"O ÓDIO PRECISA ACABAR"





Eric Lomax (1919-2012) era oficial britânico quando se tornou prisioneiro em um lugar que ficou conhecido como "ferrovia da morte".
Essa estrada de ferro ligava Bangkok à Birmânia (atual Mianmar). Um projeto japonês, concretizado por milhares de prisioneiros de guerra. Estima-se que mais de 80.000 deles tenham morrido durante a construção da ferrovia.
Foi lá que Lomax conheceu Takashi Nagase (1918-2013), um de seus torturadores, que também servia de intérprete. Durante um ano inteiro, oficiais japoneses tentaram fazer com que Lomax confessasse ser um informante da resistência, o que nunca foi verdade. Sob tortura, teve seus braços e ossos do quadril quebrados, além de ser submetido a táticas de afogamento.
Quando retornou ao seu país em 1945, após três anos como prisioneiro, ninguém o esperava no cais. Soube por uma carta que sua mãe morrera e seu pai tornara a se casar. Para lidar com o indizível trauma de sua experiência, Lomax precisou de intenso trabalho terapêutico e do apoio de sua esposa.
Quarenta anos depois, ainda sofrendo a síndrome de estresse pós-traumático, Lomax e seu principal ex-algoz se reencontraram. Ainda ecoavam em sua mente as palavras terríveis e insistentes de Nagase: "Confessa, Lomax! Confessa e não haverá mais dor!"
Ao rever seu antigo torturador, Lomax teve a intenção de matá-lo. Os dois se reencontraram precisamente na ferrovia que Lomax fora forçado a ajudar a construir. Lomax descobrira que, após a guerra, seu inimigo fora condenado a trabalhar na região, à procura de corpos.
Mas Nagase também vivera atormentado a vida inteira. A imagem da guerra que mais o perturbava era a de um tenente inglês cuja tortura ele havia facilitado. Ele não contava que sua vitima ainda estivesse viva depois de tantos anos. Portanto Nagase entrou em choque ao reconhecer Lomax. Começou a chorar e pedir perdão.
Lomax, de imediato, não conseguiu desistir de sua vingança e reconciliar-se com Nagase. Mas, algumas semanas depois, em Hiroshima, Lomax finalmente o perdoou. Tornaram-se verdadeiros amigos e, posteriormente, escreveu-lhe Lomax: "Algum dia, o ódio precisa acabar".
Coincidentemente, Lomax e Nagase faleceram com a mesma idade: 93 anos.
O perdão estabelece a paz. Talvez necessite de tempo para ser concedido, mas felizes aqueles que conseguem dobrar o próprio ego ao concedê-lo!

Autoria anônima - adaptação de Marcos Aguiar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

UMA FILA QUE VALEU A PENA

A VERDADEIRA RIQUEZA

OS PREGOS