O TELEFONE DO VENTO




Em março de 2011, parte da costa noroeste do Japão foi devastada por forte terremoto, seguido de violento tsunami. Cerca de dezesseis mil pessoas morreram. Entre as vítimas, mais de quatrocentos moradores da pequena cidade de Otsuchi.
Ainda hoje, em meio a ruínas, moradores sofrem o luto pela perda de entes queridos.
Pensando em auxiliar essas almas despedaçadas, um morador chamado Itaru Sasaki idealizou algo fantástico. Instalou em seu belo e florido jardim uma cabine telefônica, deixando-a à disposição de todos. O aparelho, desconectado, recebeu o nome de "telefone do vento".
A sugestão é que o usuário, uma vez dentro da cabine, feche os olhos, fique em silêncio e ouça com atenção. 
Se ouvir o som do vento, de uma onda ou de um passarinho, deve abrir seu coração a fim de que seu sentimento possa alcançar a pessoa amada que se foi. O telefone do vento, que dispensa cartão, fios e cabos, funciona por meio da mente.
Assim, todos os dias, pessoas usam esse telefone para "enviar" mensagens ou simplesmente para tentar aliviar suas tristezas, "transmitindo" aquele recado nunca dado. Como um filho que assim se expressou:
"Oi, pai, aqui é o seu filho. Deve ter sido muito duro o senhor ficar preso em um campo de concentração na Sibéria. Recentemente recebi informações do governo japonês sobre sua morte. Faz setenta anos que sofro com isso. Minha mãe morreu e meu irmão mais novo também. Mas meu irmão mais velho e eu estamos bem. Cuide-se. Estou falando do telefone do vento. Depois telefono de novo. Tchau."
O telefone do vento objetiva oportunizar uma conexão mental entre os que ficaram e os que se foram. Uma bela e inusitada forma de propiciar uma comunicação que pode, em essência, ser realizada simplesmente pelo pensamento. Como o senhor Sasaki comenta:
- Expressar emoções é uma coisa difícil de fazer, então as pessoas vêm aqui extravasar seus sentimentos e aquilo que guardam no fundo da alma. O telefone é apenas um instrumento palpável para estimular o que podemos fazer por meio do pensamento, em qualquer lugar. Para muitos, o exercício de uma boa interação entre dois mundos.

Autoria anônima - adaptação de Marcos Aguiar.

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