A "INADAPTÁVEL"




Aos oito anos, Gillian Lynne (1926-2018) simplesmente não conseguia ficar quieta na escola: levantava-se com frequência, se distraía e não acompanhava as lições. 
Seus professores preocupavam-se, gritavam com ela, castigavam-na, mas pouco adiantava. A menina nunca ficava atenta. E quando chegava em casa era castigada também pela mãe, como se a punição escolar fosse insuficiente. 
Um dia a direção da escola mandou chamar a mãe de Gillian. Os professores advertiram-na sobre a possibilidade de alguma doença ou distúrbio na menina, dado o seu comportamento e dificuldade no aprendizado. Aconselharam-na a procurar um especialista.
Por espaço de meia hora, a mãe de Gillian conversou com o médico sobre os problemas que a filha vinha apresentando na escola. O profissional então se dirigiu à garota e disse: 
- Gillian, eu ouvi todas as coisas que sua mãe me disse e preciso conversar a sós com ela. Espere aqui; voltamos daqui a pouco.
Eles a deixaram sozinha na sala. Antes de sair, porém, o médico ligou o rádio que estava sobre a mesa e disse para a mãe: 
- Só escute e observe. 
Assim que eles deixaram a sala, Gillian estava de pé, se movimentando com a música. Após observá-la por alguns minutos, o doutor se virou para a mãe.
- Sra. Lynne, a Gillian não está doente; ela é uma dançarina. Matricule-a num curso de dança. 
Anos depois Gillian revelaria em uma entrevista: 
“Não consigo descrever como foi maravilhoso. Entrei numa sala cheia de pessoas como eu. Pessoas que não conseguiam ficar paradas. Pessoas que precisavam se mexer para pensar.” 
Gillian eventualmente fez um teste para a Royal Ballet School, se tornou bailarina e teve uma carreira fantástica. Se formou e fundou sua própria empresa, a Companhia de Dança Gillian Lynne, tornando-se responsável por alguns dos musicais mais bem sucedidos da história da Broadway, como "Cats" e "O Fantasma da Ópera".
Aquele médico acertara na mosca!
Em algum momento na vida, muitos de nós somos como a Gillian - como peças redondas tentando ser encaixadas em buracos quadrados. É sempre legal quando somos aceitos pelo que somos e não pelo que nos falta. 
Ser diferente ou "não-convencional" pode revelar-se uma bênção. 

Texto de Marion Nugnes - adaptação de Marcos Aguiar. 

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