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Mostrando postagens de maio, 2024

RIQUÍSSIMO

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Havia um sapateiro, o único em seu povoado, muito requisitado por seu trabalho. Um dia ele recebeu a visita de um mendigo. - Por favor, amigo, você poderia consertar a minha sandália, por caridade?  - Olha, assim não dá. Não posso fazer essas coisas de graça; eu não tenho nada e ninguém me dá nada e tenho que ralar pra conseguir meu dinheiro! - Você não tem nada? Bem... e se eu te oferecesse um milhão em troca de tuas pernas, você aceitaria? - Tá louco? De que me adiantaria essa fortuna se eu não poderia mais andar? - E por dez milhões, você me daria seus braços? - De jeito nenhum! Eu iria deixar de fazer praticamente tudo o que faço hoje! - E os teus olhos? Você os arrancaria se eu pudesse te pagar cem milhões por eles? - Absurdo! O prazer de enxergar vale muito mais que cem milhões! - Pois então, meu amigo, você é tão rico e ainda não se deu conta disso? - concluiu o mendigo. Há coisas que o dinheiro absolutamente jamais substituirá. Valoriza tuas riquezas! Autoria de...

UM QUARTO PARA SCHWARZENEGGER

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Tempos atrás, Arnold Schwarzenegger (1947-) teria publicado uma foto dele mesmo dormindo na rua, em frente a um hotel, aos pés de sua famosa estátua de bronze, com esta legenda:  "Como os tempos mudaram..." A frase não foi por mera alusão à terceira idade dele, mas porque, quando governador da Califórnia, inaugurara aquele hotel com a sua estátua. Na época, a administração do hotel dissera a Arnold: "A qualquer momento você pode vir e nosso hotel sempre terá um quarto reservado para você." Um dia, entretanto, quando Arnold já não era governador e quis se hospedar no hotel, a administração recusou-se a dar-lhe um quarto, argumentando que ele deveria pagar como qualquer outro cliente, já que o hotel estava quase inteiramente ocupado. Ele então trouxe um "sleeping bag" (saco de dormir), deitou-se aos pés da estátua e explicou o que queria transmitir:  "Quando eu estava em uma posição importante, todos me felicitavam; quando perdi essa posição...

A LENDA DA MANDIOCA

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Certa vez, uma índia tupi deu à luz uma menina, a quem chamou de Mani. A pequena, diferentemente dos irmãos, tinha a pele bem branquinha e, além de muito bonita, era bondosa e querida por todos da aldeia.  No entanto, um dia, repentinamente, Mani adoeceu e ninguém conseguiu descobrir o que ela tinha. O curandeiro tentou de tudo, mas a pobrezinha, depois de pouco tempo de luta contra a enfermidade, faleceu. Os pais de Mani decidiram enterrá-la dentro da própria oca onde viviam, seguindo a tradição. O local onde ela foi enterrada foi regado pelas lágrimas de seus pais e irmãos e de todos os aldeões.  Uns dias depois, brotou uma pequena planta no local da sepultura. Os pais de Mani levaram a plantinha para fora e a colocaram em um lugar onde pudesse receber a luz do sol e, assim, crescer. Passados mais alguns dias, a mudinha se converteu numa planta cuja raiz era grossa, marrom por fora e branquinha por dentro; a brancura era idêntica à cor da pele de Mani. Assim, a r...

OS ORGULHOSOS

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Um bode pastava tranquilamente no gramado quando percebeu que estava ficando tarde; então resolveu voltar para seu rebanho. Todavia, para retornar, precisava atravessar uma ponte - mais precisamente, uma árvore caída sobre o rio. Claro que isso não era nenhum problema para o bode, acostumado a subir e descer de lugares até mais arriscados. Quando começou a andar sobre a ponte, reparou que outro bode vinha em sua direção, pelo lado oposto. O primeiro bode se sentiu ofendido ao ver que o outro avançava ao invés de esperá-lo chegar à outra margem; ele, da mesma forma, prosseguiu. O segundo bode continuou o seu caminho, crente de que o primeiro é que deveria lhe ceder passagem. Assim os dois arrogantes se encontraram bem no meio da ponte e começaram a se agredir com o objetivo de derrubar o outro na água; até que ambos caíram e foram levados pela correnteza. Quando ninguém quer ceder, todos acabam prejudicados. Fábula de Esopo (620 - 564 a.C.) - adaptação de Marcos Aguiar. ...

