Marcos Aguiar, o Blogueiro

  Um menino, que posteriormente se tornou padre, acompanhava seu pai ao trabalho (era cabeleireiro). Todo mês, esse homem reservava um dia para atender pessoas carentes.  O menino percebia que, embora seu pai fizesse aquela caridade com a maior boa vontade, algumas das pessoas contempladas reclamavam muito. Exigiam este ou aquele corte e, às vezes, quando iam embora, o xingavam porque não haviam gostado do corte. Mas o homem, sempre paciente, tentava atender ao que lhe pediam e jamais revidava às ofensas, chegando até mesmo a pedir desculpas quando alguém não gostava do trabalho dele. Então, um dia, o menino perguntou: - Pai, por que o senhor age assim? E por que as pessoas reclamam de algo que recebem de graça, já que de outra forma não teriam? - Meu filho: para essas pessoas, receber é muito difícil. Elas se sentem "humilhadas", porque recebem sem dar nada em troca. Por isso elas reclamam; é uma maneira de manterem sua "autoestima", de deixar claro que ainda conse

  Após anos de treinamento, um disciplinado aluno de artes marciais se apresentou ao mestre para receber a faixa preta. - Antes que lhe dê a faixa você terá de passar por um outro teste! - avisou o sensei. - Estou pronto, mestre. - Você precisa responder a uma pergunta essencial: qual é o verdadeiro significado da faixa preta? O jovem refletiu um pouco e disse:  - Ela representa o fim de minha jornada, uma recompensa merecida por meu bom trabalho. O mestre ficou em silêncio por uns momentos e o moço percebeu que sua resposta não agradara. O silêncio constrangedor foi quebrado pela "sentença" do mestre:  - Você não está pronto para receber a faixa preta. Volte daqui a um ano. Desapontado, o aluno partiu. Um ano depois, voltou. - Qual é o verdadeiro significado da faixa preta? - perguntou o mestre pela segunda vez. - É o símbolo da excelência e o nível mais alto que se pode atingir em nossa arte - respondeu o jovem. Mais uma vez, silêncio. - Você ainda não está pronto para a fa

  Um psicólogo, interessado em estudar os sentimentos alimentados por pessoas diversas, resolveu iniciar sua busca junto a trabalhadores de uma construção. Ficou algum tempo no meio deles, observando cada um daqueles homens. Depois foi conversar com cada um. - Por favor, poderia me dizer o que está fazendo? - perguntou a um servente que empurrava um carrinho de mão, cheio de pedras. Com acentuada irritação e azedume, o homem retrucou: - O senhor não está vendo? Estou carregando pedras! Seguindo mais adiante, o psicólogo fez a mesma pergunta a outro trabalhador que, como o anterior, também empurrava um carrinho cheio de pedras. O interpelado respondeu calmo, porém secamente: - Estou trabalhando; afinal, preciso prover meu próprio sustento e o da minha família. Mais adiante, o homem abordou um terceiro operário e lhe fez a mesma pergunta. O servente soltou cuidadosamente o pesado carrinho de mão, levantou os olhos, contemplou o edifício que aos poucos se agigantava e com um brilho no olh

  Dario, rei da Pérsia, mandou dar uma grande festa para todos os seus súditos e a celebração se estendeu até tarde da noite. Terminada a festa ele adormeceu, mas foi despertado pelas vozes alteradas de três homens que discutiam, na rua, acerca do que seria a coisa mais forte do mundo. Em lugar de repreendê-los, o rei mandou chamá-los. - Achei interessante a conversa de vocês. Então cada um tem uma opinião sobre a coisa mais forte que existe? Quero que cada um declare o que pensa, diante desta corte! Eu julgarei e escolherei a resposta mais sábia. O primeiro homem falou:  - Alteza! O vinho é a coisa mais forte, pois tem o poder de transformar em tolos os homens mais grandiosos. Tanto o rei poderoso  quanto o pobre ignorante se igualam sob sua força. O vinho deixa o raciocínio em meio a um labirinto! - Muito bom! - exclamou o rei. O segundo começou sua fala, dizendo: - Com certeza o rei é o mais forte! O rei em tudo manda e é temido por todos. Envia soldados à guerra, condena pessoas à

