AMOR DO PASSADO




Uma escritora tinha como hábito ler num jornal o chamado "Correio Sentimental", não com o propósito de encontrar um novo amor, pois era casada e feliz, mas simplesmente pelo fascínio por bilhetes românticos.
Certo dia, um desses bilhetes lhe prendeu a atenção. Dizia: 
"Henrietta. Lembra de termos namorado em 1938? Desde então eu nunca te esqueci. Por favor, me telefone. Irving."
A curiosidade da escritora a inquietou: telefonou para Irving. 
A voz que atendeu era sonora e madura.
- Pois não?
- Bom dia. Estou ligando em resposta a seu bilhete no jornal. Mas não sou a Henrietta. Apenas tive interesse em saber mais sobre a história de vocês.
Irving então contou que, em 1938, ele conhecera Henrietta e se apaixonaram. A família dela, contudo, achava que ela era muito nova pra casar. Por isso, logo mandaram-na para a Europa, onde permaneceu durante anos e acabou casando com um rapaz que conhecera lá.
- Também casei - continuou Irving - Mas estou viúvo há três anos. Achei que, se Henrietta também estivesse só, talvez pudéssemos reatar aquele doce amor de nossa juventude. Daí veio a ideia do anúncio. 
A escritora ficou deveras comovida com o relato de Irving e decidiu ajudá-lo. Durante dois anos tentou localizar Henrietta, mas não obteve sucesso. 
Então, numa manhã de 1993, no metrô de Nova York, enquanto lia o Correio Sentimental, foi interrompida por uma senhora: 
- Procurando um novo marido, querida?
- Oh, não. Leio por curiosidade. Nunca teve vontade de ler tais anúncios?
- Prefiro não ler isso. Acredito que há muito sofrimento nessas linhas.
A escritora concordou com a desconhecida. Por trás de cada anúncio havia um coração esperançoso, mas triste e solitário.  
A conversa evoluiu e a escritora mencionou alguns casos que lera, parando no de Irving e Henrietta. 
- Gostaria de poder dizer que o Irving encontrou o seu grande amor, não foi o que aconteceu. Ou ela já morreu, ou mora em outra cidade ou então simplesmente não lê o Correio Sentimental.
A desconhecida respondeu:
- É a terceira opção. Acredite, eu tenho certeza.
E, logo em seguida, com brilho nos olhos: 
- Por acaso você tem o número dele?
E aquele rosto enrugado resplandeceu de alegria quando a escritora lhe passou o número do telefone de Irving.
Henrietta fora encontrada.
A esperança é uma mensageira dos céus que traz um recado suave, mesmo quando tudo ao redor está tenebroso. Sua força é tão grande que sobrepuja o tempo e envolve docemente aqueles que, mesmo distantes, vivem e continuam a amar.

Texto de Yitta Halberstam - adaptação de Marcos Aguiar.

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