TORNANDO O OUTRO MELHOR

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Henrique era um íntegro cortesão que cuidava dos assuntos domésticos relacionados ao palácio. Apesar de iletrado, tinha muita sabedoria e o rei gostava de conversar com ele sobre várias coisas. Um dia o rei morreu e subiu ao trono o seu filho, a quem Henrique conhecia desde o nascimento. O novo rei não era como o pai; tratava Henrique e os demais súditos com desdém e só dava valor aos seus amigos - que, na realidade, só se aproveitavam da amizade com ele. Henrique até tentou alertá-lo sobre isso, mas o rei foi muito duro com ele: - Quem é você para me falar qualquer coisa sobre meus amigos? A partir de hoje se limite a fazer seu trabalho e não me dirija mais a palavra! Henrique continuou a servi-lo, sem opinar mais nada. Uns dias depois, foi realizado um grande jantar comemorativo ao aniversário do rei. Compareceram muitos convidados importantes e os serviçais estavam todos nervosos, pois o rei era extremamente perfeccionista, exigindo que todos os detalhes da festa estives...

O JARDINEIRO E O ESPINHEIRO

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Um jardineiro, ao podar um pequeno arbusto cheio de espinhos, acabou perfurando o dedo, o que lhe causou muita dor. No momento teve vontade de cortar o arbusto até à raiz, mas então ele ouviu uma voz vinda do espinheiro: - Se você cuidar bem de mim, em breve poderá ver minhas belas flores. O jardineiro pensou um pouco e concordou. Colocou adubo no terreno e regou o espinheiro.  As flores, de fato, foram surgindo com o tempo; no entanto, o espinheiro também cresceu e seus espinhos se fortaleceram, enramando até se estender às árvores próximas e começar a prejudicá-las. Os espinhos eram tantos que ninguém mais podia se aproximar do pomar. Se você insiste em ajudar alguém te machucou, é provável que amanhã ele te magoará ainda mais! Fábula árabe - adaptação de Marcos Aguiar. 

SE DOE E NÃO SE NEGUE

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Antes de fechar os ouvidos ao apelo da caridade, medite um momento sobre as aflições dos outros; imagine-se no lugar de quem sofre. Observe o pobre irmão relegado ao padecimento nas ruas; suponha-se constrangido a semelhante situação. Repare no enfermo aprisionado ao leito e considere que amanhã, talvez, você seja mais um candidato ao socorro numa via pública. Olhe com simpatia o ancião debilitado e lembre que você também não escapará da velhice, caso não desencarne antes. Contemple as crianças órfãs e desamparadas e pense como teus filhos se sentiriam, se vivessem a mesma condição. Quando uma ambulância passar velozmente por você conduzindo algum desconhecido, pondere a possibilidade de um dia acontecer o mesmo a algum parente querido. Seja todo ouvidos ao companheiro que está entregue ao infortúnio e à angústia; pode ser que, lá na frente, você passe pelo mesmo e necessite desabafar com alguém. Fite a multidão dos fracos, cansados e infelizes e se mentalize entre eles. Im...

DEVOLVENDO O BEM

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Henya estava grávida e muito preocupada. O marido e o irmão dela, que morava com eles, estavam desempregados. Imaginava, angustiada, se ainda teria o seu emprego após a licença-maternidade. Algumas amigas haviam sido despedidas em tais circunstâncias.  Em meio a um jantar dos funcionários, o dono da empresa demonstrou interesse em saber a cidade de origem de cada um. Quando Henya, timidamente, mencionou sua cidade natal, o patrão manifestou curiosidade maior, perguntando em que barro ela residira, bem como os nomes de seus pais e avós. Henya respondeu a tudo.  A surpresa foi tomando conta de todos quando, emocionado, o empresário relatou: "Muitos anos atrás, viviam na sua cidade (olhando para Henya) dois eletricistas amigos. Um deles estava muito bem empregado. O outro ganhava apenas o suficiente para sobreviver. Um dia, um infarto levou o segundo, deixando esposa e filhos. O primeiro, assim que soube, foi prestar condolências à família. Notou como era velha a mobí...