  Um homem de meia idade tinha enormes cicatrizes no rosto e eram tão salientes que lhe deformavam a face. Em qualquer lugar que ele comparecia, as pessoas ficavam chocadas com a sua aparência. Além disso era paraplégico e cadeirante. Seu filho tinha muita vergonha da condição do pai, e cresceu tentando esconder isso. Não convidava os amigos à sua casa e nem fazia questão que o pai participasse de reuniões e festividades da escola, sempre arrumando uma desculpa para isso. Mas um dia o rapaz contraiu uma gripe forte e faltou à aula. Justo nesse dia, a professora passou uma tarefa importante e como os colegas do rapaz deram pela falta dele, resolveram visitá-lo sem avisar. Quando chegaram e viram aquele homem de aparência horrível, ficaram surpresos e o colega doente, mais ainda. - Não se incomodem comigo; sei que sou bonitão! - disse, bem humorado, o homem. Logo os garotos perceberam algo bom e diferente naquele homem, apesar de mutilado. Enquanto faziam o trabalho escolar, tiveram algu

  No agitado trânsito de uma grande cidade, um motorista nervoso dirigia seu veículo de forma agressiva, insultando todos que estavam à sua frente. Agia como se todos tivessem a obrigação de lhe ceder passagem. Um sobrinho de 6 anos, que estava no banco de trás, ouvia todos os berros do tio: - Ei! Tire essa carroça da frente!   - Caramba, cara, você tá dormindo no volante? - Sai da frente, imbecil! - Engarrafamento dos infernos! Porcaria! O menino então quebrou o silêncio: - Tio Bob, por que o senhor permite que os outros trafeguem pela "sua" rua? Foi aí que a ficha caiu para Bob. Desacelerou o carro e começou a refletir no que acabara de ouvir da boca de uma criança, fruto da observação do seu comportamento. Deu-se conta de que realmente estava agindo como se fosse o dono da rua e que todos lhe deviam alguma coisa. Envergonhou-se de sua arrogância. E, dali em diante, o tio Bob adotou o propósito de nunca mais dirigir como se a estrada lhe pertencesse. Se você às vezes se com

  Um casal tomava café quando a mulher reparou, através da janela, numa vizinha que pendurava lençóis no varal. - Que lençóis sujos ela está pendurando no varal! - comentou com o marido. - Tão velha e ainda não sabe lavar roupa! Se eu tivesse intimidade com ela, me ofereceria para ensiná-la! O marido também observou mas não disse nada. Alguns dias depois, novamente, durante o café da manhã, a vizinha pendurava lençóis no varal e a mulher comentou outra vez:  - A vizinha continua estendendo lençóis sujos! Será que é por falta de sabão ou ela não enxerga bem? Durante um tempo, esses comentários tóxicos da mulher continuaram. Mas, um dia, a mulher se surpreendeu ao ver lençóis muito brancos sendo estendidos; empolgada, disse ao marido:  - Veja, ela finalmente aprendeu a lavar as roupas! Será que alguém a ensinou? O marido então, calmamente, respondeu:  - Não, querida. Hoje levantei mais cedo e lavei os vidros da nossa janela! Antes de criticar os erros dos outros, verifique seus próprios

  Se você conhece o seriado "Chaves", com certeza já notou algo curioso: Kiko, o mimado filho da dona Florinda, tem tudo o que quer - dinheiro, brinquedos e doces. Mesmo assim, ele morre de inveja do Chaves, um garoto de rua pobre e órfão.  Apesar de serem normalmente "amigos", existe esse clima de rivalidade e de inveja por parte do bochechudo Kiko.  Mas por que isso acontece? É que o "Chaves do oito" é popular e querido por todos; tem brilho, tem carisma e é benquisto, mesmo não tendo nada.  A arte, aqui, imita a vida. Conosco acontece a mesma história. Há pessoas que convivem com você e estão sempre ao seu lado, mas que na verdade, por dentro, têm inveja da luz que você irradia. Ser honesto e verdadeiro é um incômodo àqueles que não têm caráter. Por isso, seja como o garoto Chaves. Ignore os dardos de inveja e energias negativas que lançam contra você e continue sendo uma luz na escuridão que está em volta. Marcos Aguiar

