A INFELICIDADE DO RANCOR





Bianca e Beatriz, ambas adolescentes, estavam muito felizes no acampamento de férias. Eram muito amigas. Identificavam-se em praticamente tudo.
De repente, um telefonema. Era a mãe de Bianca. Ela tinha de voltar para casa imediatamente. Seu pai morrera. Dono de um barco pesqueiro, fora surpreendido por uma terrível borrasca. O corpo havia sido resgatado, após dias de buscas.
A viúva entrou em depressão e sua filha teve de dar-lhe assistência em todas as coisas, por meses. Para uma adolescente, era um enorme peso lidar ao mesmo tempo com o luto pelo pai e com o transtorno psicológico da mãe. Ela se tornou adulta bem antes do tempo.
Uns anos depois, Bianca foi a um retiro e nunca mais voltou para casa. Simplesmente mandou recado à mãe, dizendo que emigraria para outro país. Nunca informou onde se encontrava.
Todo ano, no aniversário da filha, a mãe preparava um bolo na esperança de que ela voltasse, mas isso não acontecia. Por fim, desistiu de esperar qualquer notícia.
Então, oito anos depois, ela reencontrou a amiga da filha, Beatriz, que lhe informou que Bianca residia em algum lugar na Itália e tinha três filhos. Vivia bem, apesar de ter emagrecido bastante.
A mãe de Bianca soube também do motivo de seu silêncio: a filha havia descoberto que, na noite em que o pai saíra ao mar, havia discutido seriamente com a mãe, por causa de uma suposta amante. A partir disso, Bianca culpou a mãe pela morte dele, cortando os laços com ela.
Mas o mundo dá voltas.
Não muito tempo depois, a senhora recebeu uma carta que a fez estremecer. Era de Bianca, com seu endereço atual.
"Sou mãe de três crianças. Meu filho mais velho, Roberto, de nove anos, foi tragado pelas águas do mar, que tanto amava.
Sinto-me mortalmente ferida e agora avalio o quanto deve ter doído em sua alma a minha partida e minha ausência de tantos anos.
Somente agora meu coração de mãe entende a sua dor. Espero que possa me perdoar."
A mãe, de imediato, foi ao encontro da filha. E assim brotou a reconciliação, o perdão mútuo, o início de uma jornada para a felicidade de ambas.

Texto de Pedro Almodóvar - adaptação de Marcos Aguiar.

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