O ACORDO COM A MORTE

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Depois de muito trabalho em uma grande guerra, a morte estava exausta e sua foice cega. O estado da ferramenta a incapacitava de ceifar novas vidas. Como não podia interromper sua tarefa, foi ter com um ferreiro a fim de que ele afiasse sua foice. O coitado, assim que avistou a morte, levou um grande susto, imaginando que sua hora era chegada. Mas logo a morte o tranquilizou, explicando o motivo de sua visita. - Está bem, farei o que me pede, mas com uma condição: quando você vier me buscar, me avise com antecedência, pra que eu deixe minha vida em ordem. A morte concordou, sua foice foi afiada e ela se foi. Finalmente, muitos anos depois, ela voltou, disposta a levar o ferreiro, que demonstrou surpresa e indignação.  - Mas como assim? Não recorda o nosso trato? Que me avisaria com antecedência? - Mas eu lhe avisei, e muitas vezes! - retrucou a morte - Seus cabelos brancos e rugas, a perda de agilidade e força, o enfraquecimento da visão e audição... de que mais você pr...

TAXISTA DIFERENTE

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Foi por volta do meio-dia quando o táxi estacionou em frente ao escritório. Dia quente, trânsito caótico. Abri a porta e sentei no banco traseiro. - Bom dia! - disse o motorista. Retribuí o cumprimento e indiquei o destino da corrida. Nem bem começara o movimento do veículo, travamos uma boa conversa. Aquele era um taxista diferente. Tinha um jeito agradável de se comunicar e um semblante risonho o tempo todo. Soltei essa: - Como deve ser difícil o seu trabalho, não é? Manobrar um veículo no trânsito de uma grande cidade não deve ser mole! - Não digo que seja fácil, mas é só uma questão de jeito - respondeu, sorridente. Aí o assunto ficou mais interessante pois aquele motorista se revelou uma verdadeira lição ambulante de sabedoria. Começou a contar seu "segredo": - Primeiro: nunca trago meus problemas pessoais para o trabalho. Antes de sair de casa, dou uma passadinha atrás da porta e deixo lá todas as minhas preocupações. Só as retomo quando volto para casa e, q...

A PEDRADA MAIS DOLOROSA

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Um homem foi condenado à morte por apedrejamento. Seus algozes lhe atiravam grandes pedras mas o réu, impressionantemente, suportava o terrível castigo em silêncio. Não emitia um grito, um murmúrio que fosse. Compreendia que a desgraça caíra com justiça sobre ele e que, portanto, seus clamores de nada serviriam. Naquela hora, passou por ali um homem que fora seu amigo. Pegou uma pequena pedra e jogou nele, apenas para demonstrar publicamente que não estava do lado do condenado.  Ao ser atingido pela pedrinha, o réu deu um grito estridente. O rei, que assistia à execução, ordenou a um de seus homens que perguntasse ao réu porque ele gritara quando atingido pela pedra miúda, depois de ter suportado em silêncio as pedras maiores. - As pedras grandes - respondeu - foram lançadas por pessoas que não me conhecem, por isso me calei. Mas o seixo foi jogado por alguém que foi meu amigo. Por isso gritei, em protesto contra ele. Lembrei de sua amizade nos bons tempos. E agora vi s...

