O PREÇO DA DEFICIÊNCIA

 

Um homem de meia idade tinha enormes cicatrizes no rosto e eram tão salientes que lhe deformavam a face. Em qualquer lugar que ele comparecia, as pessoas ficavam chocadas com a sua aparência. Além disso era paraplégico e cadeirante.

Seu filho tinha muita vergonha da condição do pai, e cresceu tentando esconder isso.

Não convidava os amigos à sua casa e nem fazia questão que o pai participasse de reuniões e festividades da escola, sempre arrumando uma desculpa para isso.

Mas um dia o rapaz contraiu uma gripe forte e faltou à aula. Justo nesse dia, a professora passou uma tarefa importante e como os colegas do rapaz deram pela falta dele, resolveram visitá-lo sem avisar.

Quando chegaram e viram aquele homem de aparência horrível, ficaram surpresos e o colega doente, mais ainda.

- Não se incomodem comigo; sei que sou bonitão! - disse, bem humorado, o homem.

Logo os garotos perceberam algo bom e diferente naquele homem, apesar de mutilado.

Enquanto faziam o trabalho escolar, tiveram algumas dúvidas e pediram ajuda ao homem, que prontamente os auxiliou com sua impressionante cultura (pois lia mais de um livro por semana).

Pouco antes de irem embora, um deles fez uma pergunta "fatal":

- Por que o senhor está nessa condição? O que a causou?

O filho ficou embaraçado, pois o pai nunca havia lhe contado o porquê; sempre evitava tocar no assunto. Então, o homem resolveu aproveitar a oportunidade para contar sua história:

- Quando o meu filho e colega de vocês ainda era um bebê, fizemos uma viagem e nos hospedamos num hotel. Eu precisei sair e deixei meu filho com a babá. Quando retornei, ao final da tarde, vi com horror o hotel que estava em chamas. Desesperado, avancei pelo meio do fogo e consegui localizar e resgatar o meu filho; a babá acabou morrendo sob os escombros, mas meu filho estava seguro, embaixo de uma mesa. No exato momento em que entreguei meu bebê ao bombeiro, uma viga caiu sobre mim, jogando-me ao chão, e as labaredas provocaram sérias queimaduras no meu rosto.

O filho e até os colegas estavam chorando a esta altura do relato. E o homem concluiu:

- A vida de meu filho era mais importante que a minha. Eu poderia até morrer, mas não antes de lutar para salvá-lo. Estas cicatrizes em meu rosto e minha deficiência são sinais do meu amor por ele. Filho, não te contei isto antes pra que você não se sentisse culpado e pudesse crescer sem traumas.

O rapaz chorou ainda mais, pois compreendeu que fora injusto por ter escondido seu herói por tantos anos. Entendeu que deveria conhecer, amar e curtir mais o seu amado pai, enquanto ainda tinha tempo.

Augusto Cury - texto adaptado.