O ACORDO COM A MORTE



Depois de muito trabalho em uma grande guerra, a morte estava exausta e sua foice cega. O estado da ferramenta a incapacitava de ceifar novas vidas. Como não podia interromper sua tarefa, foi ter com um ferreiro a fim de que ele afiasse sua foice.
O coitado, assim que avistou a morte, levou um grande susto, imaginando que sua hora era chegada. Mas logo a morte o tranquilizou, explicando o motivo de sua visita.
- Está bem, farei o que me pede, mas com uma condição: quando você vier me buscar, me avise com antecedência, pra que eu deixe minha vida em ordem.
A morte concordou, sua foice foi afiada e ela se foi.
Finalmente, muitos anos depois, ela voltou, disposta a levar o ferreiro, que demonstrou surpresa e indignação. 
- Mas como assim? Não recorda o nosso trato? Que me avisaria com antecedência?
- Mas eu lhe avisei, e muitas vezes! - retrucou a morte - Seus cabelos brancos e rugas, a perda de agilidade e força, o enfraquecimento da visão e audição... de que mais você precisava?
O ferreiro baixou a cabeça. A morte tinha razão. Era o dia agendado e ele não teve escolha senão ir embora com ela.
A grande certeza da vida é a morte, da qual ninguém escapará, mais dia, menos dia. Por isso, HOJE é o dia de pôr a vida em ordem.

Texto de Ana Claudia Quintana Arantes - adaptação de Marcos Aguiar. 

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