A VERDADEIRA FORÇA

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Havia, numa época distante, um guerreiro considerado invencível, mas também muito cruel, sendo assim temido por todos. Em qualquer povoado aonde ele chegasse, os moradores abandonavam suas casas e fugiam para as montanhas, pois sabiam que aquele homem e seu exército não poupavam nada e nem ninguém. Numa dessas aldeias que ele invadiu, morava um ancião muito sábio. Todos os aldeões fugiram, menos ele. O guerreiro, como de costume, incendiou casas e matou animais. Chegando à casa do sábio, encontrou-o em pé, sereno, ao lado da porta. - Ei, velho! - bradou o guerreiro - Os dias de sua miserável vida chegaram ao fim. Hoje você morre. Mas como você foi o único da aldeia a não fugir, irei te conceder um último desejo antes de te matar. Sem alterar o semblante, o velhinho disse: - Eis o meu pedido: vá até o bosque e corte um galho de árvore. O guerreiro deu risada, achando aquilo uma grande besteira, mas decidiu atendê-lo. - Muito bem! - falou o ancião ao ver o guerreiro com o gal...

PEQUENO PRESENTE ESPECIAL

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Um casal convidou amigos e parentes para suas bodas de ouro, numa cerimônia muito simples. Perante todos, o esposo repetiu os votos que proferira 50 anos antes: amor, fidelidade, respeito. A mulher, emocionada, ouviu e, com voz trêmula, fez o mesmo. Beijos, abraços, mãos entrelaçadas. Filhos, netos, amigos, todos em redor, tomados de comoção e alegria. Alguém, então, resolveu perguntar ao marido qual o segredo de um casamento tão duradouro. Ele respondeu contando um pouco de sua história. Sua esposa, Sara, fora sua única namorada. Criado em orfanato, trabalhou duro. Nunca tivera tempo para amores, até o dia em que conheceu Sara. Antes mesmo que ele pudesse refletir, ela fizera com que ele a pedisse em casamento. Depois da cerimônia nupcial, durante a festa, o pai de Sara o chamou em particular. Entregou-lhe um pequeno embrulho, dizendo: "Este é o meu presente para você. Dentro dele está tudo o que precisa saber para ser feliz no casamento." Um pouco nervoso, o jov...

A DECISÃO DE DISNEY

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Num dia como outro qualquer, depois de muito refletir, decidi triunfar. Decidi não esperar as oportunidades e, sim, eu mesmo ir buscá-las. Decidi ver cada problema como um meio de encontrar uma solução.  Decidi desvendar em cada deserto a possibilidade de um oásis.  Decidi encarar cada noite como um mistério a resolver. Resolvi enxergar em cada dia uma nova chance de ser feliz. Descobri que meu verdadeiro rival está em mim mesmo - minhas próprias limitações; e que enfrentá-las é a única forma de as superar. Descobri que não sou o melhor e que talvez eu nunca seja. Deixei de me importar com quem ganha ou perde. O que importa pra mim agora é, simplesmente, saber melhor o que fazer. Aprendi que o difícil não é chegar lá em cima, mas deixar de subir.  Passei a entender que o melhor triunfo é poder encontrar e chamar alguém de "amigo". Descobri que o amor é mais que um simples estado de enamoramento - é uma filosofia de vida. Aprendi que de nada serve ser luz se is...

"COMIDA A ESCOLÊ"

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Perto do meio-dia, dois amigos viajantes que percorriam o interior procuravam um local para comer. Depararam-se afinal com um pequeno restaurante na beira da estrada. No alto do imóvel, havia uma placa de madeira com a seguinte inscrição em letras garrafais: "COMIDA A ESCOLÊ". Inferiram que o proprietário ou proprietária se equivocara ao escrever, talvez pela pouca leitura que tivesse. O certo é que ali se oferecia refeições. Entraram. Uma senhora muito humilde os atendeu. Não avistando cardápio, indagaram o que havia de comer. - Frango frito - foi a breve resposta. - E o que mais? - Só frango frito.  - Mas a tabuleta lá fora diz "comida a escolher" - argumentaram. - Sim - confirmou a mulher - Podem escolher se querem ou não comer frango frito. Aquela senhora, na sua simplicidade, tinha toda razão.  Tudo na vida é opção. Uns escolhem a felicidade, mesmo em meio à necessidade e escassez; outros preferem uma existência amarga, não importando a abundância e...

