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Mostrando postagens de agosto, 2024

O QUE NUNCA MUDA

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Uma jovem mãe, recentemente viúva, tomou um choque ainda maior que o da morte do marido: descobriu que estava com câncer. Voltou do consultório extremamente angustiada. Estava consciente de sua aparência desagradável - sem a cabeleira, devido à radioterapia. Sentia-se sem ânimo para prosseguir com a vida.  Pensou, sobretudo, no pequeno filho. Ele tinha apenas seis anos. Como ele reagiria vendo-a careca? Certamente ele estranharia.  Ao chegar em casa, a coitada sentou-se à mesa, na cozinha, pensando em como explicaria ao filho porque estava tão feia. O menino estava deitado no quarto; ouvindo sua mãe chegar, foi à cozinha e ficou olhando-a, curioso mas calado.  Ela o chamou e foi logo tentando dizer-lhe tudo, delicadamente. O garotinho, como única resposta, se aconchegou a seu colo, quietinho e com a cabeça recostada em seu peito. Acariciando a cabecinha ruiva do filho, ela disse: - Você vai ver como daqui a pouco o meu cabelo vai crescer e eu vou ficar como antes, meu queri

DEIXE LIVRE

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Um homem criava um pássaro em casa. Sempre que ficava triste, ia para perto da gaiola e desabafava e o hábito o fazia sentir-se melhor. Um dia ele disse ao pássaro: - Querido amigo, você tem sido um fiel companheiro há muito tempo e nunca me desapontou. Peça o que quiser, que te darei. Pela primeira vez, o pássaro falou. Disse: - Se realmente me ama, deixe sempre aberta a porta da gaiola. Algumas vezes você esqueceu de fechá-la; mesmo assim, eu nunca me aproveitei disso pra fugir. Aliás, até cheguei a dar uns curtos passeios pela redondeza, mas voltei e fechei a porta com cuidado para que você não percebesse e não se sentisse mal com minha partida. Permaneço aqui, mas gostaria de merecer a tua confiança.  - Mas, pássaro... tenho medo de deixar permanentemente a porta aberta e você ir embora pra sempre...  - Isso significa então que eu não mereço tua dedicação. Somente com a porta aberta é que poderás saber se te estimo ou não. Enquanto a porta se mantiver fechada, nunca ser

O ENAMORADO PRECIPITADO

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Um leão se apaixonou perdidamente pela filha de um lenhador e quis pedi-la em casamento. Mas o pai da moça conhecia bem a fama do rei da selva e ficou receoso. - Posso garantir que farei sua filha muito feliz! - afirmou o leão. - Ter como genro um bravo leão seria uma honra! - respondeu o lenhador - Mas você é conhecido por ser muito perigoso. Eu temo por minha filha. Então não posso consentir no casamento. Diante da recusa o leão rugiu com grande ira; o homem, fingindo calma, tentou apaziguar a situação, dizendo: - Por favor, senhor leão, escute! Posso concordar que case com minha filha, mas com uma condição: o senhor terá que arrancar seus enormes dentes e cortar suas unhas afiadas. Somente assim terei certeza de que minha filha estará segura. O leão estava tão apaixonado que não pensou duas vezes; foi correndo fazer o que o homem tinha sugerido. Mas, ao perder sua proteção natural, o leão já não representava ameaça a ninguém; quando voltou para buscar a noiva, o pai dela

GLÓRIA NA MISÉRIA

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Foi na Segunda Grande Guerra, num imundo campo de concentração em Sumatra, Indonésia. Um bando de mulheres esqueléticas definhavam a cada dia, até conceberem algo que as aliviaria do aprisionamento e das péssimas condições de alimentação e higiene daquele lugar. Em dezembro de 1943 aquelas prisioneiras improvisaram um concerto. Ao ar livre, em um espaço coberto, uma multidão de mulheres se ajuntou. Alguém escreveu no piso sujo: "orquestra". As participantes foram se posicionando, cada uma com um banquinho e algumas folhas de papel. A "orquestra" era de aspecto estranho, pois não tinha instrumentos. Era simplesmente um aglomerado de criaturas miseravelmente vestidas, pés descalços, cabeças raspadas e ataduras nas pernas para encobrir as chagas. Destacava-se entre as integrantes uma missionária presbiteriana, magra, com espessas lentes sobre os olhos. Apesar de debilitada, sua voz soou clara: - Esta noite vocês ouvirão um coro de vozes femininas produzindo

