhecidos a amavam porque ela ria e brincava diante deles, espalhando a alegria que ela mesma não sentia. Portadora de grande fé, espalhava o bem para muitas pessoas, visitava enfermos e rezava por eles. Uma vez, numa consulta, a psicóloga in

SERENIDADE ÍMPAR

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Uma menina de apenas seis anos estava sozinha na sala de espera de um aeroporto, aguardando o seu voo. Anunciado o embarque, ela foi conduzida à aeronave por uma comissária. Quando o avião decolou, a garotinha, toda feliz, retirou de sua pequena mochila uma brochura com desenhos e começou a colorir. Os passageiros, quase todos adultos, ficaram curiosos e admirados com a tranquilidade daquela menina, que viajava sem acompanhante.  Passado algum tempo, a aeronave entrou em uma zona de grande turbulência e começou a balançar um pouco, deixando muitos passageiros temerosos e alguns até desesperados. Mas a menininha permanecia absolutamente calma e ocupada com seus desenhos. Quando o voo retomou a estabilidade, uma senhora que estava ao lado da garota perguntou: - Você não ficou com medo dessa turbulência? A pequena, sempre serena, respondeu sorrindo: - Não; meu pai é o piloto! Podemos também exibir a mesma confiança em meio às intempéries da vida e acreditar firmemente que tudo

"VERDADE" DOS OUTROS

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No primeiro dia de aula, o professor trouxe um frasco de vidro cheio e o colocou sobre o birô. - Isto está cheio de perfume - disse aos alunos - Quero medir a percepção de cada um de vocês. Vou destampar o frasco e, à medida em que sentirem a fragrância, levantem a mão. Assim que o professor abriu o frasco, dois alunos levantaram a mão. Em menos de cinco minutos, todos os demais fizeram o mesmo.  - Posso abrir a janela, professor? - suplicou uma garota. Outras vozes fizeram eco. Aparentemente o recinto ficara impregnado com o cheiro. Ninguém estava aguentando. O professor então percorreu a sala com o frasco, mostrando-o de perto a cada estudante: estava cheio de água, não de perfume.  Eles não podiam acreditar no que acabara de acontecer. Foram induzidos a crer em algo que não existia, simplesmente por uma declaração do professor... Nem toda "verdade" é verdade. Uma mentira amplamente divulgada corre o risco de se "tornar" verdade.  Cuidado com certas &q

NINHO VAZIO

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Certa mulher era tida como exemplo pela sua reação serena às dificuldades da vida. Porém, depois que seu filho único se casou, foi se mostrando mais triste e lacrimosa a cada dia. Só falava da ausência dele e de como era penosa a sua solidão dentro de casa. Um dia, ao visitar sua mãe, desabafou sua imensa dor. - Ah, filha! - comentou a carinhosa anciã - Também passei pela mesma experiência, por duas vezes, com seu irmão e com você. Também provei o gosto amargo da saudade. - Mas como a senhora superou essa dor terrível? - Quando a saudade apertava meu coração, entrava no quarto, me sentava na cama e começava a recordar a infância de vocês, sentindo-os em meus braços. Parecia ouvir suas risadas no corredor e sua choradeira quando se machucavam. Via suas primeiras manifestações artísticas, rabiscadas nas paredes. Relembrava suas apresentações na escola, no dia das mães, me procurando na plateia com o olhar. Rememorava os tempos em que estudavam na Faculdade e a barulheira que

PUNIÇÃO PERMANENTE

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Amir era um garoto de 13 anos que, desde criança, tudo fizera para conquistar o amor de seu pai, mas este parecia estar sempre indiferente a isso. O que acontecia era o contrário: o pai notava principalmente as fraquezas do filho. Ele queria que Amir fosse forte, mas o menino tinha náuseas por pouca coisa: quando viajava, quando algo o incomodava, entre outras situações.  No meio desse processo de reconhecimento, Almir tinha um grande rival (ao menos, na cabeça dele): o jovem criado da casa. Hassan era um servidor fiel. Apenas um ano mais velho que Amir, ele se levantava cedo para lhe preparar o desjejum, a roupa e tudo o que fosse necessário. Seguia-o a toda parte, como um guarda-costas, defendendo-o de moleques hostis. Era, além de servo, um amigo leal. Mas, aos olhos de Amir, Hassan parecia gozar das graças de seu pai, mais que ele, o filho. Quando iam passear, o pai sempre levava Hassan com eles. Amir desejava estar a sós com o pai e desfrutá-lo sozinho. Mas Hassan esta

"O ÓDIO PRECISA ACABAR"

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Eric Lomax (1919-2012) era oficial britânico quando se tornou prisioneiro em um lugar que ficou conhecido como "ferrovia da morte". Essa estrada de ferro ligava Bangkok à Birmânia (atual Mianmar). Um projeto japonês, concretizado por milhares de prisioneiros de guerra. Estima-se que mais de 80.000 deles tenham morrido durante a construção da ferrovia. Foi lá que Lomax conheceu Takashi Nagase (1918-2013), um de seus torturadores, que também servia de intérprete. Durante um ano inteiro, oficiais japoneses tentaram fazer com que Lomax confessasse ser um informante da resistência, o que nunca foi verdade. Sob tortura, teve seus braços e ossos do quadril quebrados, além de ser submetido a táticas de afogamento. Quando retornou ao seu país em 1945, após três anos como prisioneiro, ninguém o esperava no cais. Soube por uma carta que sua mãe morrera e seu pai tornara a se casar. Para lidar com o indizível trauma de sua experiência, Lomax precisou de intenso trabalho terap

VIDA ALHEIA

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Duas amigas que não se viam há muitos anos acabaram se reencontrando na casa de uma conhecida. Muito contentes, começaram a pôr os assuntos em dia. Ana se formara no exterior e trabalhava numa multinacional. Sônia largara a faculdade para se casar e agora dedicava-se ao lar e aos dois filhos pequenos.  Enquanto Sônia falava da família e reclamava da bagunça, Ana ouvia com uma pontinha de tristeza. Seu casamento não dera certo e ela nunca conseguira engravidar. Mergulhou de cabeça na carreira para esquecer o desgosto do retorno a uma casa vazia e a melancolia da vida solitária. Desejava uma família, sonhando frequentemente com os filhos que não tivera. Desapontada, não podia compreender as queixas de Sônia sobre as dificuldades do lar. Como algo tão desejado por ela podia ser tão penoso para a outra? Ana desejava a vida que a amiga possuía e parecia não valorizar. Ao terminar o desabafo, Sônia perguntou à amiga como era a sua vida agora. Um pouco relutante, Ana começou a con

PAGANDO A PROMESSA

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Num dia frio de outono, em Israel, um enorme grupo de rapazes se encontrava fora dos muros do seminário, descansando após longas horas de aula. Um deles notou um pontinho que vinha crescendo, à distância, no final da rua, e chamou a atenção dos colegas. Era um carro fúnebre solitário. Não havia um único acompanhante. Os mancebos ficaram tocados com a cena. Onde estaria a família e os amigos? Seria possível que aquela criatura tivesse vivido tão afastada de todos, que não merecesse ao menos um vizinho para acompanhar-lhe o corpo até o cemitério? Fizeram silêncio quando o carro passou em frente deles. Logo em seguida, todos decidiram segui-lo e ainda convidaram a fazer o mesmo os outros estudantes que estavam no interior do seminário.  Assim, centenas de rapazes escoltaram o veículo até o túmulo, em absoluta reverência.  Ao descer do carro, o rabino que dirigia indagou: - Como foi que vocês souberam da morte dela? - Nós nem sabemos de quem se trata! - responderam - Simplesmen