DEDICAÇÃO DESINTERESSADA

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Certa senhora residia num asilo há três anos. Agradável com todos, era o centro das atenções. E, embora tivesse que permanecer na cama ou na cadeira de rodas, em função das muitas dores, mostrava-se continuamente feliz. Sempre tinha uma história para contar, com dicção clara e linguajar de alto e bom astral que encantava seus ouvintes. Por vezes, relatava fatos de sua própria vivência com familiares.  Uma vez, alguém lhe perguntou por quantos anos fora casada. - Cinquenta e três anos. E sem férias - respondeu com um suspiro. Outra interlocutora quis saber se o marido era tão bom e gentil, dada a longevidade da relação. - Até o dia do casamento me parecia que sim; mas, depois, as coisas foram mudando muito. Ele era bem mais velho, estrangeiro, ateu e com costumes bem diferentes dos meus. Eu, jovem oriunda de uma família humilde, tive uma infância pobre e muito religiosa. O deus dele consistia no dinheiro. Seus apegos maiores eram a gula e o sexo. Nunca falou que me amava...

O PODER DA DOÇURA

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Um viajante seguia pela estrada, quando observou um pequeno rio que começava tímido por entre as pedras. Acompanhando o curso do rio por um bom tempo, notou que ele ia gradativamente se avolumando. Mais adiante, o que mais parecia um córrego se desdobrava agora em dezenas de cachoeiras, num espetáculo de águas cantantes. A música das águas enfeitiçou o andarilho, que se aproximou e foi descendo pelas pedras, ao lado de uma das cachoeiras. Descobriu, com surpresa, uma gruta, criada pela natureza com formas caprichosas. O homem entrou, impressionado com o aspecto das pedras gastas pelo tempo. De repente, descobriu uma placa. Alguém, obviamente, estivera ali antes dele. Com o auxílio da lanterna, leu a inscrição da placa. Consistia em versos do escritor Tagore, prêmio Nobel de literatura de 1913: "Não foi o martelo que deixou perfeitas estas pedras, mas a água, com sua doçura, dança e canção. Onde a dureza só faz destruir, a suavidade consegue esculpir." Assim também...

MEMÓRIAS PRECIOSAS

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Laís e Clara chegaram eufóricas à casa da vovó, com suas mochilas quase explodindo com tantas coisas - roupas, travesseiros, mantas coloridas, brinquedos; enorme bagagem pra tão pouco tempo. - A gente trouxe tudo de que precisa, vó. A avó não deixou por menos. Estendeu um colchão grande no assoalho da sala, rodeado de almofadas, como se fossem paredes de uma cabana em plena floresta. Nesse espaço, avó e netas compartilharam momentos agradáveis. Houve leitura de estórias, simulação de piquenique, teatrinho e outros passatempos. Ninguém sabia quem estava mais feliz: a avó que recebia as netas ou elas que visitavam a avó. No entanto, houve um momento que superou os folguedos e guerras de almofadas e travesseiros. Foi quando a avó começou a relatar fatos da vida da mãe das meninas, da época em que essa tinha mais ou menos a idade delas. A curiosidade cresceu. Perguntas se sucediam umas às outras, quase sem cessar. Histórias da família e da escola, travessuras, peraltices - tudo...

DE ONDE VEM A CHUVA?

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Fazia tempo que não chovia na roça, de maneira que os animais começaram a ficar inquietos. Uns diziam que ia chover logo; outros diziam que ainda ia demorar; mas não chegavam a um consenso. - Só chove quando cai água do teto do meu galinheiro! - comentou a galinha. - Ora, que bobagem! - retrucou o sapo de dentro da lagoa - Chove quando a água aqui começa a borbulhar! - Mas como assim? - replicou a lebre - Está visto que chove quando as folhas das árvores começam a gotejar a água que têm dentro! Nesse momento, começou a chover. - Viram? gritou a galinha - O teto do meu galinheiro está pingando. Isso é chuva! - Ora, não vê que a chuva é a água da lagoa borbulhando? - argumentou o sapo. - Nada disso! - retornou a lebre - Estão cegos? Não vêem que a água cai das folhas das árvores? Cada animal achava saber de onde vinha a chuva mas, na realidade, nenhum deles tinha o conhecimento, apenas opiniões. E opiniões não costumam se solidificar em fatos. Texto de Millôr Fernandes - adap...

