Marcos Aguiar, o Blogueiro

  Certo dia a raposa adoeceu a ponto de ficar de cama. Trancou bem a porta do covil e foi deitar.  Em meio aos gemidos, ouviu alguém chamando lá fora. Era o leão, que ficara sabendo do ocorrido. - Bom dia, raposa! Como estás? Deixe-me entrar; minha língua é milagrosa e, assim que te lamber, você se sentirá melhor. A raposa, que não tinha nascido ontem, respondeu lá de dentro: - Desculpe, sr leão; não posso abrir e nem quero. Não duvido de seus dotes milagrosos; mas junto à tua língua estão os teus dentes, portanto não confio em você; prefiro continuar sofrendo as minhas dores. O leão deu de ombros e foi embora. Preste atenção: quando você estiver em aflição e em dificuldades, nem todos aqueles que se aproximarem de ti virão com boas intenções. Se você não se precaver, eles tornarão tua vida ainda pior. Fábula de Esopo (620-564 a.C.) - texto adaptado.

Um grupo de rãs se divertia na água quando surgiu um grande e formidável touro que atravessou o riacho. Uma das rãs, conhecida como a mais presunçosa, disse: - Vocês vão ver: vou comer e inchar tanto que vou ficar gigante como aquele touro! E começou a comer sem parar, até começar a inchar. As outras rãs se assustaram com o inchaço da colega. - E aí? Como estou? Já se pode dizer que estou tão enorme quanto aquele touro? - De forma alguma! - responderam as outras - Você está realmente inchada, mas não tanto. - Ah, é? Então vou inchar mais ainda! E a vaidosa rã passou a encher os pulmões com ar mais que o habitual; seu papo ficou com uma aparência assustadora. - E então? Como estou agora? - Está mais inchada, mas desista dessa ideia louca de querer ficar tão grande quanto o touro! - advertiram as demais. - Não! Não! Vou conseguir, sim! Vocês vão ver! E, dizendo isso, tornou a encher-se de ar, com toda a força que pôde reunir.  Mas seu esforço exagerado pouco tempo durou: ela literalmente

  Quando os alemães invadiram a Polônia, Maximilian Kolbe foi um dos poucos padres que permaneceram em seu mosteiro. Por denunciar as atrocidades nazistas, ele foi posteriormente preso pela Gestapo e enviado para o campo de concentração de Auschwitz. Desde o dia em que chegou àquele terrível lugar, o padre dedicou seu tempo cuidando de outros presos. Mesmo em meio às privações, ele sempre dividia sua pequena ração de comida com prisioneiros famintos e, sempre que era espancado por guardas da SS, procurava nunca demonstrar medo ou raiva. Ao invés disso, ele rezava por seus algozes.  Em julho de 1941, um prisioneiro conseguiu escapar do campo. Em represália, o comandante da SS Karl Fritsch, malignamente, selecionou dez homens que seriam mantidos em um bunker subterrâneo, para morrerem de fome. Entre os escolhidos estava Franciszek Gajowniczek, que começou a chorar e a dizer: "Minha pobre esposa... meus pobres filhos... como ficarão?"  O padre Kolbe, resolutamente, dirigiu-se ao

  Uma guerra civil arrastava-se há meses. Um soldado raso se apresentou a seu superior com um pedido. – Senhor, meu amigo ainda não regressou de sua missão no campo de batalha. Solicito permissão para ir buscá-lo. – Permissão negada - respondeu rispidamente o oficial. - Não permitirei que você arrisque a vida por um homem que provavelmente a esta altura está morto. O soldado fez continência e se retirou. Mas, desconsiderando a proibição, ele saiu e, uma hora mais tarde regressou, muito ferido, carregando o cadáver de seu amigo. O oficial estava furioso. – Eu te disse que ele já estava morto, recruta insubordinado! Agora me diga, valeu a pena ir até lá apenas para trazer um cadáver? E o soldado, tomando fôlego, respondeu: – Claro que valeu a pena, senhor! Quando encontrei o meu amigo, ele ainda estava vivo e, antes de morrer, ele pôde me dizer: “Eu tinha certeza que você viria!” O verdadeiro amigo é aquele que chega quando todos já se foram e por isso é digno de confiança! Porventura tu

  Ao longo dos anos, tenho lidado com muitos pacientes até quase ao ponto da rotina (mas sempre tratando a cada um com a maior humanidade possível); no entanto, uns dias atrás fiquei deveras preocupado com Jimmy, um paciente idoso. Na ocasião eu caminhava pelo estacionamento da clínica, pensativo sobre o diagnóstico horrível que havia acabado de informar a ele: câncer de pâncreas. Foi então que, bem perto dali, notei um senhor passando ferramentas a alguém que trabalhava debaixo de um carro enguiçado. Esse alguém era o próprio Jimmy. – Sr Jimmy, o que está fazendo aí embaixo? Jimmy logo reconheceu minha voz; saiu rapidamente de debaixo do veículo e  se limpou o melhor que pôde. – Ah, doutor!... minha doença não me impede de ajudar os outros – explicou, antes de acenar ao motorista para que desse a partida. E, realmente, o velho ajudou: o motor pegou que foi uma beleza! O homem agradeceu a Jimmy e partiu. Então, o meu notável paciente se despediu de mim e foi embora em seu próprio veícu

