A SOPA DE PEDRA





Havia um frade andarilho que parava de convento em convento. Viajava sempre a pé e a fome o consumia frequentemente.
Numa dessas andanças, passou por um casebre à beira da estrada e resolveu parar ali. Só que o dono da casa, que estava à janela, era um conhecido mão-de-vaca.
- Bom dia, seu frade. O que faz por aqui?
- Estou a caminho do convento mais próximo, que fica ainda muito distante. Estou muito cansado e varado de fome.
- Que pena! - comentou o homem, mas sem se dar ao trabalho de ir buscar ao menos um pedaço de pão para o forasteiro. 
- Se me der licença, vou fazer aqui em frente à sua casa uma sopa de pedra.
E, enquanto falava, o frade foi catando uma boa pedra e lavou-a numa bica d'água ao lado da casa. 
"Sopa de pedra?", pensou o homem. E, intrigado, saiu da janela e pôs-se à porta para observar a preparação da tal sopa.
Como o frade lhe pedisse emprestada uma panela, foi buscá-la enquanto uma pequena fogueira era acesa. Após encher a panela com água, disse:
- É só deixar ferver.
E colocou a pedra dentro da panela.
O dono da casa fez uma careta.
- Então isso se come?
- Já vai ver, mas preciso de um pedaço de toucinho pra dar um gosto. Tem como me arrumar?
- Está bem.
O cheiro do toucinho logo se fez sentir.
- Sabe o que pode melhorar aqui? Umas folhas de couve.
- Isso é o de menos. Vou pegar com a minha mulher que acabou de chegar com a cesta cheia de verduras.
- Aproveita e traz também sal!
Depois de temperar a sopa e prová-la, o frade comentou com a dona da casa (que, àquela altura, estava ao lado do marido observando a preparação da sopa):
- Sabe, senhora, o que pode dar um toque bem especial a esta sopa? Umas rodelas de salpicão ou chouriço.
- Espera, vou buscar - disse o marido.
O frade incluiu no ensopado o chouriço e mexeu bem.
- Falta só mais uma coisa: umas gotinhas de azeite! Por acaso tem aí?
- Tem sim, seu frade - respondeu a mulher.
Deitado o azeite, a panela ferveu mais alguns minutos. Depois o frade retirou a panela do fogo, levantou a tampa, deixou escapar todo o vapor e então se sentou para comer.
Acabada a sopa, o frade limpou a boca e foi à fonte lavar a panela e a pedra. Pôs a pedra no bolso e devolveu a panela.
- E a pedra? - indagou o homem.
- A pedra o quê?
- Não vai comer a pedra? Afinal, não é sopa de pedra?
- Você já viu alguém comer pedras?
- Ora... não. 
- Pois é. Esta aqui estou guardando para a próxima vez que encontrar um insensível como você, que não teve pena de um pobre viajante cansado e faminto!
E o frade, virando as costas com desdém, seguiu seu caminho.

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar. 

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