SARDAS E RUGAS





Num belo domingo de sol, muitas crianças estavam no zoológico com seus pais, tios ou avós.
Um artista armou sua pequena tenda e logo se formou uma fila enorme de meninos e meninas, todos aguardando serem pintados no rosto com patinhas de tigre.
Uma senhora se aproximou com a netinha, cujo rosto era todo salpicado de sardas vermelhas e salientes. Um garoto olhou para ela e gritou:
- Você tem tantas sardas que ele não vai ter onde pintar! 
A coitadinha abaixou a cabeça. Sua avó silenciou o moleque com um olhar fulminante. Depois se ajoelhou para ficar à altura da neta e disse-lhe baixinho:
- Adoro suas sardas.
- Mas eu as detesto - retrucou a pequena, quase fazendo um beicinho de choro.
A senhora deslizou a mão pela face da neta e continuou:
- Quando eu tinha a sua idade, sempre quis ter sardas. São tão bonitas!
A menina levantou os olhos.
- De verdade, vó?
- Claro. Quer ver? Diga-me uma coisa mais bonita que sardas.
A garotinha fitou a avó com olhos ternos e, sorrindo sem malícia, respondeu:
- Rugas.
Você também procura enxergar o próximo com as lentes da empatia?

Texto de Sue Monk Kidd - adaptação de Marcos Aguiar.

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