O QUE É MAIS VALIOSO?

Um príncipe chinês se orgulhava de sua antiga e rara coleção de porcelana - doze pratos de grande beleza artística e decorativa.

Certo dia, num momento de descuido, um serviçal deixou cair um dos pratos, que se quebrou completamente. Ao saber do sucedido, o príncipe de tal modo se enfureceu que sentenciou à morte o pobre servo.

A notícia da condenação se espalhou por toda parte e o sentimento unânime era de revolta contra a impiedade do príncipe. Afinal, por mais inestimável que fosse a peça, era apenas um prato. Como comparar um artigo de porcelana a um servidor veterano e leal?

Na véspera da execução, diante de toda a corte, apresentou-se um idoso sábio, que declarou ao príncipe:

- Alteza, eu devolverei a igualdade à sua coleção de porcelana. Peço, por favor, que me tragam os pratos intactos e os pedaços do que se quebrou.

Conhecedor da fama de sabedoria do ancião, o príncipe atendeu seu pedido.

Sobre uma mesa, estenderam uma toalha branca e, sobre ela, os pratos e os cacos.

O velhinho acercou-se da mesa e, num gesto repentino, puxou a toalha e todos os pratos foram ao chão, espatifando-se. 

Todos ficaram pasmos. O príncipe surtou de tanta raiva.

O ancião se adiantou:

- Conforme prometi, aí está; todos os pratos estão na mesma condição. Imagino que o senhor agora queira me matar também, mas antes deixe lhe dizer uma coisa: como estas porcelanas lhe são mais valiosas que as vidas de seus súditos, decidi oferecer minha vida por eles. Afinal, já vivi bastante. De bom grado, sacrifico-me por aqueles que poderiam morrer, cada vez que um dos pratos fosse quebrado. Desejo, com minha vida, salvar outras doze vidas, já que, no seu conceito, elas valem menos que as peças de porcelana.

O príncipe entendeu a mensagem e se envergonhou da própria arrogância. Mandou libertar o serviçal condenado e também deixou ir livre o ancião, perdoando a ambos.

Nada há mais precioso do que a vida!

Texto de Divaldo Pereira Franco - adaptação de Marcos Aguiar.