PRECIPITAÇÃO




Uma pulga que residia no pelo de um cachorro sentiu, certo dia, um agradável cheiro de lã.
- Que será isso? - indagou - Vou dar um salto pra ver.
Verificou então que o seu hospedeiro adormecera encostado a um carneiro.
"Isso é exatamente o que preciso", pensou a pulga. "Uma pelagem mais espessa, mais macia e, com certeza, mais segura. Não correria o risco de ser encontrada pelas patas ou dentes do cachorro, uma ameaça constante e que não me deixa dormir direito..."
Então, sem mais pensar, a pulga pegou suas trouxas e mudou-se definitivamente de casa, saltando para o pelo do carneiro. 
A lã, no entanto, era tão espessa que era difícil percorrer por ela. A pulga foi tentanto atravessá-la, separando pacientemente os fios, procurando uma trilha menos difícil.
Chegou, enfim, às raízes dos pelos, mas eles estavam muito juntos, praticamente encostados uns nos outros. A pulga não encontrou sequer um furinho por meio do qual pudesse alcançar a pele do animal.
Cansada, banhada em suor e absolutamente desapontada, a pulga achou melhor retornar à sua casa anterior. Mas, ao dar o salto, constatou que o cachorro tinha ido embora. 
A pobre pulga ficou a chorar dias a fio, arrependida de sua precipitação.
Nunca deixe o certo pelo duvidoso; você corre o risco de ficar sem o melhor.

Fábula de Leonardo da Vinci (1452-1519) - adaptação de Marcos Aguiar. 

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