  "Se pudesse obter três coisas, quais seriam?" Ruby Kate Chitsey, de 11 anos, adora perguntar isso - mas não se trata de uma brincadeira com amigas no recreio. É uma pergunta feita em casas de repouso no Arkansas, onde ela mora. Ruby está sempre em contato com idosos graças à sua mãe, que é enfermeira e cuidadora de idosos.  "Nunca achei os idosos assustadores", disse Ruby, "por isso vou ao encontro deles e lhes pergunto se precisam de algo".  A princípio Ruby e sua mãe receavam que os velhinhos lhes pedissem itens caros, mas ao invés disso pediam chocolates, batatas fritas, roupas e agasalhos que lhes servissem e até uma simples oração. Alegremente, Ruby e sua mãe foram a uma loja e compraram o máximo de coisas que puderam. Com seus limitados recursos, Ruby e sua mãe chegaram a conceder os singelos desejos de cerca de uma centena de idosos num período de três meses. Foi então que começaram a pedir doações. Muitas pessoas que ficavam sabendo da nobre inic

  Lobos e ovelhas viviam numa guerra constante há tempos; mas as ovelhas, mesmo mais fracas, sempre levavam a melhor por terem a ajuda de seus cães de guarda. Os lobos entenderam que nunca teriam a vitória; então resolveram usar de malícia. Propuseram trégua às ovelhas, mas com uma condição: que cada lado entregasse ao outro, como garantia da paz, seus membros mais valiosos.  As ovelhas, alegremente, concordaram com os termos e entregaram os cães aos lobos. Estes, por sua vez, entregaram os seus filhotes às ovelhas. Contudo os pequenos lobos eram espertos: quando se viram no meio das ovelhas, começaram a uivar muito alto. Era o sinal que haviam combinado com seus pais, que logo vieram em socorro deles. Os cães, assim que foram entregues aos lobos, foram acorrentados por eles, e assim não puderam ajudar as ovelhas. Logo todas elas foram mortas. Nunca entregue a um estranho o que você tem de mais precioso; pode acabar custando muito caro. Fábula de Esopo (620-564 a.C.) - texto adaptado.

  No belo jardim de uma chácara, havia uma rosa cheia de arrogância por sua beleza. Se vangloriava de suas pétalas vermelhas e seu suave perfume. Mas algo a incomodava: tinha por vizinho um cacto de feia aparência.  Todos os dias, a rosa insultava o cacto por sua feiura; o coitado permanecia em silêncio. As demais flores e plantas do jardim constantemente pediam à rosa pra que parasse com os insultos, mas ela insistia, não deixando em paz o pobre cacto. Ao final da primavera, o tempo esquentou; o poço que abastecia o jardim secou e a água ficou escassa para as plantas. Foi então que a ficha caiu para a rosa. Ela começou a murchar, e ficou desesperada. Foi quando viu um pardal mergulhar o bico no cacto e sorver um pouco de água.  Envergonhada, a rosa perguntou ao cacto se ele poderia lhe dar um pouco de água. Gentilmente, o cacto concordou.  Com aquela porção de água, a rosa recobrou suas lindas cores, mas não voltou a ser arrogante; pediu perdão ao cacto e, a partir dali, tornaram-se a

  Um garotinho estava no refeitório da escola na hora do lanche, quando percebeu que fizera xixi nas calças. O coitadinho ficou deveras envergonhado e sem saber o que fazer pra disfarçar; ficou com medo de que zombassem dele.  Enquanto estava nesse dilema, um outro menino vinha carregando uma jarrinha com água. Ao se aproximar da mesa do "mijado", tropeçou e a água da jarrinha caiu no colo dele!  Todos acudiram o garoto da calça molhada. O menino da jarra levou uma bronca do professor e o outro ganhou uma calça seca. Ao sair da escola, avistou o garoto da jarra e o chamou. - Ei, colega! Me diga uma coisa: você derrubou a água em mim de propósito, não foi? O outro respondeu, sorrindo: - Sim; pois eu também já fiz xixi nas calças em público, uma vez! Quando você já passou por uma situação ruim, fica bem mais fácil compreender quem está em condição semelhante! Autoria desconhecida - texto adaptado.

