PAGANDO O SORVETE



Um menino e seu pai costumavam passear todo sábado. Nesses passeios, paravam às vezes na sorveteria, porém sempre de forma imprevista; então o garoto nunca tinha certeza de que iriam até lá. Mas esperava, ansioso, que o pai enveredasse por aquele trajeto decisivo - a esquina que era sinônimo de agradáveis momentos refrescantes.
O pai, por vezes, tomava um caminho mais longo, alegando que era pra variar. Era como um jogo, em que ele parecia testar a atenção do filho.
Quando chegavam na dita esquina, o pai falava:
- Quer um sorvete de casquinha?
- Claro, pai! Quero sim!
Saboreavam devagar a delícia gelada até alcançar o carro, estacionado no outro lado da rua. Para o menino, aquilo era o paraíso. 
Um dia, quando o garoto aceitou mais um convite para o sorvete, o pai sugeriu:
- Que tal você pagar desta vez?
A cabeça do menino começou a girar. Dois sorvetes custavam um pouco menos que sua mesada semanal; ele tinha o dinheiro, mas queria economizar. Ponderou que sorvete não era investimento. 
- Bom, pai, nesse caso deixa pra lá. Não vamos tomar sorvete hoje.
Ele se arrependeria de ter dito isso.
- Tudo bem - respondeu simplesmente o pai, voltando para o carro.
No caminho, o garoto reconheceu como tinha sido mesquinho e se sentiu muito mal por isso. Ele perdera a conta de quantas vezes o pai lhe pagara um sorvete; como ele pôde desperdiçar aquela chance de retribuir a bondade paterna?
Sugeriu que voltassem, mas o pai aparentemente não o ouviu. O garoto foi se sentindo cada vez mais péssimo por ter sido tão ingrato.
Aquela foi uma semana tão ruim que custou passar. O garoto refletiu amargamente sobre o erro que cometera.
No sábado seguinte, ele fez questão de convidar o pai para tomar sorvete.
- Pode deixar, pai: eu pago!
O pai, consciente de tudo, sorriu, conduzindo o veículo à sorveteria. O garoto aprendera a lição. 
A generosidade é uma via de mão dupla. Todo aquele que tem bom coração compreende que gentileza gera, naturalmente, mais gentileza.

Texto de Randal Jones - adaptação de Marcos Aguiar.

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