DISFARCE DA VERDADE



Uma vez, a Verdade resolveu visitar o sultão no palácio dele. Ela se envolveu com um véu claro e um vestido transparente e, ao passar pelos portões, foi barrada pelo sentinela. 
- Quem é você?
- Sou a Verdade e quero falar com o sultão.
O chefe da guarda foi falar com o Sultão:
- Senhor, uma mulher desconhecida e quase nua pede uma audiência. 
- Qual o nome dela?
- Chama-se Verdade!
- Não a deixe entrar! Diga-lhe que vá embora imediatamente!
A Verdade entristeceu-se com a resposta do sultão e foi embora.
Uns dias depois, ela decidiu voltar. Desta vez, trajada como peregrina, com roupas simples e desgastadas. Ao ser interpelada pelo guarda, respondeu:
- Sou a Verdade e quero falar com o sultão!
Era o mesmo guarda da primeira vez e ele não a reconheceu. Quando comunicou ao sultão sobre a presença da viajante e que o nome dela era Verdade, recebeu a mesma ordem:
- Já falei que não quero a Verdade aqui! Mande-a embora!
A Verdade, desapontada, saiu mais uma vez.
No dia seguinte ela teve uma ideia: vestiu-se com trajes riquíssimos e se enfeitou toda com joias e outros adereços e se dirigiu novamente ao palácio. 
O guarda, mais uma vez, não a reconheceu.
- Quem é você?
- Sou a Fábula e desejo falar com o sultão.
O guarda foi até o sultão e falou:
- Há uma mulher aí fora querendo falar com o senhor. Uma mulher muito bonita, muito bem vestida e coberta de joias.
- Como ela se chama?
- Fábula.
- Ótimo! Faça-a entrar! Mandarei preparar um banquete para ela!
E foi assim que a Verdade conseguiu ser recebida pelo Sultão.
Para certas pessoas, é difícil (pra não dizer impossível) aceitar a "verdade nua e crua".

Conto árabe - adaptação de Marcos Aguiar. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

UMA FILA QUE VALEU A PENA

A VERDADEIRA RIQUEZA

OS PREGOS