  Havia um enorme e lindo jardim repleto de margaridas, todas brancas. Eram tantas, que quase não dava pra ver onde terminavam! Estavam sempre felizes e em festa, achando que seu mundo era tudo o que existia.  Mas um dia, algo inesperado aconteceu: nasceu, entre elas, uma nova margarida - só que amarela. As demais flores, assustadas, cercaram a margarida novata. Ela, ingenuamente, achou que era uma recepção amigável; mas não. Uma a uma, começaram a "fuzilá-la" com comentários sobre sua aparência: - Calma, gente, vai ver que ela nasceu com a febre amarela! - disparou uma das flores. - Acho que algum besouro ou pássaro fez cocô em cima dela! - exclamou outra. - Ela deve ter se queimado demais no sol, coitada! - emendou uma terceira. Após outras tantas alfinetadas, elas se afastaram da margarida amarela e a deixaram sozinha. A coitada, sem entender o porquê daquela rejeição, se entristeceu. Os dias se passavam e ninguém queria conversa com ela. Ela chorava à noite, baixinho, por

  Um homem vagava pelo deserto, sem beber, há dias. Estava prestes a desfalecer de sede, se não encontrasse logo água. Foi quando ele avistou uma velha cabana abandonada e caindo aos pedaços. Andando em volta da casa, encontrou uma bomba d'água toda enferrujada. Agarrou a manivela e começou a bombear; mas nada aconteceu. Desapontado, sentou no chão. Foi quando viu, próximo à bomba, uma garrafa empoeirada, mas intacta. No rótulo da garrafa, estava escrito assim: "Para que a bomba funcione, é preciso prepará-la. Para isso, despeje sobre ela toda a água desta garrafa; a bomba então irá funcionar. Beba e use toda a água que desejar. Depois, antes de ir embora, deixe cheia esta garrafa para o próximo viajante". O homem retirou a rolha da garrafa e, de fato, estava cheia d'água! Mas aí ele pensou: - E se eu beber essa água, ao invés de fazer como diz o rótulo? Terei matado minha sede... mas outros viajantes poderão também precisar de água... em todo caso, irei fazer o óbvio

  Um dia a hiena foi convidada para dois banquetes, nos quais seria servida muita carne - e a hiena era louca por carne. Só que os festins seriam realizados na mesma data e na mesma hora. - E agora? Como vou fazer para atender os dois convites? - pensou a hiena. - Não quero fazer desfeita com nenhum dos anfitriões e também não dispenso carne. Além disso, os locais dos banquetes são distantes um do outro! Após matutar por um tempo, teve uma ideia. Próximo da hora, a hiena saiu de casa. Ao chegar à encruzilhada onde se dividiam os caminhos para os dois festins, a hiena estirou as patas do lado direito para uma trilha e as patas do esquerdo para a outra trilha. Achava que, assim, chegaria a ambos os lugares ao mesmo tempo.  Cega pela gula, tanto se esforçou nesse absurdo que acabou tendo uma distensão muscular e desmaiou. Foi carregada ao pronto-socorro, onde o médico a proibiu de comer carne por um mês. Como diz o adágio, "quando a cabeça não pensa, o corpo padece". Nunca dê um

  Um carregador de água indiano conduzia, diariamente, dois jarros pendurados em cada ponta de uma vara, sobre seus ombros. Um deles tinha uma rachadura, enquanto o outro era perfeito e sempre chegava cheio de água ao destino; o vaso rachado chegava apenas com metade da capacidade. Por dois anos, todos os dias, foi sempre assim: um pote chegando cheio e o outro com metade. O vaso intacto vivia orgulhoso de cumprir sempre a tarefa. Já o coitado do rachado sentia-se envergonhado de sua imperfeição e por ser incapaz de conter toda a água despejada nele. Então, por fim, ele se dirigiu ao homem, lamentando: - Estou muito constrangido, senhor. Por favor, me perdoe. - Mas por quê? - indagou o homem.  - Nesses dois anos só pude entregar metade da minha  carga, porque essa rachadura no meu lado faz com que a água vaze por  todo o caminho, senhor. Por causa do meu defeito, tenho prejudicado o seu trabalho! O homem respondeu, sorrindo:  - Acho que não é bem assim, meu amigo; venha, quero lhe most