A SOLUÇÃO QUE VEIO DO CÉU



Nos tempos antigos, a vida na Terra era muito difícil. As pessoas não tinham o que comer, então se viravam com lagartas, raízes ou qualquer coisa que encontrassem no mato. Não existiam frutas e ninguém sabia plantar.
Certo dia, um índio faminto perambulava pela mata quando foi surpreendido por uma chuva muito forte. Ele se escondeu embaixo de uma árvore e ficou acocorado esperando o temporal passar.
Quando estiou e ele se levantou, ouviu uma voz:
- Ei!
Levantando a cabeça, viu uma índia sentada em um galho. Ele achou aquilo muito estranho, principalmente pela aparência da índia - rechonchuda e muito bonita.
- Quem é você? Nunca a vi por aqui! - disse ele. 
- Desci do céu, junto com a chuva!
- Como?
- É verdade! Cansei de viver lá.
O índio a ajudou a descer e sentiu de imediato uma forte afeição por ela.
- Venha comigo para a aldeia - disse ele.
Quando chegaram à aldeia, os outros índios souberam do ocorrido e ficaram impressionados com o aspecto da desconhecida; chamaram-na então de "filha do céu".
A filha do céu aceitou casar com aquele índio. No entanto, apesar da felicidade, logo ela começou a sentir os efeitos da penúria, emagrecendo bastante.
- Isto não pode continuar assim. Vou voltar para o céu e trazer de lá algumas sementes.
- Mas como conseguiria voltar pra lá? - indagou o marido.
- Ora, eu dou um jeito! Venha comigo!
Atravessaram a mata até encontrar uma árvore com galhos resistentes e flexíveis.
- Esta é perfeita! - disse ela, começando a escalar o tronco - O que está esperando? Suba comigo! 
Os dois chegaram ao galho mais alto, que vergou até atingir o chão.
- Agora desça do galho! - disse ela.
- Mas você pode se machucar! 
- Ah, que bobagem! - retrucou ela, empurrando-o para fora do galho.
Quando o índio caiu, o galho catapultou a jovem para o alto, num impulso espantoso, fazendo-a desaparecer entre nuvens.
Passou-se um tempo. No primeiro temporal, o índio retornou à mata, pois sabia que a chuva traria de volta a sua amada. 
Ele a encontrou pendurada em outra árvore.
- Me ajude, isto aqui está pesado! - gritou ela, atirando um enorme saco cheio de sementes e depois descendo da árvore. 
Então ela ensinou o marido a roçar e semear. Não demorou muito e começou a surgir uma extensa plantação de milho, além de grandes tubérculos arrancados de dentro do solo, aos quais chamou de batata, inhame e mandioca.
Os dois, muito felizes, compartilharam a novidade aos demais aldeões e, a partir dali, a fome deixou de afligir os kaiapós.

Lenda indígena - adaptação de Marcos Aguiar. 

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