OUÇA PRIMEIRO

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Barbara tinha uma relação muito tensa com sua filha Laurie e a coisa parecia piorar a cada dia. Laurie, antes uma menina serena e dócil, tornou-se insubmissa e até provocadora às vezes, por mais que sua mãe lhe passasse sermões e a ameaçasse com castigos. Num dia que pareceu ser a gota d'água, Laurie não terminou suas tarefas domésticas e partiu para a casa de uma amiga. Quando voltou, sua mãe esteve prestes a estourar com ela, mas se conteve disparando: - Por que, Laurie, por quê? - A senhora quer mesmo saber? Pois bem, vou lhe dizer: a senhora nunca me deu atenção. Nunca parou pra me ouvir. Sempre que eu sentia necessidade de me abrir e compartilhar meus sentimentos, a senhora me interrompia com ordens e mais ordens. Barbara então se deu conta de que sua filha precisava dela - não como uma mãe mandona, mas como uma confidente, uma conselheira para abrandar suas confusões e dilemas de adolescente. E tudo o que ela tinha feito até ali era falar e falar, quando deveria o

O QUE INSISTE EM FICAR

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A companheira de muitos anos estava agora inerte, depositada num caixão, prestes a ser devolvida ao solo. Submerso em pensamentos profundos, o pobre viúvo começou a perceber, em sua mente, formas belas e brilhantes, cujos contornos lhe confortaram um pouco. - O que são vocês? - indagou. - Somos as boas e agradáveis palavras que você poderia ter dito à sua finada esposa. Como você bem vê, trazemos alento e energia positiva à alma humana. - Por favor, fiquem comigo! Minha querida esposa agora é somente um cadáver e eu me sinto tão sozinho! Confortem-me! - Não podemos ficar! - responderam - Você não fez por merecer nossa presença, pois nunca procurou nos cultivar, enquanto sua esposa era viva. Somos a luz que poderia ter brilhado mas nunca brilhou. Dizendo isso, desapareceram de sua tela mental. Logo em seguida surgiram outros vultos, só que horrendos; espectros que aumentaram sua amargura. - Quem são vocês? - perguntou o homem, aterrorizado. - Somos tudo aquilo que sua esposa

ANIMAIS INTERIORES

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Certa vez um jovem subiu uma montanha à procura de uma conhecida monja que ali costumava meditar. Ao encontrá-la, perguntou: - O que você faz nesta absoluta solidão? - Ah, tenho um monte de trabalho! - Mas como você pode ter tanto trabalho? Não vejo nada aqui... - Tenho que treinar dois falcões e duas águias, tranquilizar dois coelhos, disciplinar uma cobra, motivar um burro e domar um leão. - E onde estão todos esses animais? - indagou o homem, já atônito.  A monja então explicou: - Eles estão dentro de mim. E continuou: "Os falcões se lançam sobre tudo que veem pela frente, então preciso adestrá-los para que se foquem em coisas boas: eles são meus olhos.  As águias, com suas garras, podem machucar e destruir; por isso preciso ensiná-las a apenas fazer o bem: são as minhas mãos.  Os coelhos são muito irrequietos e preferem fugir de situações difíceis; tento convencê-los a terem calma diante do sofrimento e da fraqueza - são os meus pés.  O burro, sempre cansado, é tei