  "Amanhã fico triste, Amanhã. Hoje não. Hoje fico alegre. E todos os dias, por mais amargos que sejam, eu digo: Amanhã fico triste. Hoje não. Para hoje e todos os outros dias!" (Poema encontrado na parede de um dormitório de crianças judias do campo de extermínio nazista de Auschwitz) Há coisas que você pode deixar pra depois; outras não.  O passado já era, pois não volta mais; o futuro é sempre incerto, portanto não é seu. Então você deve ocupar-se apenas com o que tem - ESTE momento, o aqui e o agora. O que você está fazendo com essa dádiva, esse instante tão precioso, que te é dado diariamente? Lembre-se que o tempo nivela todas as pessoas: não importa quem seja, TODOS recebem, igualmente, as mesmas 24 horas diárias. Então você é tão privilegiado quanto qualquer um. Faça, então, bom uso disso. Tudo o que é ruim, que te prejudica, que te faz mal, que te atrasa e te entristece, você deve postergar; deixe sempre pra depois. Quanto mais positiva for tua perspectiva sobre a vi

  Um jovem recém-casado, muito estressado, procurou seu pai: - Pai, não aguento mais a minha esposa! Quero matá-la, mas tenho medo que ela desconfie da minha intenção. O senhor pode me ajudar? - Posso sim, filho, mas com uma condição: você terá que fazer as pazes com ela, pra que ninguém pense que foi você o assassino. Vai ter que cuidar muito bem dela, ser gentil, paciente e carinhoso. De acordo? - Está bem, pai - resmungou o rapaz, um pouco sem jeito. - Certo. Está vendo este pozinho aqui? Diariamente, durante 30 dias, você vai colocar um pouco na comida dela. Assim, ela será envenenada lentamente. Passados os 30 dias, o filho voltou ao pai, aflito: - Eu não quero mais que ela morra! À medida em que comecei a tratá-la bem, passei a amá-la e minha consciência queimou de remorso por meu plano maligno. E agora? Como posso reverter o envenenamento? O pai, risonho, respondeu: - Não se preocupe, filho. O que te dei foi pó de arroz. Ela não vai morrer, pois o veneno estava em você e agora v

  Um camponês muito humilde morava sozinho num casebre, no meio da mata. Todos os dias, ele precisava ir ao rio buscar água. O problema era que esse rio ficava muito distante; o coitado gastava horas no trajeto de ida e volta, e isso pra conseguir apenas uma jarra quase cheia. Ele a trazia no ombro, pois não possuía boi ou jumento, de tão pobre que era. Um dia, o homem percebeu uma umidade incomum no chão de terra batido do quintal. Estranhou, porque fazia quase um mês que não chovia e o calor estava de rachar. Ele estava mudando o cercado quando, após fincar um barrote, sentiu repentinamente o chão afundar sob seus pés.  Não teve tempo de se safar: caiu com tudo, na pequena cratera que se abrira. Qual não foi sua surpresa quando desabou numa poça d'água, ao invés de num chão duro, como esperava! Sim; acabara de descobrir um enorme lençol de água que passava bem ao lado de sua propriedade! Tantos anos andando léguas diárias atrás de água, quando havia abundância do precioso líquido

  Um dia, o Conselho dos animais conclamou a comunidade dos sapos para um campeonato - uma escalada à enorme rocha que ficava no meio da floresta. Seria vencedor o sapo que chegasse ao topo primeiro. A enorme plateia, formada por bichos de várias espécies, não era nada amistosa: quase todos torciam contra os sapinhos; não acreditavam que algum deles pudesse escalar a rocha. - Não vão conseguir! Vão perder! - gritavam. A competição começou e logo os primeiros sapos saíam da disputa após três ou quatro tentativas. E a bicharada zombava: - Uuuu! Já perdeu! Fora! Aos poucos, os sapinhos foram desanimando e desistindo da escalada. Mas um deles continuava tentando, apesar dos berros da platéia. Todos, afinal, saíram de cena, deixando-o só. Mas ele pareceu ignorar isso e, mesmo com a platéia tentando desestimulá-lo, ele acabou alcançando o topo da rocha, para o assombro de todos. Os bichos estavam curiosos em entender como aquele sapinho conseguira vencer o torneio. Quando foram entrevistá-lo

  Um garotinho encheu sua mochila com pastéis e suco e saiu para passear. Passando por uma praça, encontrou um velhinho que observava os pombos, sentado num banco. O menino resolveu parar ali e sentou ao lado do velhinho. Abriu a mochila e já ia tomando um gole do suco, quando percebeu que o "vovô" estava com fome. - Quer? - disse, oferecendo-lhe um pastel. - Oh, meu filho, muito obrigado! - respondeu o ancião, sorrindo. O menino ficou tão encantado com o sorriso do velhinho que quis ver de novo; então ofereceu-lhe um pouco do suco. - Quero sim, meu querido! - e o ancião falou com uma ternura tão envolvente que o garotinho sentiu uma paz e uma felicidade que não sabia traduzir. Eles ficaram sentados ali a tarde inteira, comendo e sorrindo. Quase não conversaram mas seus sorrisos falaram. Ao cair da tarde o menino precisou voltar para casa e, ao se despedir do novo amigo, o abraçou. Este retribuiu com mais um belo sorriso. O menino estava radiante. Chegou em casa tão feliz que