A XÍCARA DE CHÁ

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Havia um mosteiro no alto de uma montanha, onde vivia um grande mestre procurado por muitas pessoas sedentas de conselhos. Um homem, ouvindo falar sobre o mestre, decidiu ir conhecê-lo. Cruzou o país inteiro até chegar ao mosteiro e foi recebido pelo próprio mestre que o convidou para um chá. Sentaram-se e o mestre preparou as xícaras. O homem estava tão entusiasmado com o encontro que não parava de falar um único minuto; contou ao grande mestre sobre suas peregrinações, os livros que havia lido e tudo que havia aprendido. Falou o quanto era inteligente e até recitou frases de grandes pensadores. Enquanto isso, o mestre ia calmamente tomando o seu chá. Ao terminar de beber sua xícara, encheu-a novamente e começou a encher também a xícara do visitante, que não parava de falar. Daí a xícara transbordou, encharcando a mesa e escorrendo chá em abundância pelo chão.  O hóspede, surpreso e contrariado, gritou: - Pare! Não vê que está molhando tudo? Só então o mestre, serename...

ABANDONADA

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Numa manhã ensolarada, um rústico caixão foi baixado à sepultura. De quem se tratava? Ninguém sabia ao certo. Apenas meia dúzia de gente acompanhando o féretro. Nenhum choro ou lamento pela ausência do morto, nem mesmo balbúcios de adeus. O corpo pertencera a uma idosa residente no asilo regional, onde havia passado grande parte da vida. Uns dias após seu sepultamento, a zeladora encontrou numa gaveta, ao lado da cama da falecida, algumas anotações. Começou a lê-las e não pôde conter as lágrimas. Aquela anciã fora abandonada pela família naquele asilo, muitos anos antes, e desprezada para sempre. As próprias palavras da senhora expressam melhor a dor dela: "Onde andarão meus filhos? Aquelas crianças sorridentes que embalei em meu colo, alimentei com meu leite e cuidei com tanto desvelo, onde estarão?  Estarão tão ocupadas que não possam ao menos me telefonar para me dizer: 'olá, mamãe'? Ah! Se eles soubessem como é terrível a dor do abandono... a mais depriment...

VERDADEIROS REIS

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Uma vez, numa pequena aldeia, chegou um caçador que estava perdido. Dirigindo-se a um camponês, perguntou: - Você sabe o caminho para Gondar? - Sei sim, senhor, mas já está anoitecendo e Gondar fica a um dia de distância daqui. Então sugiro que pernoite em minha casa e amanhã cedo poderá partir. O homem aceitou o convite alegremente. O camponês preparou-lhe uma de suas poucas galinhas para o jantar e lhe ofereceu o seu leito, indo dormir no chão. No dia seguinte, antes de sair, o caçador disse: - Já que você sabe o caminho para Gondar, poderia me acompanhar até lá pra que eu não me perca novamente? - Tudo bem, irei com o senhor, mas com uma condição: chegando lá, quero que me mostre o rei, pois eu nunca o vi. - Combinado. Você o verá. Assim partiram, ambos montados no cavalo do caçador. Passaram por montanhas e bosques, durante um dia e uma noite inteira de viagem. Chegando a Gondar, o camponês indagou: - Como vou saber quem é o rei? - Muito simples: quando todo mundo fizer...

TSE E YUNG

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Certa vez, numa pequena vila, nasceram dois meninos de famílias diferentes, no mesmo dia e horário e, para surpresa de todos, ambos nasceram com um grande nódulo na testa. Um dos meninos se chamava Tse e seus parentes eram muito arrogantes. Horrorizados com a aparência do menino, chamaram um médico para remover o nódulo, mas como o procedimento se mostrou arriscado, decidiram criar o garoto às escondidas. O outro menino se chamava Yung e sua família era amorosa e humilde. Eles cercavam Yung com todo amor e carinho possível, pois não queriam que ele se sentisse envergonhado ou rejeitado por causa do nódulo.  Passou o tempo e os meninos cresceram. Tse se tornou um rapaz cheio de complexos, sentia-se inferior e não conseguia evoluir em coisa alguma. Além disso, vivia amargurado e detestava conviver com outras pessoas. Já Yung se tornou um mancebo feliz e, mesmo diante de comentários maldosos, ele nunca se importava, pois se sentia amado e protegido por sua família. Yung er...

