AS COISAS "FALAM"
Estavam casados há anos. Nádia era amorosa e dedicada, empenhando-se em manter a casa no mais perfeito equilíbrio. Apreciava as coisas em seus lugares corretos, evitando bagunça e desarranjos.
Seu marido, entretanto, costumava deixar tudo fora do lugar. Quando precisava de algo, era uma verdadeira balbúrdia, porque perdia um tempo enorme procurando. Ao sair, não recordava onde deixara as chaves. Na hora do banho, não lembrava onde havia largado a toalha, e assim por diante.
Nádia pedia com delicadeza que procurasse dar a cada coisa seu devido lugar, resguardando-se, assim, do estresse, mas ele simplesmente não lhe dava ouvidos.
Então, certo noite, ao jantar, quando o esposo lhe perguntou como fora seu dia, Nádia respondeu:
- Foi maravilhoso! Passei as horas a conversar com as coisas.
- Com as coisas? Que coisas? Ficou louca?
- Não! - continuou ela, sorrindo - Estou muito bem. Acontece que cada coisa que eu recolhia falava comigo. Por exemplo, o chinelo me disse que estava triste por ter sido deixado no meio da sala e não sabia onde estava o seu par. O sapato, aproveitando o momento, disse que também gostaria de estar ao lado dos demais calçados, na sapateira. Quando fui recolher os copos espalhados pela casa, eles me receberam com muitas queixas. Falaram que se sentiam como cacos imprestáveis e esquecidos. Até o jornal reclamou que se sentia abandonado num canto, sem valor. Já os livros desabafaram que gostariam muito de serem procurados e, depois, realocados na estante, que era o cantinho deles. As chaves, por outro lado, riram muito, contando que se divertem quando jogadas, de forma aleatória, em qualquer canto, dando um trabalho danado para quem as procura. Então, querido, como você vê, todas as coisas dialogaram muito comigo! E, atendendo seus pedidos, as coloquei, uma a uma, nos lugares certos, onde elas devem ser facilmente encontradas.
O homem havia parado de comer, encantado com a fala da esposa.
Nádia era mesmo uma mulher incrível. Encontrara uma forma criativa de chamar a atenção do marido sem agredi-lo.
Ele entendeu o recado, pois respondeu:
- Entendi, querida. Prometo que serei mais cuidadoso de hoje em diante, colocando todos os objetos em seus respectivos lugares.
Ao invés de tentar resolver uma situação do jeito mais drástico, por que não usar de criatividade e tato?
Texto de Dorothy Jungers Abib - adaptação de Marcos Aguiar.
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