OUVIDOS DE OUVIR




Índios americanos reunidos. De início, profundo silêncio entre os participantes.
De repente, alguém abre a boca, brevemente. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois alguém expôs seus pensamentos - pensamentos essenciais para ele.
Tais pensamentos são estranhos aos demais. É preciso tempo para assimilar o que o outro falou.
Se alguém falar imediatamente depois, são duas as possibilidades.
A primeira: quem falou está dizendo: "Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse suas palavras."
A segunda possibilidade: "Ouvi o que você falou. Mas isso eu já havia pensado há muito tempo. Não é novidade pra mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou!"
Em ambos os casos, está se chamando o outro de tolo, o que é pior que uma bofetada.
O silêncio prolongado é um jeito de dizer: "Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou."
Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E é aí que se começa a ouvir coisas que não se ouvia.
Comunicar-se bem é fundamental nos dias de hoje. Mas será que apenas saber falar é suficiente? Não estamos esquecendo o que vem antes, ou seja, aprender a ouvir?
Ninguém se educa ou cresce se não aprende a escutar. Não basta ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma.
Que possamos aprender a ouvir e a respeitar mais a opinião do outro e, assim, aprender com todos, independente se sabem mais ou menos do que nós.

Texto de Rubem Alves - adaptação de Marcos Aguiar. 

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