A PEDRA MÁGICA

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Há muito tempo, um alquimista criou o que chamou de "pedra filosofal", uma pedra mágica capaz de transformar qualquer metal em ouro. No entanto, após enriquecer bastante com o uso da pedra, decidiu lançá-la do alto de uma montanha, pois não estava mais interessado em fazer dinheiro.  Anos se passaram e a pedra filosofal virou lenda. Muitos tentaram encontrá-la, sem sucesso. Até que, um dia, um homem apático e solitário resolveu procurar a tal pedra. Achou que pudesse preencher o próprio vazio com a procura. Assim, passou a ficar obcecado pela pedra, não pensando em mais nada. Acampado ao pé da montanha, todos os dias ele recolhia pedras, encostava uma a uma na fivela de seu cinto, na esperança de transformar o metal em ouro. Diariamente, durante anos, testou inúmeras pedras em vão. Uma vez, num dia muito quente, resolveu tirar um cochilo à sombra de um salgueiro. Ao acordar, percebeu um brilho diferente na fivela do cinto: ela tinha se transformado em ouro! No pri...

MUNDO PEQUENO

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Uma rã morava no fundo de um poço abandonado. Ali era seu único lugar no mundo; só conseguia movimentar-se naquele limitado espaço e nunca saía de lá. Além daquilo, tudo o que a rã via era apenas um pequeno pedaço do céu. Não conhecia absolutamente nada lá fora. Certo dia, uma tartaruga marinha apareceu à beira do poço e a rã, lá do fundo, gritou-lhe: - Veja, amiga tartaruga, quão lindo e confortável é o meu mundo! Aqui, salto livremente e descanso num buraco da parede sempre que quero. Se desejo nadar, aqui tem água à vontade. Passear aqui neste local úmido é uma verdadeira delícia! Garanto que você jamais teve uma vida tão feliz como esta! Venha ver o meu paraíso! Curiosa, a tartaruga chegou um pouco mais perto. Porém, mal viu o "paraíso" da rã, recuou: - Quer saber, rã? O meu mundo, o mar, é tão imenso com milhares de quilômetros de extensão e milhares de braças de profundidade, que simplesmente não consigo descrevê-lo! Quanto mais o percorro, mais há para se e...

DEIXANDO LIVRE

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Todo santo dia, um passarinho visitava a janela de um menino chamado José. Ele sempre acordava cedinho com o canto do pássaro. Então, certa vez, José decidiu capturar o passarinho, prendendo-o numa gaiola. Todo contente, foi logo mostrar à irmã Maria sua mais nova aquisição.  Maria ficou visivelmente desapontada com a atitude do irmão e fê-lo sentar-se.  - Vou te contar uma história - disse-lhe.  E continuou: - Uma vez, um menino apanhou um passarinho, assim como você, e o prendeu na gaiola. O passarinho, que antes cantava todos os dias, passou a ficar em silêncio, de tão entristecido. Certa noite, o menino teve um sonho em que o passarinho dizia para ele: “Por que me traiu dessa maneira? Todos os dias eu alegrava o seu dia com o meu canto e você me aprisionou de maneira cruel. Agora vivo triste; não quero cantar e nem comer, sinto falta de meus amigos e não posso mais voar!" Quando o menino acordou, correu para a gaiola a fim de soltar o passarinho, mas ele h...

