SOSSEGO INEGOCIÁVEL




Dois homens viviam na mesma localidade, mas não da mesma
forma: um era o mais rico sujeito do lugar. Passava muitas noites em claro, preocupado com suas riquezas, bens e propriedades. Já o outro era absolutamente pobre: possuía quase nada e morava numa casa velha e insignificante, à porta da qual ele montara uma pequena oficina onde remendava roupas, sapatos, bolsas e maletas. Trabalho nunca lhe faltava e, pouco ou muito atarefado, estava sempre cantando, o tempo todo.
Perto dali, em seu esplêndido palacete, o rico não compreendia como aquele vizinho pobre podia ser feliz, mesmo com uma vida tão simples e miserável. Então um dia mandou chamá-lo.
− Vizinho, você tem ideia de quanto ganha num ano inteiro?
O pobre coçou a cabeça.
− É impossível calcular isso. São tantos domingos e feriados que as contas acumulam bastante...
Mas o rico insistiu:
− Ó homem, fale aí algum valor próximo...
− Bem... ganho mais ou menos o suficiente pra me alimentar todo dia. Não é muito, mas passar fome eu nunca passo!
− Certo. Então eu quero que, a partir de hoje, você viva sem cuidados e com fartura. Você merece, pois sei que é bom trabalhador. Tome isto.
E entregou-lhe uma bolsa recheada de moedas de ouro!
O outro não sabia o que dizer, de tão contente. Agradeceu como pôde e saiu. Foi direto ao terreiro, nos fundos do seu casebre, e enterrou as moedas. Agora tudo ficaria melhor, pois tinha dinheiro para o resto da vida.
Só que as coisas não ficaram melhores.
A partir daquele dia parou de cantarolar, pois o pânico o deixou mudo; qualquer pequeno ruído o punha em
sobressalto, sempre imaginando que alguém estaria atrás de suas moedas. Suas noites deixaram de ser tranquilas; simplesmente perdia a maior parte do sono, preocupado com as moedas enterradas. Ficava alarmado até com o chiado do rato e com o rosnar do cachorro. 
Depois de certo tempo, ele não aguentou mais. Desenterrou o saco de moedas e foi devolvê-lo ao vizinho.
− Muito lhe agradeço a bondade, senhor, mas não posso ficar com o dinheiro. Essas moedas me custaram a tranquilidade e a alegria de viver. Nenhum dinheiro do mundo compensa isso!
As coisas mais simples e belas da vida não têm preço. É preciso pesar criteriosamente valores e prioridades na balança. 

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar. 

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