A VEZ É DO PRIMEIRO





Um bode errante estava cansado de perambular. Após muita procura, encontrou um terreno descampado no meio da mata. Aplainou o local e saiu a fim de buscar material para continuar a construção. 
Nesse meio tempo, uma onça também estava procurando um canto pra ficar. Foi quando ela encontrou o mesmo terreno. Feliz da vida, disse:
- Que maravilha! Um terreno descampado e nivelado! É aqui que vou construir minha casa!
E, após firmar umas estacas para delimitar a área, saiu pra arrumar material.
Pouco tempo depois, chegou o bode, que ficou boquiaberto.
- Caraca! Os céus estão me ajudando! Já tem estacas fincadas no terreno!
O bode alinhou varas, formando paredes; em seguida colocou a coberta da casa e foi buscar mais coisas.
Quando a onça reapareceu, ficou encantada. 
- Nossa! Que bom! Já não vou ter o trabalho de fazer o telhado!
Cobriu as brechas das paredes com barro por dentro e por fora, assentou portas e janelas e depois foi buscar seus móveis. 
O bode nem acreditou no que viu.
- A casa já está quase pronta! Legal!
Pintou as paredes e colocou suas tralhas num dos quartos. A onça voltou com seus móveis e esbugalhou os olhos:
- Caramba! A casa já está até pintada!
A onça arrumou seus móveis num outro quarto. Os dois estavam tão cansados que logo pegaram no sono e não viram mais nada.
No dia seguinte acordaram e deram de cara um com o outro.
- Ei, o que está fazendo na minha casa? - indagou a onça.
- Não senhora, a casa é minha! Eu encontrei o terreno e o aplainei!
- Mas eu que finquei as estacas e reboquei as paredes! Meus móveis estão aí dentro!
- E daí? Meus móveis também estão aqui!
Então, compreendendo que fizeram a casa juntos, decidiram conviver. Só que a onça já estava pensando em jantar o bode e este andava desconfiado. 
Combinaram que cada dia um sairia pra buscar comida para os dois.
Primeiro foi a onça. Encontrou um bode selvagem e o matou. 
- Aí está o nosso jantar, bode! Prepare-o pra nós!
O bode quase teve um treco. Preparou seu irmão, mas deixou a carne toda para a onça; inventou um enjoo e não quis comer.
No dia seguinte, foi a vez do bode. Encontrou uma onça enorme, maior que sua companheira de casa. Daí o bode teve uma ideia. Começou a catar um monte de cipó. A onça, curiosa, perguntou:
- Ei, bode, o que está fazendo? Pra que tanto cipó?
- Então não está sabendo da ventania?
- Ventania?
- Sim! Fiquei sabendo de uma ventania tão terrível que vai levar tudo o que não estiver amarrado. Todos os bichos da mata estão se amarrando!
- Nossa! Então você pode fazer o favor de me amarrar? Aí depois você se amarra.
- Está bem; se insiste...
O bode amarrou a onça numa árvore. Ao se certificar de que estava bem amarrada, o bode pegou um pedaço de pau e bateu na onça até matá-la. Depois a desamarrou e levou para casa. 
Jogando o cadáver no meio da sala, disse à onça:
- Olha aí a janta de hoje! 
A onça ficou apavorada.
- Mas como você conseguiu matar essa onça tão grande?
- Nunca te contei, mas tenho poderes mágicos. Só preciso assobiar três vezes e qualquer bicho cai morto na minha frente! Posso fazer com você se quiser. Que acha?
A onça não quis pagar pra ver. Saiu correndo, gritando como louca e nunca mais voltou àquela casa, que passou a ser exclusivamente do bode.

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar. 

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