TELHA DE VIDRO





Depois de perder os pais, uma moça deixou sua cidade natal para morar numa fazenda do interior, com uns tios que mal conhecia. 
A casa deles havia sido construída pelo bisavô dela, há muitas décadas. Quase todos os móveis eram peças pesadas e escuras que estavam ali há mais tempo que os atuais moradores.
A chegada de Rachel representou certo transtorno para seus tios, desacostumados a visitas ou a novidades.
"Onde acomodariam a sobrinha?", perguntaram-se.
Como não havia cômodo mais apropriado, cederam-lhe um quarto que ficava no sótão. Estava bom para Raquel, apesar do tamanho reduzido e do cheiro de mofo. Mas um detalhe a entristecia: o quarto não tinha janelas. Não se podia vislumbrar o dia radiante com todas as suas maravilhas. Apenas um pequeno feixe de luz penetrava timidamente pela porta. Assim, era essa ausência de claridade que deixava ainda mais tenebroso o coração da moça.
Até que um dia, depois de muito ter chorado baixinho, decidida a voltar a sorrir, ela pediu ao tio que lhe trouxesse da cidade uma telha de vidro. 
Daí o quarto de Rachel, antes tão sombrio, passou a ser a parte mais alegre da casa. 
O recinto, antes feio e cinzento, agora estava diferente. Passou a ficar repleto de claridade, brilho e luzes. E Rachel voltou a sorrir.
Aquela telha de vidro representa a esperança. 
Que também permitamos que essa luz penetre no nosso quarto escuro e nos mantenha otimistas diante da vida.

Texto de Rachel de Queiroz - adaptação de Marcos Aguiar. 

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