AS DUAS FACES
Dizem que Leonardo da Vinci (1452-1519), enquanto pintava a "A Última Ceia", deparou-se com uma dificuldade: precisava encontrar um modelo para o bem (Jesus) e outro para o mal (Judas Iscariotes). Interrompeu o trabalho e saiu à procura dos modelos ideais.
Certo dia, enquanto observava um coral, distinguiu, entre os coristas, o rosto perfeito para o seu Cristo. Convicto disso, imediatamente reproduziu os traços do belo rapaz em esboços.
Depois de três anos a pintura estava quase pronta, mas Leonardo ainda não havia encontrado um modelo para o discípulo traidor.
Então, um dia, deparou-se com um jovem prematuramente envelhecido pelos vícios, bêbado, esfarrapado e jogado à sarjeta. Contudo, apesar da decadente aparência, havia nele alguma coisa que revelava uma alma outrora nobre.
"Finalmente encontrei o meu Judas!", pensou Leonardo com satisfação.
Levou o maltrapilho ao ateliê e se pôs a copiar todas as linhas daquele rosto deplorável.
Quando Leonardo concluiu o esboço, o jovem, já um pouco refeito da embriaguez, reparou na pintura à sua frente.
- Já vi este quadro antes! - exclamou, num misto de tristeza e espanto.
- Quando? - indagou Da Vinci.
- Há três anos, antes de me aventurar numa vida errante e de más companhias e perder tudo o que tinha; numa época em que eu cantava num coral e vivia uma existência inocente e feliz. Foi quando você me convidou para posar como modelo para a face de Jesus!
O Bem e o Mal são lados da mesma moeda. Com qual desses lados você procura expressar sua vida?
Texto de Rony Lima - adaptação de Marcos Aguiar.
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