DE POSSE DO FOGO



No início dos tempos, apenas os urubus-reis possuíam o fogo. Muito avarentos, nunca cediam sua preciosidade e os índios não tinham como fazer uso da chama. Quando queriam comer carne, só lhes restava expô-la longamente ao sol.
Mas, certo dia, o mais destemido entre os índios resolveu se apossar do fogo e compartilhou seu plano com os demais:
- Vamos matar uma anta para atrair os urubus. Quando descerem à terra, roubamos o fogo que eles carregam.
Colocaram a anta em uma clareira e ficaram escondidos na mata.
Não demorou muito e os urubus, atraídos pelo fedor da carniça, desceram sobre a anta. Naquele tempo os urubus falavam:
- Viva, temos hoje um farto banquete! Vamos lá, companheiros, há carniça para todos!
Os urubus também tinham o dom de se transformar em humanos; assim, antes de acenderem o fogo para assar o animal que iam comer, eles retiraram suas asas, como se fosse uma capa, e fizeram um círculo para se deliciar com o banquete.
Enquanto comiam, os índios saíram da mata, prestes a se apoderar do fogo que ardia.
- Depressa! Apanhem um tição! - gritou o velho pajé.
Mas os urubus, ouvindo o alvoroço dos índios, jogaram terra sobre o fogo, vestiram seus mantos negros de penas e levantaram voo.
O pajé correu até à grelha e, ao remexer, encontrou um último caquinho de carvão, ainda incandescente.
- Aqui! Aqui! - gritou - Vamos, assoprem, não deixem apagar! 
Quinze bocas cercaram o carvãozinho e começaram a assoprá-lo, até que o fogo ardeu novamente.
A partir desse dia, a tribo dos tembés passou a ser a detentora do fogo.

Lenda indígena - adaptação de Marcos Aguiar. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

ABANDONADA

O PEQUENO HERÓI HOLANDÊS

UM "NÃO" PARA O SILVIO