EXTREMO SACRIFÍCIO MATERNO




Em sete de dezembro de 1988, em Leninakan, Armênia, um intenso terremoto matou mais de vinte e cinco mil pessoas e devastou grande parte da região.
Entre as vítimas, havia uma mulher de vinte e seis anos, Suzanna Petrosyan, que ficou soterrada com sua filhinha de apenas quatro anos.
Suzanna, imobilizada, de costas, tinha acima de sua cabeça uma grande placa de concreto com cinquenta centímetros de espessura e um cano de água caído sobre um de seus ombros, que a impediam de se pôr em pé.
O frio era rigoroso. A criança, agarrada à mãe, suplicou:
- Mamãe, estou com sede. Por favor, mamãe.
Suzanna conseguiu mexer um braço e alcançou um pote de geléia de framboesa, que caíra de um armário da cozinha. Mas o doce durou pouco e a criança continuou a lamentar.
Percebendo que a filha estava cada vez mais fraca e gemia baixinho, Suzanna, desesperada, temeu que a coitadinha morresse de sede. Mas não havia nada para lhe dar, nem água, nem líquido algum. Foi quando se lembrou do próprio sangue. 
Mesmo com os dedos enrijecidos pelo frio, ela pegou o pote de geléia, quebrou-o e, com um dos cacos, cortou o dedo indicador, dando-o à filha pra que ela o sugasse. Contudo, as gotas de sangue não foram o bastante.
- Quero mais, mamãe, quero mais - choramingava a menina.
A mãe, condoída e angustiada, fez mais cortes na mão, apertando os dedos a fim de aumentar o fluxo de sangue. Admitiu a possibilidade de morrer, mas queria ao menos salvar a filha. 
Apesar do sufoco e da baixíssima temperatura, forcejou até conseguir se despir e com as roupas agasalhou a criança. Com um pedaço de pano encontrado ali perto, improvisou-lhe também um leito.
Os dias se passaram e os pedidos da criança por algo para beber eram cada vez mais insistentes. Suzanna continuou doando-lhe o sangue. Em meio ao suplício e à dolorosa situação, chegou a perder a noção do tempo e não lembrava de quando havia cortado os dedos. Chegou a ter alucinações e de quando em quando gritava, mesmo sem mais esperanças.
Todavia, no dia catorze, quase oito dias debaixo dos escombros, elas foram finalmente resgatadas, sendo transportadas de helicóptero para um hospital na capital. Milagrosamente sobreviveram.
É na maternidade que o amor encontra sua mais sublime expressão, podendo ir além do imaginável. 

Texto de Passos Lírio -  adaptação de Marcos Aguiar. 

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