DEVOLVENDO AS JOIAS



Um religioso muito dedicado vivia feliz com sua adorável esposa e dois filhos queridos numa pacata cidade árabe. Certa vez, aquele homem precisou empreender uma longa viagem, ausentando-se do lar por vários dias.
Enquanto ele esteve ausente, uma fatalidade provocou a morte de seus filhos. A esposa e mãe ficou extremamente lacerada pela dor, mas suportou a perda com resignação e não se deixou oprimir. 
Todavia, não deixou de se preocupar em como daria ao esposo a trágica notícia. Sua preocupação tornou-se mais acentuada ao lembrar que ele sofria de insuficiência cardíaca, temendo que ele não suportasse tamanha comoção. Ela rezou por sabedoria e prudência. 
Alguns dias após a tragédia, o homem retornou ao lar. Abraçou a esposa e foi logo perguntando pelos garotos. 
- Querido, não se preocupe por enquanto. Primeiro tome um bom banho e se alimente; depois lhe falo sobre eles. 
Minutos depois, sentados à mesa, a esposa quis saber detalhes sobre a viagem; mas ele acabou perguntando novamente pelos filhos.
Ainda um pouco embaraçada, ela respondeu:
- Depois te falo. Primeiro quero que me ajude a resolver um problema muito grave.
- O que aconteceu, querida? - perguntou o homem, agora mais preocupado. - O que aconteceu na minha ausência? Fale. Com certeza poderemos resolver juntos. 
- Bem... enquanto você estava fora, um amigo nosso veio aqui e me confiou duas joias muito valiosas. Nunca vi joias tão bonitas. Mas ele ficou de vir buscá-las e eu não estou disposta a devolvê-las, pois já me afeiçoei a elas. O que você me diz?
- Ora, mulher! Não estou te entendendo! Você nunca teve essas vaidades... por que isso agora?
- É que são joias tão maravilhosas...
- Podem até ser, mas não são suas! Precisa entregá-las ao dono!
- Mas eu não consigo aceitar a ideia de perdê-las...
- Ninguém perde o que não possui. Retê-las seria o mesmo que roubar! Agora venha, vamos devolver essas joias, agora mesmo.
A mulher suspirou.
- Pois bem, amado esposo, seja feito como você falou. Essas joias, na verdade, já foram devolvidas; as joias eram nossos filhos. Aquele que um dia nos confiou essas joias veio buscá-las; eles morreram.
Como única resposta, o homem abraçou sua mulher e, juntos, derramaram copiosas lágrimas. Sem revolta e sem desespero. 
Seja quem for teu ente querido, deves lembrar que ele está ao teu lado apenas por um tempo; um dia, talvez em breve, essa preciosa joia te será tirada. Você simplesmente deve aceitar, com gratidão e de boa vontade, essa realidade.

Texto de Richard Simonetti - adaptação de Marcos Aguiar.

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