A PRIMEIRA RÚPIA



Há muitos anos, no Paquistão, vivia um mercador chamado Krivá que tinha um único filho, Samuya.
Krivá era um homem honrado e gozava de alto prestígio na comunidade, enquanto que o jovem Samuya era leviano e de péssima reputação. Era rara a semana em que ele não causasse baderna no vilarejo, para desgosto do pai.
Uma tarde, Krivá chamou o filho para uma conversa.
- Samuya, saiba que tenho pleno conhecimento de tudo que você tem feito por aí. Então pretendo te deserdar, sem direito a nada, pois você certamente desperdiçaria toda a riqueza que acumulei em anos de trabalho honesto.
E, ante o olhar atônito do filho, Krivá acrescentou:
- Contudo vou te dar uma última chance de me provar que é digno da herança: terá que conseguir uma rúpia (a moeda paquistanesa) por esforço próprio, no prazo de três dias. Somente assim te manterei meu herdeiro.
Sabendo que o pai era inflexível, Samuya ficou apreensivo. Foi ter com os amigos que lhe emprestaram uma rúpia e o instruíram a mentir para o pai.
No dia seguinte, à tardinha, Samuya entregou ao pai a rúpia, dizendo que a ganhara trabalhando.
- Mentiroso. Não foi com trabalho que você conseguiu isto! - disse Krivá, atirando ao fogo a moeda.
Pego na mentira, o filho nada falou.
Na tarde seguinte, outra vez influenciado pelos amigos, Samuya apresentou-se ao pai com a roupa desalinhada e suja, com a aparência de quem trabalhou o dia inteiro, trazendo outra rúpia emprestada.
Krivá mais uma vez acusou-o de mentira e arremessou a segunda rúpia ao fogo. Samuya saiu em silêncio.
No dia seguinte, após refletir sobre suas mentiras, o jovem resolveu procurar trabalho. Passou a manhã inteira na colheita e depois na olaria, à tarde, recebendo, com isso, sua primeira rúpia.
Ao pôr do sol foi ter com o pai - completamente esgotado, mas com a consciência tranquila por ter realmente trabalhado.
Ao pegar a terceira rúpia, Krivá disse:
- Mais uma vez você mente! Vou jogar no fogo esta rúpia também!
- Não, meu pai! Essa rúpia é fruto do meu trabalho! Não é justo que a atire ao fogo! - protestou o filho.
Krivá então sorriu.
- Agora, sim, filho. Me provou sua honestidade por sua indignação, pois deu valor ao dinheiro que ganhou por esforço próprio, ao contrário das vezes anteriores.

Texto de Malba Tahan - adaptação de Marcos Aguiar.

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