A BALSA DA VIDA

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Em 1816, uma fragata francesa encalhou próximo à costa do Marrocos. Não havia botes salva-vidas suficiente para todos, de maneira que 149 pessoas puderam se salvar no que restou do navio - uma única balsa. Uma borrasca os arrastou ao mar aberto por quase 30 dias, sem rumo. A dramática experiência dos sobreviventes inspirou o artista francês Theodoro Gericault (1791-1824) a pintar o quadro "A Balsa da Medusa", após entrevistar vários deles e ficar impressionado com o terror da tragédia. Na pintura pode-se ver sobreviventes deitados e sem reação, como que esperando a chegada da morte; outros, desesperançados, alheios à aflição dos demais, com o olhar perdido no horizonte vazio; e alguns outros que, diferentemente dos demais, mantêm-se otimistas, tirando as próprias camisas e agitando-as, na expectativa de serem vistos por alguma embarcação distante, apesar de não haver nenhuma à vista. Isso lembra nossa trajetória neste mundo. Todos viajamos na grande balsa da vida,

ACREDITE PRIMEIRO EM VOCÊ

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Desde criança, Karina alimentava uma única paixão: tornar-se uma bailarina famosa. Seus pais desistiram de incentivá-la a qualquer outra atividade. Os rapazes se convenceram de que no coração da bela Karina só havia espaço para o ballet. Um dia, ela teve sua grande chance. Conseguiu uma audiência com o diretor de uma grande companhia de ballet que selecionava aspirantes. Na ocasião ela bailou como se fosse seu último dia na Terra. Concentrou todos os seus sentimentos e vontades naqueles passos de dança. Após o teste, aproximou-se do diretor. - E então: o senhor acha que posso me tornar uma grande bailarina? (...) Na viagem de volta para casa, tentando desvencilhar-se das lágrimas, Karina acreditou que aquele "não" jamais deixaria de soar em sua mente. O tempo passou. Dez anos mais tarde Karina era uma humilde instrutora local de ballet, quando soube que a renomada companhia que a rejeitara iria realizar uma apresentação em sua cidade. Karina resolveu ir assistir e

BRASIL QUE CHORA

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Ao entrar em minha sala de aula, vi, num mapa-mundi, meu Brasil chorando. - O que houve, querido verde-amarelo? Esparramando-se verdejante sobre a América do Sul, respondeu, derramando lágrimas amazônicas:  - Como estou sofrendo! Veja o que estão fazendo comigo… antes, os meus bosques tinham mais flores e meu seio mais amores. Meu povo era heroico e o seu brado retumbante. O sol da liberdade era mais fúlgido e brilhava no céu a todo instante. Onde estão os braços fortes? Eu era a Pátria amada e idolatrada, cheia de glórias no passado. Nenhum filho meu fugia à luta. Eu era a terra adorada e a mãe gentil dos filhos deste solo. Eu era gigante pela própria natureza, que hoje queimam e devastam, sem nenhum homem de coragem que, às margens plácidas de algum riacho, tenha a audácia de gritar mais alto para libertar-me dos tiranos que ousam roubar o verde-louro de minha flâmula! Não pude mais ouvir a dolorosa queixa do Brasil; saí para o jardim. Era noite e pude ver a imagem do Cru

OVO, CENOURA OU CAFÉ?

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Annie era uma adolescente que vivia se queixando da vida. Tudo lhe parecia difícil e ela dizia estar cansada de viver. Morava com o pai, um excelente cozinheiro. Tendo ouvido por alguns dias os queixumes da filha, a convidou para observar seu trabalho na cozinha. Encheu três panelas com água e colocou cenouras em uma, ovos em outra e pó de café na terceira, pondo-as no fogo em seguida até ferverem bem. Anne observava tudo em silêncio e sem entender o propósito daquilo. O pai desligou o fogo, colocou as cenouras e os ovos em uma tigela e o café em uma xícara. - O que você está vendo, filha? - Cenouras, ovos e café! O pai pediu-lhe para experimentar os alimentos. Ela mastigou parte de uma das cenouras e notou como estava macia. Pegou um dos ovos, quebrou a casca e percebeu que estava durinho. Tomou um gole de café e sentiu o gosto delicioso. Voltou-se para o pai, sorrindo: - O que significa tudo isso, papai? - É simples, minha filha. As cenouras, os ovos e o café enfrentaram