AS COISAS "FALAM"

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Estavam casados há anos. Nádia era amorosa e dedicada, empenhando-se em manter a casa no mais perfeito equilíbrio. Apreciava as coisas em seus lugares corretos, evitando bagunça e desarranjos. Seu marido, entretanto, costumava deixar tudo fora do lugar. Quando precisava de algo, era uma verdadeira balbúrdia, porque perdia um tempo enorme procurando. Ao sair, não recordava onde deixara as chaves. Na hora do banho, não lembrava onde havia largado a toalha, e assim por diante. Nádia pedia com delicadeza que procurasse dar a cada coisa seu devido lugar, resguardando-se, assim, do estresse, mas ele simplesmente não lhe dava ouvidos. Então, certo noite, ao jantar, quando o esposo lhe perguntou como fora seu dia, Nádia respondeu: - Foi maravilhoso! Passei as horas a conversar com as coisas. - Com as coisas? Que coisas? Ficou louca? - Não! - continuou ela, sorrindo - Estou muito bem. Acontece que cada coisa que eu recolhia falava comigo. Por exemplo, o chinelo me disse que estava t...

MAGIA DA POESIA

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Um velho poeta, apesar de ter escrito a vida toda, não lograra êxito com seus poemas. Por isso, vivia melancólico e recluso. Certo dia, enquanto desabava um forte temporal e ele se aquecia ao lado da sua lareira, de repente ouviu um grito do lado de fora da porta: - Por favor, me deixe entrar! Me ajude! Ao abrir a porta, o poeta se assustou um pouco: era um menino despido e tremendo de frio. Rapidamente o fez entrar, enrolou-o com uma manta e lhe preparou um leite bem quente. Em meio à urgência, o dono da casa não deixou de reparar na beleza encantadora do menino: era gordinho, bochechas fofas, olhos grandes, cílios compridos e cabelos cacheados que possuíam um brilho natural. Na mão, um pequeno arco.  - Qual o seu nome? - indagou o poeta. - Me chamo Amor! Nesse momento, o menino puxou o arco e uma flecha brilhante surgiu; e, inesperadamente, atirou a flecha no coração do poeta. Em seguida, o menino sorriu e desapareceu. A partir da estranha experiência, tudo em volta d...

CUIDANDO DO DESTINO

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Muito tempo atrás, morava numa floresta, na Índia, um monge capaz de prever o futuro. Muita gente o procurava para ouvir suas previsões. Até que um dia, cansado daquilo, o monge passou a viver escondido em uma caverna, buscando sossego. Uns anos mais tarde, dois amigos se perderam na mata e foram parar na caverna onde o monge vivia. Ele os recebeu e os alimentou e assim pernoitaram ali. Conhecedores da fama do monge, resolveram aproveitar a oportunidade, pedindo-lhe que lhes revelasse o futuro deles. - Está bem - respondeu o monge. E disse a um deles: - Daqui a um ano você será o rei desta terra. E para o outro falou: - Daqui a um ano você será assassinado. No dia seguinte bem cedo os dois foram embora - um imensamente feliz e o outro desesperado. O que viria a ser rei se tornou arrogante e irresponsável; o que iria morrer se pôs a repensar sobre a sua vida e decidiu ser uma pessoa melhor dali em diante. Um ano se passou e os dois se reencontraram e decidiram fazer um passe...

OS TRÊS IGUAIS

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Certa vez, na antiga cidade de El-Katif, apareceu um estrangeiro misterioso - um mago persa. Comentava-se que ele se fazia acompanhar de três homens tão rigorosamente idênticos, que não se podia descobrir um único traço fisionômico que permitisse distinguir um dos tais homens dos outros dois. A notícia chegou aos ouvidos do rei Fahad que, muito curioso, declarou que queria conhecê-los.  Assim o rei, acompanhado de seu séquito, dirigiu-se à tenda erguida pelo mago numa àrea erma, próxima à cidade. Recebido com reverência, o rei afirmou incisivamente que desejava ver de imediato os três homens iguais. Estando todos sentados confortavelmente no interior da tenda, o mago bateu palmas e pronunciou palavras de um idioma desconhecido.  No fundo da tenda, sobre um tablado, ergueu-se um pano, surgindo um homem magro e moreno, trajado adequadamente à maneira dos mercadores persas. - Eis, aí, ó rei magnânimo, o primeiro dos três homens! - disse o mago. Pouco depois, o homem r...