TATO DE MÃE





Um menino, com alguns versinhos à mão, entrou correndo pela porta do quarto dos pais, ansioso pra que ouvissem seu recém-criado poema. Encontrou-os, todavia, numa discussão acirrada a respeito de um assunto qualquer. 
O pequeno ficou ali, ao lado, quase invisível, tentando chamar para si a atenção. 
- Pai, mãe, vejam o que escrevi!
Repetiu o apelo algumas vezes, falando cada vez mais alto; mas a balbúrdia no aposento tornou-se quase insuportável. Ninguém se entendia e todos queriam ser ouvidos.
O pai, repentinamente, já sem paciência, tomou a folha de papel das mãos do garoto, amassou-a com força e gritou: 
- Já não expliquei que agora não posso?
E atirou o papelzinho amassado na lixeira mais próxima.
O pobre menino ficou sem chão e repleto de lágrimas.
Mais tarde, a mãe, que não ficara satisfeita com a cena, cheia de compaixão, foi ter com o filho.
Ele havia recuperado sua criação - agora uma folhinha toda enrugada. Tinha um semblante emocionado e condoído.
- Filho... foi você quem escreveu este poema?
O garoto, ainda cabisbaixo, sinalizou com a cabeça que sim.
- Que coisa mais linda! Você é um poeta, meu filho! Você é um poeta! 
E o abraçou com aquele carinho característico de toda mãe.
A partir daquele dia, o pequeno resolveu definitivamente ser poeta o que só foi possível devido à sensibilidade e apoio de sua mãe, como ele testemunharia anos mais tarde.
E foi assim que o mundo pôde conhecer a arte e inspiração de Pablo Neruda (1904-1973).

Autoria anônima - adaptação de Marcos Aguiar. 

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