DESAPEGO

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Uma vez, na Índia antiga, um homem fez um voto de pobreza. Após se desfazer de todos os seus bens, exceto somente duas peças de roupa, partiu para um mosteiro na região do Himalaia. Estava convencido de que nunca encontraria alguém tão desprendido quanto ele. Contudo, chegando ao mosteiro, soube de um guru, bastante idoso, conhecido como totalmente desapegado das coisas. Ao visitar o guru, o recém-chegado tomou um choque: em lugar de uma morada humilde, encontrou um suntuoso palácio, rodeado de extensas plantações e muita pompa e riquezas. - Mas que tipo de guru moraria num luxo como este? - indagou, perplexo. - Se procura o meu mestre, ele está ali no jardim, meditando - disse um serviçal. Foi recebido pelo idoso guru com um sorriso sincero e um convite para banhar-se, comer e descansar.  Após o banho, o visitante mudou de roupa e lavou a que tinha usado antes, pondo-a para secar no quarto em que estava hospedado.  Ainda achando tudo muito estranho, o hóspede retornou ao j

UM "NÃO" PARA O SILVIO

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"Muitos anos atrás, quando tudo estava iniciando em minha vida, eu andava de porta em porta nos estabelecimentos procurando emprego. Como ninguém queria me contratar, então pensei: vou falar com o Roque.  Chegando à lanchonete dele, havia uma placa: PRECISA-SE DE ATENDENTE. Meus olhos brilharam de felicidade, pois naquele momento pensei ter encontrado minha chance. Tinha certeza de que o Roque conseguiria uma vaga pra mim. Chamei ele em um canto e falei:  - Amigo, preciso dessa vaga de atendente. Você sabe da minha situação. Vou me empenhar ao máximo, pode ter certeza. Roque olhou pra mim e respondeu: - Amigo, não me leve a mal, mas eu preciso de uma moça bonita e cheirosa pra atrair freguesia. Com lágrimas rolando pelo rosto, falei: - Tudo bem, meu amigo, sem problemas. Sucesso pra você. Decidi então me desfazer da minha bicicleta e com o dinheiro comprei balas, canetas e doces pra vender na praia. As coisas foram dando certo. Comprei uma banca, fiz faculdade, trabalh

O PRÊMIO DA PERSISTÊNCIA

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Um homem investiu tudo o que tinha numa pequena oficina. Trabalhava dia e noite, inclusive dormindo às vezes no local de trabalho.  A fim de prosseguir nos negócios, penhorou, com muito pesar, as joias da esposa.  Ao apresentar o resultado final de seu trabalho a uma grande empresa, recebeu a resposta de que seu produto não atendia ao padrão de qualidade exigido. Ele não desistiu. Voltou à escola para mais dois anos de estudos; tornou-se vítima de gozação por parte de colegas e até de alguns professores, que o chamavam de "visionário". O homem, no entanto, não se deixou aborrecer por isso.  Ao final dos dois anos, a empresa que anteriormente o recusara fechou contrato com ele. Porém, durante a guerra, sua fábrica foi bombardeada duas vezes e grande parte dela foi destruída.  Entretanto, aquele homem não se desesperou. Reconstruiu sua fábrica e reiniciou os negócios; mas, pouco tempo depois, um terremoto fez desabar todo seu empreendimento.  Foi a gota d'água.

AMOR INSTINTIVO

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Um veterinário foi chamado para examinar Belker, um cão de raça irlandesa. Os donos do animal (o casal Ron e Lisa e seu filhinho Shane) eram muito afeiçoados a ele e almejavam ansiosamente sua recuperação. Mas, após examiná-lo, o doutor os desenganou. - Sinto muito, mas seu cão está num quadro avançado de câncer e não há o que fazer para salvá-lo. Resta pôr fim ao sofrimento dele e posso fazê-lo aqui mesmo, agora. Enquanto o veterinário se preparava para o procedimento, o casal informou: - Achamos que não seria má ideia se nosso filho pudesse assistir à despedida de Belker; talvez ele possa aprender algo dessa experiência.  - Se acham isso, não tem problema; ele pode observar, sim. Chegado o momento cruciante, o profissional sentiu o habitual aperto na garganta. Já havia feito diversas eutanásias, contudo nunca se acostumara àquela medida extrema. Ao ver o pequeno Shane tão calmo, acariciando o velho companheiro pela última vez, o veterinário ficou a pensar se a criança ent

