LIÇÃO DE DESAPEGO



Um jornalista, certa feita, tornou-se amigo de Chico Xavier (1910-2002), passando a visitá-lo várias vezes em Uberaba, Minas Gerais, bem como para assistir às suas sessões públicas e abraçá-lo, em gratidão pela solidariedade recebida quando da perda de um ente querido. 
Regressando de uma viagem à Itália, Fernando (era esse o seu nome) escreveu a Chico contando que, em uma loja de souvenirs instalada dentro das ruínas da cidade de Pompeia, adquirira uma relíquia - um azulejo no qual era reproduzida a gravura de uma jovem colhendo flores no campo. Fernando ainda informou que, por via postal, lhe enviaria a delicada lembrança.
Em resposta, Chico ponderou que talvez a "relíquia pompeiana" pudesse se quebrar durante o trajeto postal.
- Sugiro que aguarde uma viagem pra cá, pra Uberaba, a fim de me entregar pessoalmente o objeto.
Algum tempo depois, a entrega se concretizou. O famoso médium, aparentemente embevecido, pegou o azulejo e fitou demoradamente a imagem ali pintada, carcomida pelo tempo e com várias rachaduras.
Chico escreveu uma dedicatória na face posterior da peça e a devolveu a Fernando, dizendo: 
- Agora, peço que a leve de volta. Guarde-a com você.
Fernando ficou surpreso. Ele sabia que Chico não costumava aceitar presentes ou recompensas materiais; aquilo, no entanto, não passava de simples lembrancinha, apesar da antiguidade. 
- Mas por que você não fica com o presente, Chico? Eu o comprei pensando em você!
A resposta foi surpreendente: 
- Sim, o presente é meu e o guardei em minha retina espiritual. Peço a você e aos seus familiares que sejam os guardiães da preciosa relíquia.
E finalizou com uma frase de gratidão.
A verdadeira posse jaz armazenada no baú da doce memória, que não esquece o carinho de amigos expresso em mimos delicados e atitudes singelas, que valem sempre a pena.

Autoria anônima - adaptação de Marcos Aguiar. 

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