O SONHO DE XINRAN



- Qual é seu sonho?
A pergunta surpreendeu a jornalista chinesa Xinran (1958-) naquele evento, na Austrália. Residente na Inglaterra desde 1997, levou consigo uma bagagem emocional de quatro décadas difíceis na China.
Ela viveu os dias da revolução cultural em seu país. Atuou como jornalista, servindo-se das ondas do rádio, quando a censura ditava as regras do que poderia ou não ser dito.
Em Londres, fundou uma ONG destinada a auxiliar órfãos chineses e estreitar a compreensão entre o Ocidente e a China.
Portanto, a resposta de Xinran foi:
- Ser filha!
- Mas, obviamente, você nasceu; então deve ser filha de alguém!
Sim, Xinran tinha mãe biológica. Entretanto, criada no seio de uma cultura tradicional, viveu levantes políticos brutais quando criança. Sua mãe e ela viveram num meio no qual os laços afetivos familiares não eram considerados importantes. 
Consequentemente, não houve uma ocasião sequer em que sua mãe lhe dissesse que a amava ou que a tenha abraçado.
Assim, ao final do evento, ao chegar ao estacionamento, havia, junto ao seu veículo, uma fila de mulheres de cabelos prateados. Estavam ali para lhe dar um abraço materno, uma a uma. 
Mesmo profundamente agradecida, Xinran continuou a sentir o vazio de nunca ter sido abraçada pela própria mãe.
Posteriormente retornou à China, em visita, e extravasou o seu coração.
Como desejava ser afagada! Ela era adulta, mulher realizada e mãe. Entretanto, ainda desejava ser filha.
Apesar de tudo, nada aconteceu. Na rigidez com que fora educada, sua mãe não se comoveu e não disse uma palavra. 
E assim Xinran voltou à Inglaterra sem sentir o calor do abraço materno.
Para todo filho equilibrado e sensível, o afeto de sua mãe será sempre importante. Porque "segurança" e "mãe" são sinônimos.

Autoria anônima - adaptação de Marcos Aguiar. 

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