PROMESSA É COMPROMISSO

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Numa noite fria, ao sair do teatro, um milionário se deparou com um idoso indigente sentado na calçada.  - Você não sente frio estando aqui fora e sem agasalho? - indagou o rico. - Ah, senhor... sinto muito frio sim, mas estou acostumado.  - Espere por mim, não saia daqui. Irei à minha casa e te trarei um bom casaco. Volto logo! - Está bem, senhor! Não sairei daqui! - respondeu o mendigo, entusiasmado.  O rico desceu do carro, entrou em seu palacete, contemplou aquele ambiente aconchegante de sempre. Desabou na poltrona acolchoada, em frente à lareira, tomou uísque pra relaxar e apagou.  Só pela manhã, ao acordar, foi que se lembrou do velhinho da calçada.  Quando chegou ao local, encontrou apenas um corpo duro e encolhido e, por baixo da cabeça, um papel com caligrafia ainda legível. Trêmulo (mas não por causa do frio), o rico leu: “Quando eu não tinha um bom agasalho, minha mente condicionava o meu corpo a se habituar ao frio e assim eu sobrevivia; mas quando você promete

BENEVOLÊNCIA RECOMPENSADA

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Um viajante estava subindo uma montanha quando tropeçou e torceu o tornozelo. Ficou sentado na beira da estrada esperando que alguém passasse para socorrê-lo.  Horas se passaram e começou a nevar. O homem começou a ficar desesperado com a possibilidade de morrer congelado se permanecesse ali. Um tempo depois, passou outro viajante. O acidentado suplicou ajuda. - Não tem como! - replicou o outro - Se eu parar pra te ajudar, morreremos na nevasca. E seguiu seu caminho, deixando o coitado esperando pela morte. Pouco depois, passou outro homem que parou e perguntou o que havia acontecido, colocou-o sobre suas costas e assim seguiram ambos, subindo a montanha, mesmo com a piora da nevasca. Passando em certo trecho, depararam-se, surpresos, com o homem que havia passado primeiro - estirado no chão, congelado e, obviamente, já morto. Os dois continuaram subindo até chegarem ao vilarejo, no cume da montanha. O homem levou o acidentado à sua casa, deu-lhe de comer e tratou seus feri

ESFORÇO VÃO

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Certa vez, a hiena foi convidada para dois banquetes nos quais seria servida muita carne - e a hiena era louca por carne. Só que os festins seriam realizados na mesma data e na mesma hora. "E agora? Como vou fazer para atender os dois convites?", pensou a hiena. "Não quero fazer desfeita com nenhum dos anfitriões e também não dispenso carne. Além disso, os locais dos banquetes são distantes um do outro!" Após matutar por um tempo, teve uma ideia. Próximo da hora, a hiena saiu de casa. Ao chegar à encruzilhada onde se dividiam os caminhos para os dois eventos, a hiena estirou as patas do lado direito para uma trilha e as patas do esquerdo para a outra trilha. Achava que, assim, chegaria em ambos os lugares ao mesmo tempo.  Cega pela gula, tanto se esforçou nesse absurdo que acabou tendo uma distensão muscular e desmaiou. Foi levada ao pronto-socorro, onde o médico a proibiu de comer carne por um mês. Quando a cabeça não pensa, o corpo padece. Nunca dê um

OS IGUAIS

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Dois gatos, que moravam na mesma casa, recebiam estima e tratamento diferentes. Enquanto um era mimado pela dona e dormia em almofadas, o outro era rabugento e deitava em qualquer canto. Aquele comia tudo do bom; este, se contentava com restos colhidos no lixo. Um dia, os dois felinos se toparam no telhado. O gato bonitão de imediato se arrepiou: – Sai pra lá, vagabundo! Não está vendo que sou melhor que você? Sou um gato de luxo; já você, é um pobre coitado. Então mantenha distância! – Que é isso, cara? Esqueceu que somos da mesma ninhada e moramos na mesma casa? – Sim, mas sou superior a você! – Superior? Mas você não mia como eu? – Mio. – Você também não tem rabo? – Tenho, claro. – Você não caça e come ratos, assim como eu? – Sim. - Quando morrermos, iremos para o mesmo lugar ou não? - Sim... iremos. – Então deixe de frescura: no final das contas, você é um simples gato igual a mim. A única diferença entre nós é que você tem um pouco mais de sorte. Texto de Monteiro Loba

