NINHO VAZIO





Certa mulher era tida como exemplo pela sua reação serena às dificuldades da vida. Porém, depois que seu filho único se casou, foi se mostrando mais triste e lacrimosa a cada dia. Só falava da ausência dele e de como era penosa a sua solidão dentro de casa.
Um dia, ao visitar sua mãe, desabafou sua imensa dor.
- Ah, filha! - comentou a carinhosa anciã - Também passei pela mesma experiência, por duas vezes, com seu irmão e com você. Também provei o gosto amargo da saudade.
- Mas como a senhora superou essa dor terrível?
- Quando a saudade apertava meu coração, entrava no quarto, me sentava na cama e começava a recordar a infância de vocês, sentindo-os em meus braços. Parecia ouvir suas risadas no corredor e sua choradeira quando se machucavam. Via suas primeiras manifestações artísticas, rabiscadas nas paredes. Relembrava suas apresentações na escola, no dia das mães, me procurando na plateia com o olhar. Rememorava os tempos em que estudavam na Faculdade e a barulheira que faziam ao chegar, contando-me novidades. Parecia ainda sentir o calor do abraço gostoso que eu recebia dos dois quando iam dormir. Revia a ocasião em que me apresentaram seus namorados. Foi quando me conscientizei que deveria me preparar para vê-los sair de casa, para o novo lar que cada um iria estrear. Quando foram embora, eu olhava seus antigos quartos, agora vazios, e chorava. Mas aprendi que os filhos não pertencem aos pais. Cada um tem a própria jornada a percorrer. No entanto, mesmo distantes, sei que levaram um pouco de mim - tudo o que plantei em seus corações: princípios, valores e diretrizes para a vida direita. Então agradeci aos Céus e, a partir daí, a melancolia não mais me perturbou. Como os pássaros que deixam o ninho para voar, assim fazem os filhos. Eles saem para voar pelo mundo. E o que mais eu devia fazer que não fosse vibrar pra que o voo deles fosse bem sucedido?
Eis o ciclo da vida. Os filhos crescem e deixam de ser somente nossos. Mas não há ninho vazio quando se ama, porque nosso amor segue quem amamos e ao mesmo tempo nos conforta.

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar.

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