UMA VIDA, DUAS VIDAS, UM SORRISO




Quem não lembra da obra "O Pequeno Príncipe"? Seu autor, Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), participou da guerra civil na Espanha, ao lado dos que lutavam pela preservação da democracia.
Certa feita, ele caiu nas mãos dos adversários, sendo preso e condenado à morte. Na noite anterior à sua execução, foi despido e jogado em uma cela miserável.
O guarda que o vigiava era muito jovem mas, por certo, já havia executado muitos prisioneiros e parecia não ter sentimentos. Seu semblante era completamente frio. Tinha ordens para alvejar e matar qualquer fugitivo. 
A altas horas da madrugada, Exupéry tentou puxar conversa com ele. Afinal, tinha poucas horas de vida e achou que não seria nada demais dialogar; mas o guarda permanecia mudo. Ainda assim, Antoine sorriu para ele - um sorriso com um misto de pavor e ansiedade. 
Exupéry arriscou de novo:
- Você é pai?
A resposta foi um leve movimento de cabeça, afirmativo.
- Eu também - prosseguiu o prisioneiro - Só que há uma enorme diferença entre nós dois. Amanhã, a esta hora, estarei morto; você estará em casa com seu filho. Meus filhos não têm culpa de eu estar aqui. Mesmo assim, nunca mais poderei abraçá-los. Então, meu amigo, te peço: na hora em que você for abraçar o seu filho, diga a ele que o ama.
E continuou:
- Com este trabalho você ganha para manter sua família, não é?
O guarda se mantinha impassível, quase como um cadáver em pé. 
Exupéry completou: 
- Enfim, diga ao seu filho o que eu não mais poderei dizer aos meus.
Saint notou que, além dos seus, os olhos do guarda também lacrimejavam. Ele parecia ter despertado de sua frieza, mesmo sem pronunciar uma única palavra.
Tomou a chave mestra e abriu o cadeado externo. Com outra chave abriu a lingueta. Fez correr o metal enferrujado, abriu a porta da cela e fez sinal a Saint, que saiu apressado e depois correu, saindo da fortaleza.
O jovem soldado lhe apontou a direção das montanhas para que ele fugisse; deu-lhe as costas e voltou para dentro.
Aquele moço, com certeza, foi condenado por permitir a fuga do prisioneiro.
Antoine retornou à França e escreveu uma página inesquecível: "Uma Vida, Duas Vidas, Um Sorriso".

Texto de Divaldo Pereira Franco - adaptação de Marcos Aguiar. 

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