NÃO FALE, NÃO OUÇA, NÃO VEJA

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Certo dia, o renomado sábio Sócrates (470-399 a.C.) recebeu a visita de um discípulo que foi logo dizendo, agitado: - Mestre, fiquei sabendo que estavam falando mal do senhor! - Meu filho, me responda: você já fez passar essa informação pelos três filtros? - Três filtros? Como assim, mestre? - Os três filtros consistem em três perguntas - primeira: você conferiu cuidadosamente a veracidade do que está dizendo? Segunda: o que você quer falar é pelo menos bom e proveitoso? E terceira: há necessidade de falar isso? - Pensando bem, mestre, minha resposta a essas três perguntas é "não". Sócrates então concluiu: - Se o que você veio correndo me contar não foi verificado, não tem utilidade e nem é necessário, melhor sepultá-lo na terra do esquecimento. Há coisas diante das quais você deve se fazer de cego, surdo e mudo. Prudência e discrição são essenciais para a arte do bom viver. Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar.

"A PAZ NO MUNDO"

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A garota japonesa Sadako Sasaki acabou se tornando símbolo da tragédia de Hiroshima, sobre a qual despejaram a primeira bomba atômica contra civis. Sadako nasceu em janeiro de 1943; portanto, naquele dia terrível, 6 de agosto de 1945, ela tinha apenas dois anos. O impacto da explosão a lançou por uma janela, mas milagrosamente ela sobreviveu sem um arranhão.  Contudo, mais tarde, em novembro de 1954, aos 11 anos, a menina apresentou os primeiros sinais de doença devido à radiação. Começou a se sentir cansada e tonta com cada vez mais frequência. Seu pescoço ficou inflamado e ela começou a desenvolver uma erupção cutânea que se espalhou por outras partes do corpo. Um exame médico revelou um quadro de leucemia. Em 21 de fevereiro de 1955, Sadako foi hospitalizada. No seu prognóstico, os médicos não lhe davam mais que um ano de vida. Um dia, foi visitada no hospital por uma colega, Chizuko Hamamoto, que lhe contou uma antiga lenda japonesa, segundo a qual mil gruas de papel po

DEVOLVENDO AS JOIAS

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Um religioso muito dedicado vivia feliz com sua adorável esposa e dois filhos queridos numa pacata cidade árabe. Certa vez, aquele homem precisou empreender uma longa viagem, ausentando-se do lar por vários dias. Enquanto ele esteve ausente, uma fatalidade provocou a morte de seus filhos. A esposa e mãe ficou extremamente lacerada pela dor, mas suportou a perda com resignação e não se deixou oprimir.  Todavia, não deixou de se preocupar em como daria ao esposo a trágica notícia. Sua preocupação tornou-se mais acentuada ao lembrar que ele sofria de insuficiência cardíaca, temendo que ele não suportasse tamanha comoção. Ela rezou por sabedoria e prudência.  Alguns dias após a tragédia, o homem retornou ao lar. Abraçou a esposa e foi logo perguntando pelos garotos.  - Querido, não se preocupe por enquanto. Primeiro tome um bom banho e se alimente; depois lhe falo sobre eles.  Minutos depois, sentados à mesa, a esposa quis saber detalhes sobre a viagem; mas ele acabou perguntan

