TAXISTA DIFERENTE
Foi por volta do meio-dia quando o táxi estacionou em frente ao escritório. Dia quente, trânsito caótico. Abri a porta e sentei no banco traseiro.
- Bom dia! - disse o motorista.
Retribuí o cumprimento e indiquei o destino da corrida. Nem bem começara o movimento do veículo, travamos uma boa conversa. Aquele era um taxista diferente. Tinha um jeito agradável de se comunicar e um semblante risonho o tempo todo. Soltei essa:
- Como deve ser difícil o seu trabalho, não é? Manobrar um veículo no trânsito de uma grande cidade não deve ser mole!
- Não digo que seja fácil, mas é só uma questão de jeito - respondeu, sorridente.
Aí o assunto ficou mais interessante pois aquele motorista se revelou uma verdadeira lição ambulante de sabedoria. Começou a contar seu "segredo":
- Primeiro: nunca trago meus problemas pessoais para o trabalho. Antes de sair de casa, dou uma passadinha atrás da porta e deixo lá todas as minhas preocupações. Só as retomo quando volto para casa e, quer saber? Parece que os problemas até diminuem de tamanho. Ficam mais fáceis de resolver. Segundo: nunca desejo um bom dia a ninguém se não for com convicção. Terceiro: não me deixo envolver pelo mau humor nem pela irritação de certos passageiros. Quarto: não me permito entrar na onda de agressividade alimentada no cotidiano das avenidas. Quinto: todos os passageiros são especiais para mim. Merecem minha atenção e meu respeito e, se necessário, minha solidariedade.
E, dando exemplo disso, relatou o seguinte caso:
- Um dia desses, de manhã cedo, entrou aqui uma senhora de meia idade, de mãos dadas com uma criança. Pediu-me para levá-la a uma agência bancária no centro da cidade. Perguntei se ela precisava ir mesmo àquela agência ou se poderia ser em outra mais próxima, o que pouparia a ela tempo e dinheiro. Ela respondeu que precisava apenas pagar umas contas. Então sugeri que fôssemos a uma agência que ficava há apenas algumas quadras de onde estávamos. Ela concordou. O trajeto, apesar de curto, foi o suficiente para uma conversa sobre as coisas boas da vida. Parei em frente ao banco e ela me pediu para esperá-la, pois precisava voltar para casa logo em seguida. Durante o retorno, continuei tentando animar aquela mulher que deixava transparecer profunda amargura. Prestes a descer do carro, ela falou com voz embargada: "Com certeza os Céus me enviaram você, moço. Meu marido morreu há dois meses e estou passando por uma situação muito difícil. Nunca trabalhei fora, nunca tratei dos negócios e agora me vejo obrigada a cuidar de tudo sozinha. Ando tão deprimida... e o pior é que estou passando essa tristeza para a minha filha que, como o senhor pode ver, está tão desolada quanto eu." Ela desatou a chorar e acabei chorando também, comovido aquela viúva e mãe que sentiu em mim um ombro confiável para um desabafo sincero. Com um leve sorriso nos lábios, pagou a corrida, dando mostras de bom ânimo e coragem para seguir em frente.
É de pessoas como esse taxista que o mundo precisa - pessoas que tenham empatia e sensibilidade aos sentimentos do próximo.
Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar.
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