BOM PROPÓSITO





O primeiro-ministro de certo rei costumava afirmar que tudo tinha um bom propósito. O rei gostava da companhia do ministro, especialmente pelas manhãs, quando cavalgavam pela floresta e podiam conversar à vontade sobre os mistérios da vida. A impressão do rei era que o ministro tinha sempre uma resposta pra tudo.
Uma outra ocupação diária do soberano era em sua carpintaria particular, onde gostava de trabalhar com madeira, esculpindo estátuas e outros objetos.
Numa tarde, enquanto talhava uma porta, o rei sofreu um acidente tão grave que lhe decepou o dedo indicador. Desesperado, mandou chamar o primeiro-ministro.
- Está vendo? Como isso pode ter acontecido comigo, que sou justo e honesto?
O ministro simplesmente respondeu:
- É para um bom propósito. 
O monarca, enfurecido, ordenou que lançassem à prisão o primeiro-ministro.
Depois do ocorrido, tudo ficou diferente para o rei. Não tinha ninguém com quem pudesse conversar à vontade e suas cavalgadas matinais se tornaram solitárias.
Numa dessas manhãs, foi surpreendido por selvagens que o capturaram. Levado à tribo deles, notou com horror que uma cerimônia de sacrifício estava sendo preparada e que ele seria a vítima.
Contudo, ao aproximar-se do rei, o feiticeiro percebeu que lhe faltava um dedo. Ordenou que interrompessem a cerimônia e que o prisioneiro fosse libertado, pois os deuses não aceitariam uma oferenda imperfeita. 
O rei tratou logo de sair dali e retornou ao castelo. Assim que chegou, mandou trazer do calabouço o primeiro-ministro. Após contar-lhe o ocorrido, comentou:
- Você tinha razão. Perdi o dedo para não perder a vida. Perder o dedo teve um bom propósito. Mas me diga: qual o bom propósito que te manteve preso todo esse tempo, uma vez que você também é um homem bom? Como você explica isso?
O sapiente servo respondeu:
- Vossa Alteza esqueceu que tínhamos o costume de cavalgar juntos todas as manhãs? Se nessa ocasião eu estivesse com o senhor, eu teria sido a oferenda, pois não tenho nenhum defeito físico...
A vida é uma verdadeira incógnita, cheia de eventos incompreensíveis, mas que certamente têm um bom propósito, o qual se revelará a seu tempo.

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar.

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