INVEJA QUE MATA

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Uma cabra e um burro partilhavam o mesmo espaço no estábulo de um fazendeiro - cada um com suas tarefas e sua ração. Só que a cabra observava o burro com frequência. Via que ele trabalhava arduamente movimentando o moinho e carregando fardos e, por isso, era bem mais alimentado que ela. Isso deixava a cabra com muita inveja. Então, um dia, a cabra aproximou-se do burro e, astutamente, fez a seguinte sugestão: - Ó, burro, vejo como tua vida é um ciclo interminável de trabalho e cansaço! Por que não finge uma doença? Se você cair em um buraco, nosso dono certamente lhe dará um merecido descanso! Que acha? O burro era muito ingênuo; e como estava deveras enfadado e com vontade de descansar, decidiu seguir o conselho da cabra. Só que o plano não saiu como esperado: o burro acabou se acidentando de verdade, ferindo-se gravemente com a queda.  O fazendeiro, preocupado com seu valioso animal de carga, chamou um veterinário que, depois de examinar o burro, receitou um remédio pouco

AJUDANDO A SI MESMO

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Um carro de luxo parou diante do pequeno escritório à entrada do cemitério e o chofer, descendo do carro, dirigiu-se ao vigia: - Pode me acompanhar ao carro, por favor? É que minha patroa está doente e não pode sair do veículo - explicou - Pode vir falar com ela? O vigia se deparou com uma senhora de idade, cujos olhos mal disfarçavam um profundo sofrimento.  - Sou a Sra Adams - explicou - Nos últimos dois anos, tenho lhe enviado cinco dólares por semana.  - Ah, sim... para as flores - lembrou o vigia. - Justamente; para serem colocadas na sepultura do meu filho. Vim aqui hoje porque os médicos me advertiram que tenho pouco tempo de vida. Então quis vir visitar meu filho uma última vez e para agradecer a você.  Um pouco hesitante, o vigia falou delicadamente: - Sabe, senhora... eu sempre lamentei que continuasse mandando o dinheiro para as flores... - Como assim?  - É que... a senhora sabe... as flores duram tão pouco... e afinal, aqui, ninguém as vê... - O senhor sabe o qu

A PARTE MAIS IMPORTANTE

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Certo dia uma mãe perguntou a seu filho qual seria a parte mais importante do corpo. O garoto pensou um pouco e se lembrou de como o som é essencial para as pessoas. Por isso respondeu: - Minhas orelhas, mãe.  - Não, você não acertou. Mas não se preocupe. Continue pensando no assunto. Outro dia volto a lhe perguntar.  Um tempo depois a mãe fez a mesma indagação. O menino havia refletido bastante a questão; respondeu: - Mãe, a visão tem uma importância tremenda. É ela que nos permite vislumbrar a beleza das cores, o semblante de quem amamos e tantas outras coisas agradáveis. Então nossa parte mais importante são os olhos. - Você está aprendendo rápido, mas a resposta ainda não é essa! - retornou a mãe - Pode-se viver bem, mesmo sem enxergar. Pense em quantos cegos existem no mundo! O menino continuou buscando a resposta àquele "desafio" de sua mãe. De quando em quando ela o chamava e perguntava novamente. Cada nova resposta era interessante, mas ainda não era a que

FAZENDO A DIFERENÇA PARA ALGUÉM

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Um homem morava próximo a uma bela praia. Num de seus passeios matinais, ele viu um rapazinho jogando de volta ao oceano as estrelas-do-mar que estavam na areia. - Ei, meu jovem, por que você faz isso? - perguntou o homem. - É porque a maré está baixa e elas acabarão morrendo aqui na areia! - Garoto, existem milhares de quilômetros de praia por este mundo e incontáveis estrelas-do-mar espalhadas pela areia. Que diferença você pode fazer? O garoto pegou mais uma estrela e atirou-a na água. Depois virou-se para o homem, respondendo: - Para esta eu fiz, sim, uma grande diferença! O mundo é muito grande, mas você não precisa "abraçá-lo" para fazer a diferença; basta ajudar quem está perto de você. Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar.

