SEGUNDA CHANCE




Na França do século dezoito, viveu um homem chamado Jean Valjean. Passou boa parte da juventude na prisão e lá embruteceu o espírito, acostumando-se a ser tratado como uma fera indomável. 
Anos depois, após cumprir sua pena, foi posto em liberdade e recebeu um documento no qual se mencionava que ele era um ex-detento perigoso.
Na realidade, seu único crime fora ter quebrado uma janela e roubado um pão para alimentar os filhos de sua falecida irmã, que estavam sob seus cuidados.
Embora livre, seu futuro era incerto.
Vagava entre um vilarejo e outro até que, numa noite, atreveu-se a bater à porta de uma casa onde morava um homem muito piedoso.
Um senhor de expressão bondosa e serena o atendeu e, sem fazer perguntas, o convidou a entrar e comer. 
Valjean estava surpreso com tão amistosa recepção e hospitalidade. 
Seu anfitrião era ninguém menos que o bispo monsenhor local. Era assim que ele tratava qualquer criatura que viesse procurá-lo, não importando a hora ou circunstância.
Embora ainda receoso, Valjean comeu e aceitou o convite para passar a noite ali. Porém, na madrugada, ele abandonou o vilarejo às pressas, carregando um pequeno embrulho, com muito remorso e medo.
Traindo a confiança e a bondade do bispo, Valjean havia lhe roubado os talheres de prata.
Na manhã seguinte, entretanto, foi capturado por guardas e levado à presença do bispo, pois, tendo sido pego com aquela prataria, alegou tê-las recebido de presente do próprio bispo.
O bispo recebeu-os com tranquilidade, dizendo:
- Está tudo bem; soltem o rapaz. Eu dei a ele os talheres. E ainda lhe dei os castiçais, mas ele saiu com tanta pressa que os esqueceu!
Os guardas, espantados, partiram, deixando Valjean com o bispo. Este, sem demora, entregou a Valjean os castiçais que mencionara.
Diante disso, o mísero ex-condenado, arrependido e envergonhado, quis devolver ao bispo todos os objetos, mas este, olhando-o bem nos olhos, disse:
- Jean Valjean, venda toda essa prata e empregue o dinheiro no esforço de tornar-se um homem de bem.
Assim Valjean partiu, sem jamais esquecer aquela promessa que, embora não tenha saído dos próprios lábios, guiou seus passos pelo resto da vida. 

Do livro "Os Miseráveis", de Victor Hugo - adaptação de Marcos Aguiar.

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