CUIDANDO DO DESTINO




Muito tempo atrás, morava numa floresta, na Índia, um monge capaz de prever o futuro. Muita gente o procurava para ouvir suas previsões. Até que um dia, cansado daquilo, o monge passou a viver escondido em uma caverna, buscando sossego.
Uns anos mais tarde, dois amigos se perderam na mata e foram parar na caverna onde o monge vivia. Ele os recebeu e os alimentou e assim pernoitaram ali.
Conhecedores da fama do monge, resolveram aproveitar a oportunidade, pedindo-lhe que lhes revelasse o futuro deles.
- Está bem - respondeu o monge. E disse a um deles:
- Daqui a um ano você será o rei desta terra.
E para o outro falou:
- Daqui a um ano você será assassinado.
No dia seguinte bem cedo os dois foram embora - um imensamente feliz e o outro desesperado.
O que viria a ser rei se tornou arrogante e irresponsável; o que iria morrer se pôs a repensar sobre a sua vida e decidiu ser uma pessoa melhor dali em diante.
Um ano se passou e os dois se reencontraram e decidiram fazer um passeio pela floresta. De repente, aquele que viria a ser rei tropeçou em um vaso e reparou que ele estava cheio de moedas de ouro. Feliz da vida, começou a cantar e dançar.
- Contenha-se, amigo. Pode haver alguém por aí à espreita - advertiu o outro. Contudo, não lhe deu ouvidos.
Sua euforia chamou a atenção de um bandido que passava ali perto. Ao tentar assaltá-lo, o amigo se pôs à frente para defendê-lo e acabou levando uma facada do ombro.
O bandido acabou fugindo com o ouro e os dois voltaram para a cidade. O tempo passou: um não se tornou rei e o outro não morreu assassinado.
Intrigados, voltaram à caverna para conversar com o monge. Este, dirigindo-se ao primeiro, disse:
- Tua arrogância alterou teu destino; por isso, perdeu o pote de ouro, assim como a realeza.
E, pondo a mão sobre o ombro do outro, disse-lhe:
- Tuas boas intenções fizeram teu destino mudar e o assassinato foi reduzido a uma facada no ombro. 
E o monge, concluindo sua fala, disse:
- O nosso destino muda conforme nossas ações. Portanto não se prendam a previsões, mas procurem ser as melhores pessoas que puderem e, assim, vosso destino será favorável!

Conto indiano - adaptação de Marcos Aguiar. 

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

ABANDONADA

Imagem
Numa manhã ensolarada, um rústico caixão foi baixado à sepultura. De quem se tratava? Ninguém sabia ao certo. Apenas meia dúzia de gente acompanhando o féretro. Nenhum choro ou lamento pela ausência do morto, nem mesmo balbúcios de adeus. O corpo pertencera a uma idosa residente no asilo regional, onde havia passado grande parte da vida. Uns dias após seu sepultamento, a zeladora encontrou numa gaveta, ao lado da cama da falecida, algumas anotações. Começou a lê-las e não pôde conter as lágrimas. Aquela anciã fora abandonada pela família naquele asilo, muitos anos antes, e desprezada para sempre. As próprias palavras da senhora expressam melhor a dor dela: "Onde andarão meus filhos? Aquelas crianças sorridentes que embalei em meu colo, alimentei com meu leite e cuidei com tanto desvelo, onde estarão?  Estarão tão ocupadas que não possam ao menos me telefonar para me dizer: 'olá, mamãe'? Ah! Se eles soubessem como é terrível a dor do abandono... a mais depriment...
Leia mais

O PEQUENO HERÓI HOLANDÊS

Imagem
A Holanda tem seu território abaixo no nível do mar. Para prevenir a inundação pelo Mar do Norte, foram construídos grandes diques que precisam ser sempre monitorados, pois um pequeno vazamento pode colocar toda a população em perigo. Até mesmo as crianças aprendem na escola a importância de se vigiar os diques. Um dia, um menino de oito anos chamado Peter foi levar alguns bolinhos que sua mãe havia feito para seu amigo que era cego. No caminho ele passava bem ao lado do dique. Sua mãe o havia alertado para voltar antes de anoitecer, pois ultimamente fazia muito frio. Depois de entregar os bolinhos ao amigo e passar um tempo conversando e brincando, Peter foi embora. Era quase noite. No caminho, enquanto passava ao lado do dique, Peter notou um pequeno vazamento. Assustado, gritou por ajuda, mas não havia ninguém por perto; então ele colocou o dedo no furo e a água parou de jorrar. O tempo foi passando, a noite chegou e começou a esfriar muito, mas Peter continuou firme com...
Leia mais

UM "NÃO" PARA O SILVIO

Imagem
"Muitos anos atrás, quando tudo estava iniciando em minha vida, eu andava de porta em porta nos estabelecimentos procurando emprego. Como ninguém queria me contratar, então pensei: vou falar com o Roque.  Chegando à lanchonete dele, havia uma placa: PRECISA-SE DE ATENDENTE. Meus olhos brilharam de felicidade, pois naquele momento pensei ter encontrado minha chance. Tinha certeza de que o Roque conseguiria uma vaga pra mim. Chamei ele em um canto e falei:  - Amigo, preciso dessa vaga de atendente. Você sabe da minha situação. Vou me empenhar ao máximo, pode ter certeza. Roque olhou pra mim e respondeu: - Amigo, não me leve a mal, mas eu preciso de uma moça bonita e cheirosa pra atrair freguesia. Com lágrimas rolando pelo rosto, falei: - Tudo bem, meu amigo, sem problemas. Sucesso pra você. Decidi então me desfazer da minha bicicleta e com o dinheiro comprei balas, canetas e doces pra vender na praia. As coisas foram dando certo. Comprei uma banca, fiz faculdade, tra...
Leia mais