A PROVA DO TEMPO




No século VI a.C. viveu Creso, rei da Lídia, o homem mais rico de seu tempo. Ele governava com sabedoria, mas também com prepotência.
No esplendor de sua glória, certa feita recebeu em seu palácio um dos sete sábios da Grécia - talvez, o maior de todos: Sólon.
A fim de exibir todo o seu poder e sua riqueza, Creso mandou preparar um banquete esplendoroso. Depois, convidou Sólon a visitar as amplas salas dos tesouros reais repletas de pérolas, esmeraldas, diamantes, rubis, estátuas e peças de ouro.
Creso, no entanto, observou que seu convidado passeava por entre aquela riqueza imensa com absoluta indiferença. 
- Não vês, ó sábio, que sou o homem mais feliz do mundo com tantas riquezas?
Sólon, respeitosamente, respondeu:
- Meu rei: nunca ninguém poderá se considerar feliz antes de passar pela prova do tempo. É o tempo que se encarrega de dizer se fomos ou não felizes. Ele sempre nos surpreende com o inesperado. Não vos esqueçais, majestade, de que a felicidade está acima de tudo aquilo que se tem.
Creso não deu muita importância às palavras do sábio e tratou de aumentar ainda mais a sua riqueza e poder. 
Contudo, não muito tempo depois, Ciro, rei dos persas, marchou com seu exército contra a Lídia. Suas tropas penetraram na cidadela de Creso e invadiram seu suntuoso palácio, trucidando seus melhores guerreiros e saqueando todos os seus bens.
Juntamente com a família, Creso foi conduzido a ferros pela cidade, agora sob escombros. Humilhado, foi levado à praça central e amarrado a um poste, sobre uma pilha de madeira. Iria ser queimado vivo. 
Quando viu o arqueiro se aproximar com a tocha para atear-lhe fogo, ele recordou as palavras de Sólon: "Ninguém no mundo é feliz se não passar pela prova do tempo".
Sim. O tempo lhe trouxera muitos infortúnios: o primogênito morto em um acidente, aos dezoito anos, assim como uma enfermidade incurável sobre seu filho mais novo.
E agora ali estava ele, sua família e seus súditos, todos vencidos, humilhados.
O que sobrara de sua riqueza e glória, repentinamente subtraída de suas mãos?
Que fora feito de seu palácio, demolido pela sanha destruidora dos conquistadores?
Só então, Creso entendeu que a felicidade não é simplesmente ter; é algo mais.
Tudo nesta existência é efêmero. Agora estamos sorrindo; de uma hora para outra poderemos mergulhar num oceano de lágrimas por meio de uma tragédia de qualquer natureza. 

Texto de Divaldo Pereira Franco - adaptação de Marcos Aguiar. 

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