DIA APÓS DIA

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Há muitos anos, na Pérsia, havia um rei honesto e justo chamado Abbas. Toda noite ele vagava pelas ruas da cidade, disfarçado, para assim conhecer melhor os seus súditos. Numa dessas andanças, notou uma pobre cabana. Ao olhar pela janela, viu um homem diante de uma singela refeição, dando graças. O rei então resolveu ir até lá. - Boa noite! - disse o visitante - Pode me deixar entrar, por gentileza? - Receber um convidado é sempre uma bênção! Entre e junte-se a mim! O humilde morador repartiu sua refeição com o rei e os dois conversaram por muito tempo. - Como ganha a vida, meu amigo? - perguntou o visitante. - Passo o dia todo consertando sapatos para poder adquirir meu mantimento diário. - Mas você não se preocupa com o dia de amanhã? - Não. Eu simplesmente procuro fazer o meu melhor e dar graças, dia após dia. - Gostei muito de conversar com você. Será que posso voltar aqui outras vezes? - Claro, meu amigo. Será sempre muito bem-vindo. O rei resolveu testar o novo amigo

CUIDADO COM O MAL

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Dizem que a primeira abelha da Terra quis levar uma oferenda ao Criador. Recolheu o melhor mel da colmeia e voou com ele aos céus. O Criador gostou tanto do presente que prometeu dar à abelha qualquer coisa que ela quisesse. - Ó, Senhor! - exclamou o inseto - Quero que me arme com um ferrão; assim conseguirei matar qualquer um que vier roubar o meu mel! O Criador não gostou do pedido maligno da abelha, mas como dera sua palavra, decidiu atendê-lo. Entretanto a advertiu: - Está bem; lhe darei o ferrão. Será uma arma tão forte que a picada há de ser mortal. A abelha já ia agradecendo quando o Criador a interrompeu. - Espere, ainda não terminei de falar: a picada será mortal também para você; quando usar o ferrão, ele se quebrará e você morrerá! Cuidado com as más vibrações e sentimentos contra o próximo; isso pode acabar se virando contra você. Tudo que vai, volta, não esqueça! Fábula de Esopo (620-564 a.C.) - adaptação de Marcos Aguiar.

BÊNÇÃO COMPARTILHADA

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Um menino encontrou uma semente de baobá e teve a ideia de plantá-la na aldeia, em frente à sua casa. Depois de algum tempo cuidando da semente, ficou muito feliz quando finalmente viu brotando no chão uma pequena mudinha. Ele a cercou e não deixava que ninguém se aproximasse dela. Com o tempo a plantinha virou uma árvore colossal e o menino ficou adulto. Já casado e pai, o homem ainda cuidava do seu baobá como se fosse um filho. Muito tempo se passou e uma seca arrasou toda a região. Nada podia ser cultivado e a fome assolou a todos.  O homem se aproximou de sua árvore e lhe sussurrou: - Querido baobá, você é uma árvore poderosa e abundante. Por favor, compartilhe suas reservas de água com meu povo que está sofrendo. Em seu coração, pareceu ouvir a resposta: - Querido homem, sua bondade e compaixão não passaram despercebidas. Por todo bem que me fez, repartirei minhas reservas com sua gente. O baobá então compartilhou com a aldeia toda a água reservada em seu tronco e assi

SOBREVIVÊNCIA DO AMOR

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Estavam numa pequena ilha o Amor, a Alegria, a Tristeza, a Vaidade, a Riqueza e outros sentimentos. Certo dia, foram avisados sobre um possível tsunami que poderia inundar a ilha. Preocupado, o Amor admoestou a todos que se salvassem, dizendo: - Por favor, fujam todos da catástrofe! Os sentimentos então correram para os barcos a fim de se deslocarem para o continente. Mas os barcos eram poucos e o Amor acabou ficando sem o seu. Ele tentou sair da ilha a nado, porém percebeu que não conseguiria pois o mar estava cada vez mais agitado. Pediu ajuda à Riqueza, que estava no barco mais próximo: - Leve-me com você! - suplicou. - Ah, meu amigo, não posso; meu barco está cheio de ouro e prata; não tem espaço pra você.  O Amor então acenou para a Vaidade: - Por favor, me deixe ir com você! - Sinto muito, não dá; você sujaria meu barco! Nesse momento a Tristeza passou perto; o Amor gritou-lhe: - Tristeza, posso ir com você? - Ah, não, desculpe... estou desolada, prefiro ir sozinha...